na oculta sombra onde te sinto sou só a floresta virgem de tudo /
fica o silêncio meditado no longe que trouxeste do negro mar /
onde uma razão cambaleante se embrenha no insólito absurdo /
fica o vazio procurado perto das clareiras límpidas a fumegar /
todas as folhas secas pelo chão massacradas de passos já feridos /
todas as húmidas gotas da solidão a humedecer como sentidos /
e o corpo a proferir sentenças a largar amarras de todo o seu ser /
a deixar por terra as desavenças como manto de flores a florescer /
fresco húmus dessa beleza meiga onde eu me deito até morrer /
vaza de mim seiva de tormentos e toda esta vontade de tudo querer /
como se toda a alma fosse feita de momentos e o corpo só de prazer /
como se a carne fosse terra chão duro de sentimentos e eu coração /
como se toda a minha vida fosse gritos raiva incontida e sedução /
fosse na floresta raiz espiritual que clama a vida tão conturbada /
folha apenas pelo chão seca desfeita migalhas de vida feita nada /
esvaída sangue linfa putrefacta esmorecida numa natureza morta /
desfolhada de todos os sentidos em pétalas de mágoas e tristeza /
rasgados todos os nervos cortados os pulsos a pele dura e a aorta /
apetece-me fugir largar tudo abandonar-me sim com toda certeza /
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