quarta-feira, 13 de agosto de 2008

SEARA ÂNSIA

São parcas as palavras nesta distãncia de volúpia antiga
Querer seara ânsia em flor num fogo de Agosto
Tocar a tua pele dorida com a lança de uma espiga
Beber do teu suor qual morno ardente mosto
Amar-te entre cheiros silvestres papoilas trigo e o encantamento das cigarras
Despir diante de ti minhas vestes e entregar-me na ânsia das tuas garras
Gato selvagem rompendo ondulante
Por entre o trigo queimado de tórrido sol amante
Delirante caça atrevida em labirinto fechado
Entre a morte e a vida
Caçando a presa amedrontada
Inquietantemente seguida
Num campo de trigo e de joio entrelaçado
Encurralada na seara alta e loira de ponta em espiga é papoila em flor
Cada ramo maduro é viga haste que sustenta esse amor
Delimita seu chão em cio duro que afasta a presa apaixonada
Deixando seu odor correndo como um rio na terra rasgada
Sagrado vaza da sua fonte a ferver
Excitada inflamada agitada
Mel de entranhas por prazer
De mil desejos cruxificada
Até morrer
Entregue aos gemidos extenuantes de acre e fel
Abrindo seu monte em espasmos perdidos
Abandonada
Seara dossel
Eis que no encontro fatal toda a seara se agita
Em sussurros sentidos
E desse grito imortal a fera em seus braços se fica
Nesses momentos vividos
De fel e mel

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