domingo, 29 de abril de 2018

SOPRO DE SILÊNCIO

SOPRO DE SILÊNCIO

Quem és tu a esmaecer
Tão indigo azul no alto mar
Melancólico e triste entardecer
Anjo alado no horizonte a naufragar

Sopro de silêncio a esvoaçar maresia
Aroma salgado em mar profundidade
Um bando de nuvens em tons de poesia
O vento a murmurar prece de saudade

Um grito de amor súplica loucura
O azul silêncio da íntima solidão
Ou as asas do teu beijo de ternura

Efémero canto tão doce e profundo
Sopra-lhe o desespero da canção
A eterna desventura deste mundo
musa

quarta-feira, 25 de abril de 2018

TANTO TARDAR DESTE ABRIL

TANTO TARDAR DESTE ABRIL

Prometeram o pão a paz e a liberdade
E os cânticos evadidos das prisões
Prometeram fugaz a breve docilidade
O sangue bramindo seio dos corações

A tarde prometida num filho desejado
Livre o amor o beijo e as mãos dadas
O desejo há tanto tempo assim calado
De palavras escondidas amordaçadas

Proféticos ventos a saudar cravos pela rua
À alma de mentiras num canhão por disparar
Como se a poesia a deixasse assim tão nua

Fome medo frio martírio que goza esta humanidade
E traz flores e cânticos e uma revolução no seu olhar
Tanto tardar deste Abril de dores solidão e saudade
musa

DEVOLVO-TE ABRIL


DEVOLUÇÃO DE ABRIL


Devolvo-te Abril
Meu pais
De tantos meses por cumpir
De tantas vezes sem sentir
O chão onde feliz
Pudesse existir
E mesmo as armas caladas
As sombras e as silhuetas
O silêncio das borboletas
No sonho das palavras aladas
Em voos sem fingir
A fuga dos amordaçados
A resiliência dos condenados
O medo a ferir
Um cravo estropiado
Nas pedras da rua ao recolher
E o grito agoniado
Do homem que está a sofrer
A luta da desigualdade
A pobreza inocentada
O desgosto de viver
Uma existência sem nada
O pão e a liberdade
À tanto tempo prometida
Esta íntima verdade
Às vezes esquecida
E apenas contada
Em versos da vida
Devolvo-te Abril e os cravos vermelhos
Devolvo-te as canções e os versos de intervenção
Devolvo-te as crianças os jovens e os velhos
Devolvo-te os adultos que sangram esta nação
Devolvo-te as lágrimas sem as chorar
E para além do meu olhar
Do país assim devolvido
Os meses a duvidar
Deste Abril prometido
musa

VIOLETAS DE ABRIL

VIOLETAS DE ABRIL

Violetas de Abril

Outrora cravos
De um vermelho vivo
A contar os centavos
Enlaçados em baionetas
A flor do sentido
Na boca dos poetas
O verso rendido
À boca de canhões
E tanques na rua
E na boca dos homens
Gritos e pregões
A palavra nua
E hoje nas janelas da memória  
Floridas violetas
Que agora a liberdade
Dos homens ou a tua
Um tempo de memória
A florir num Abril de outra cor
Um tempo de saudade
Talvez o sabor
De um Abril sem idade
...
musa

domingo, 15 de abril de 2018

PODE DIZER-ME A SENHA

Pode dizer-me a senha?

Nos cafés, nos autocarros, nos comboios, no banco do jardim
Há vales, prados, campinas, floresta
Há clareiras luminosas de cetim
E a vida parece uma festa

E se eu te emprestasse o meu olhar
Podes dizer-me a senha, por favor?
Abre os teus olhos e deixa-me entrar

Ainda que na natureza 
A folhagem da vida
Tímida na incerteza
Dúbio despertar
A árvore o peito
Um vale escondido
Um recanto esquecido
O lugar perfeito
Do sexto sentido

A cédula da memória
O cais perdido
Vale para além da história
Ou da eternidade
A senha inglória
Temerosa cumplicidade
Lágrimas desfeitas
Lembranças imperfeitas
Senha da intimidade
Sem saber o que dizer
Contar ou escrever
A chave da saudade
...
musa