quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O MUNDO COM SABOR A OUTONO

O MUNDO COM SABOR A OUTONO

Ainda é Setembro e no sonho desta madrugada
O cão da vizinha ladra e arrasta a trela no cimento da garganta escondida
Os degraus do pequeno prédio são o toque da alvorada
Tiros em salva ladrados em correria
Uma espécie neuronal de enxaqueca e poesia
Por dentro da casa há uma melodia perdida
Queria o verso com sabor a Setembro e a silêncio demorado
E despertar no aroma dos últimos figos embrenhados numa cáspite a sibilar
Folhas caídas de palavras desconjuntadas
Sono veneno a romper do olhar
O tempo ostracizado da manhã poética
Um aroma de café e marmelos em latidos a correr
A porta aberta das depressões outonais
A alma em altares de prazer
A dúvida em preces carnais
O mundo com sabor a outono
Um cão vadio sem dono
Atravessa os dias com o mesmo cheiro
Talvez profundo e inteiro
O sono evadido num ladrar sonolento
Volte do Verão com vontade de dormir
E a cama com rodas e voadora
Disperse em musicalidade sensível o sentir
O som dos olhos arregalados
A estranha intimidade dos versos esfarrapados
Quando o cão que não foi à rua
Escreve o verso arranhando
Um barulho de endoidecer
A alma dorida e nua
Do outonal tempo caminhando
No poema com um travo a marmelada
A pornografia dos sentidos por escrever
...
musa

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