domingo, 4 de dezembro de 2016

PRESENTE - de Teresa Teixeira


PRESENTE
(Hoje, para a Ana)

Pego em palavras
Arranjo-as numa espécie de bouquet
(ou música de Brel)
Quem sabe, um poema

Depois, enfeito-as com papel  bonito
Aperto tudo com um laço bleu
(parfum de Chanel)
Hum, cheira a alfazema...!?

Não sei porquê!...
São só palavras
que arranjei...

Bem, na verdade
dentro das palavras
coloquei:

. chilreios de passarinhos
. um frasquinho de brisa de trás-os-montes
. tinta de pintar o sol-pôr
. pinguinhos de mar, colhidos na primeira onda da manhã em que nasceste
. um livrinho antigo do Sto António, com o Menino em cima
. coro de anjinhos recém-nascidos
. uma cartinha que te enviou o Principezinho  de Saint-Exupéry quando fizeste anos, há muito tempo
. sonhos de todas as cores
. um Tratado de  Amizade
. um livro inteirinho por escrever
. uma capa fofa com abraços dentro
. pozinhos de perlimpimpim
. 51 lamparinas mágicas
(para pedires 3 desejos
ao mago de cada uma delas)

Olha, acho que pus também
o poema que senti

Mas não digas a ninguém
É só pra ti.

Teresa Teixeira


DESPEDIDA DOS MEUS CINQUENTA ANOS

“Que ninguém
hoje me diga nada.

Que ninguém venha abrir a minha mágoa,
esta dor sem nome
que eu desconheço donde vem
e o que me diz.
É mágoa.
Talvez seja um começo de amor.
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao mundo.

Pode ser tudo isso, ou nada disso.
Mas não afirmo.
As palavras viriam revelar-me tudo.
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê.”

Fernando Namora


DESPEDIDA DOS MEUS CINQUENTA ANOS

Tenho cinquenta anos
E o que vivi
Amores e desamores que senti
Os mais secretos e sensíveis estranhos
Dias intermináveis de enamoramento
Às vezes a branco e negro
Ou o deslumbramento colorido
O sossego e o medo
O dividido sentimento
A loucura do sentido
Por tudo o que fui e por tudo o que perdi
Confesso paixões feitiços gozos encantamentos
Sim as perdas e os ganhos
Foi por isso que existi
Mulher de tais pensamentos
E agradeço à vida
O amor maior
Sentir e ser
Essa brevidade sentida
Ávido honor
Viver
musa 


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

AMOR SILÊNCIO

AMOR SILÊNCIO

Este amor silêncio na pedra escrito
Com gotas de chuva perfurando
A pele de pranto e grito
As lágrimas tristes de quem amando

Chora amargurada desilusão
Que lhe corrói o ser
De saudade e solidão
Na intimidade do prazer

E queima e arde o fogo acendido
De impossibilidade existir
Sendo apenas o único sentido

De viver para alimentar chamas de paixão
Que a vontade morre a consentir
A morte na alma do coração
...
musa

PRIMAVERA DO AMOR

PRIMAVERA DO AMOR

Tumulei o desejo
Selei a vontade
As mãos aguilhoei-as de silêncio
Hibernei a intimidade
Até à Primavera meu amor
Não saberei mais esperar-te este Inverno
A tremura do tempo enregelou o sentir
Fragmentada a dor
Degelou sem ferir
O medo eterno
De um dia te perder
Para sempre
Loucura

Até à Primavera meu amor
Quando húmidas as fontes
Voltarem a ser doçura de lágrimas
E as mãos como pontes
Passagens de beijos
Da ponta dos dedos
Aos lábios sequiosos
E nos teus olhos florirem segredos
E mil desejos
E cintilarem preciosos
Os pirilampos da noite no teu corpo adormecida
E o aroma da tua pele com fluidos de poesia
Libertar o perfume da vida
Silvestres sentidos e o sal da maresia

Até à Primavera meu amor
Porque agora com este frio
Demorarei a esperar-te
No umbral da angustia esteio sombrio
O corpo estuário rio
Transborda margens de tristeza
Na foz da incerteza
A gélida estação
Petrifica a tua mão
Fossilizado sentimento
Em profundo lamento
Sedimenta bem no fundo do coração
A Primavera do Amor
...
musa

LÁGRIMA

LÁGRIMA

Partiu
Da Babilónia do silêncio
O tempo ruiu
Cansado e triste
Dos corredores do riso
As mãos em elos
Do umbral espanto
A lágrima luz resiste
O pó dançante
Luminoso impreciso
O desencanto
No final juizo
Em dois riscos paralelos
Afiado insiste
Ser pranto
...
musa

AMOR

AMOR

Amor

Palavra fenecida
Tortura
Ternura
Tecida

Talvez a seda da vida
A teia prisioneira
Onde a dor escondida
Obsidia e ateia
A trama sentida
Da desilusão

O fio condutor
Da viva paixão
Que suplica querer
De amor
Fogo do coração
Alma incandescente
Ardente sabor

Todo corpo consente
Queima e arde
Sem se ver
E até pode acontecer
Rio que invade
Olhar de pranto
Tal é o desencanto
Que apetece morrer
musa