Vou contar-te um segredo mas não digas nada
Quando a noite desce clara sou gazela à solta
Vivo escondida e triste na floresta encantada
Vai-me procurar brilhante lua que te envolta
Nada temas e nem digas o que te diz meu segredo
Se olhares a clareira enevoada aí me encontrarás
Quieta e mansinha de olhar meigo de muito medo
Depois desse longo caminho que da tua vida farás
Nessa clareira eu vivo o meu destino disperso
Aninhada espero dentro da toca meu abrigo
Sou a gazela à solta como palavras em verso
À guarda das intempéries da caça e do perigo
Destino que te pede implora me venhas libertar
Rompas clareira à luz da lua em fúria e ousadia
Descobrindo o meu segredo que é este versejar
Gazela solta do medo por esta encantada poesia
Escuta na escuridão apinhada de silêncio e grito
Inferno que se solta abrigo dessa imensa solidão
Vou estar lá num poema sublinhado e a negrito
Emboscada de negra bruma sublimada de ilusão
Escuridão só minha em meus lábios a tremer
Gazela que tu procuras com seu olhar de sal
Corres a floresta louco sem saber o que fazer
Procurando o seu choro por sentir tanto mal
Na floresta escura ébria sem sentido clandestino
Vai pisando devagar essas folhas secas pelo chão
À procura de mim gazela guardando o teu destino
Como se fora ela a rosa desabrochando em botão
Mas a estranha floresta onde vivo é quimera
Perdida do tempo que não tem em mim lugar
Nunca tive Verão Outono Inverno Primavera
Sou apenas solitária gazela que se deita ao luar
Serão meus leves passos estações da tua sina
Quando choro lamento toda mágoa em gritos
Dor que fere tristeza e que num canto desatina
Espaço de duro silêncio que amarro de conflitos
Na húmida terra vou deixando meus passos
Gravados todos os lamentos de gazela ferida
E das folhas soltas eu vou desfazendo os laços
Que me têm atada à secreta noite desta vida
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