Mulheres
de carnes esgrimidas pela intimidade da cambraia fina...
Castrados
sentidos em mãos veladas
Medo
pudor resignação que o poder domina
Vontades
de silêncio aguilhoadas
Em
proibida sedução
Casta
pureza de matriz virtuosa
Ousada
beleza de atitude jocosa
Déspota
amor de perdição
Cortesia
do frémito desejo
Em
permissivo colo excitação
No
rasto furtivo de um beijo
Na
pele macia da luva da mão
...
musa
A
cara de espanto do Camilo, perguntando quem é esta? Esta figura não representa
o que o Camilo apreciava nas mulheres do Porto:
- partilhei um pequeno trabalho sobre o Largo
do Amor de Perdição - "Ela (Camilo Castelo Branco)
Aí
temos a mulher do Porto, de 1850, a heroína de tantos romances, a causadora de
tantas loucuras, a inspiradora de tantos poetas.
Engana-se
quem a supuser etérea, franzina, pálida, clorótica, olheirenta e triste. Não
tem nada disso. Pelo contrário. É abundante em carnes, boas cores e alegria.
Não tem a “espiritualidade das magras”, mas nem por isso é menos bela. Não tem
“a transparência ascética das virgens”, mas é exuberante nas formas rotundas e
sadias das Vénus pagãs.
“A
mulher do Porto, como ela era há quinze anos, estava por adelgaçar, gozava de
cores ricas de bom sangue; era redonda e brunida em toas as suas formas; o
ofegar do seu peito comprimido pelas barbas do colete era a oscilação de uma
cratera, que vai romper à superfície; dardejava com os olhos; ria francamente
com os lábios inteiros; deixava ver o esmalte dos dentes e o rosado das
gengivas; meneava os braços com toda a pujança dos seus músculos reforçados;
pisava com gentil desenvoltura; dizia com toda a lisura as suas primeiras
impressões; ria-se com os chistes dos galãs que tinham graça; ouvia
sentimentalmente as tristezas dos cépticos; doidejava nas vertigens da valsa;
bebia o seu cálice de vinho do Porto; comia com angélico despejo uma dezena de
sandwichs; tornava para as danças com redobrado ardor; e, ao repontar da manhã,
quando as flores da cabeça lhe caíam murchas, e as tranças da madeixa se
empastavam com o suor da testa, a mulher do Porto era ainda mais formosa, mais
formosa ainda pelo cansaço, a disputar lindeza à aurora, que nascera para lhe
disputar a beleza”.
Passados
alguns anos é que veio a moda de beber vinagre para emagrecer e as Elviras
tornaram-se de tal modo cloróticas e delambidas que faziam pena.
TUDO
ISTO PARA QUÊ?
Para
dizerem ao Mestre Francisco Simões que se enganou no modelo à época.
(Texto
transcrito da página 146 do “O Porto do Romantismo de Artur Magalhães Basto)
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