domingo, 29 de novembro de 2015

PRECE NEGRAL

Quando eu morrer
Sejam as minhas cinzas raízes
De horas sombrias infelizes
No chão que me viu nascer
Espalhem nas junto ao carvalho NEGRAL
Nas lágrimas sede do rio Tuela
Gotas de orvalho suspensas na janela
Abraços do vento em frio carnal
E a nuvem que passar diante da janela
Dêem lhe as cinzas que restarem
No vaso barro do meu chão
As cinzas raízes que ficarem
Lágrimas do carvalho solidão
No monte entre fraguas à beira rio
Onde o tempo fugidio
Seja altar de oração
E se faça perpétuo eterno
De raízes cinzas de sentidos
Agreste abraço do inferno
Por tais caminhos perdidos
Pela mão de Deus e do demo
E os ventos espalhem a prece
Nas margens árvores erguidas
Paraíso da loucura
A luz da alvorada que verso esmaece
A luz do entardecer que sentir desfalece
As folhas das árvores despidas
Não mais do que o sonho desventura
As minhas cinzas perdidas
Raízes de ternura
...

musa

MANHÃ

MANHÃ

A primeira luz
Tépida frialdade
Morna claridade
A manhã seduz

Vestida de entardecer
Despe pelo chão a madrugada
Ungida de sol a nascer

Rompe as horas do amanhecer
Traz da noite a escuridão
A luminosidade rasgada
De estrelas pelo chão
E a lua amanhecida
Um traço feito pela mão
De luz e frio tecida
Na manhã bordada
Um fio fino clarão
A ponto cheio
Assim sentida
De sol pelo meio
Assim acordada
Amanhece a vida
Assim tingida
Da clara alvorada
Acontecida
...

musa — em Praia da Granja.

PEDRA

PEDRA

O teu abraço manso
A pedra sentida
O descanso
O cansaço
A ferida

Dura a pedra do peito
A saudade vertida
Rochedo desfeito
Em abraços do vento
Transparência da vida

A erosão do sentir
São assim os teus abraços
Pedras duras por partir
O chão dos meus passos
A solidão de existir
Rocha sentida
Desilusão

Um esboço a carvão
A silhueta dos sentidos
Esquivos fugidios furtivos
Os ossos liquefeitos
Os riscos imperfeitos
O desenho à mão
A tela a fingir
A alma rochedo
O fundo a medo
O corpo a esgrimir
Sombras no papel
Em dura mater luz
Rochosa pele
Doce fel

Meiga dureza
A treva seduz
A uma única certeza
O homem conduz
...

musa

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

CÂNTICO NEGRO

Uma morte é uma tragédia, 130 mortos não são uma estatística: mural e memorial das vítimas.

Paris, 13 de Novembro de 2015

CÂNTICO NEGRO
Tremia todo o indivisível olhar
Como sobre as dunas do deserto
As balas sobre os corpos a ondular
Em trajecto perdido e incerto
Em rajadas precisas para matar
Quem ousasse estar por perto

E os corpos tombados no chão
Manchando de silencio aturdido
O grito abafando o sentido
A Kalashnikov na mão

E negros vultos dançando
E negros cânticos entoando
E negros tiros disparando

A melodia bélica canção
E por terra os corpos tombando
E por terra o sangue manchando
As pedras frias do chão

Os olhos fechados sem saber
Sem nunca entender a razão
Da dança negra até morrer
A vida que se apaga em escuridão

E negro cântico arrasta a madrugada
E negro sonho assim desfeito
E negra a dor assim aliviada
A vida que se apaga uma bala no peito

E negra a raiva de quem tudo vê
E nos braços a vida estremece
E canta e embale a prece
Do deus em quem não crê
Incrédulo com o que acontece
A vida que nos braços desfalece
Fechando nos olhos o porquê
...
musa

IMOLADA RAZÃO

IMOLADA RAZÃO
Na garra da vida
A destruição
Tem unhas a dor
Sangra a ferida
Imolada razão
O corte do amor
Sacrificada
Sentida
Solidão

Se fosse somente o sacrifício
Mais não houvera que perdoar
A vingança já se tornou vicío
E a imolação o gosto de matar

Aos olhos da humanidade
Ergue-se insano altar
De suma infelicidade
Felino holocausto
Persegue olhar
Verte desigualdade
O sonho fausto
De toda a nação
Sacrificada a sofrer
Essa irmandade
Sofreguidão
A morrer
...

musa

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

VALA DE VERSOS

Palavras das trincheiras da alma
Em húmidas lágrimas do peito
A terra toda em vala de versos
O poema de tiros desfeito
A bala de gritos dispersos
O silêncio a calma
A morte o leito
E nada se salva

No sulco do poema imperfeito
O projéctil rima dos sentidos
Rasga com dor e defeito
A poesia dos gemidos
E sangra amor
Do verso a bala
Do sangue a cor
Do medo a fala
A raiva que ninguém cala
Os tiros perdidos
Os versos feridos
Os olhos vencidos
A desilusão indolor

As balas do torpor
Os homens que tombam no chão
As valas que se abrem à mão
Um dia o verso será flor
...

musa

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

INESPERADA

Na escuridão
A luz chegou
Inesperada
O cabrão
Apunhalou
Metralhada
Uma nação
Europeia
Rompeu
A teia
Iluminada
A chama incendiada
Negra e feia
Mordeu de dor
A vida
Tombou no chão
O ódio o mal o terror
Pela bala perdida
Desse cabrão
E desesperada
Em sangue escorre
Na boca de cena
Pálida serena
A humanidade morre
Inesperada
...

musa

TERROR

TERROR
O rosto do medo lívido ensanguentado
Tem uma bala acesa no peito
Diante do palco iluminado
A música pesada embala no leito
Da escuridão dormente
O sonho desfeito
De tanta gente
A mão assassina pressiona o gatilho
Mata cobardemente de forma indiferente
Nem um grito nem um choro nem um canto
Pelas ruas o sangue marca o trilho
Mas pedras frias um olhar inocente
Desanimo desencanto
Sem luz sem brilho
Sem vida
A noite é águia de terror
Devora em pranto
Enfurecida
Rasga a alma de dor
De uma cidade ferida
...

musa

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

VIDA OU AZAR

VIDA OU AZAR
Treze de uma sexta-feira
A vida ou o azar
Sem eira nem beira
Hei-de ganhar
A sorte
Ainda que a morte
Venha atrás
Já tanto faz
Pois temos que morrer
Ainda que para isso tenhamos que viver
Vivos de sentidos
Sonho ou ilusão
Azarados ou perdidos
Afortunados ou maldição
O numero ou o dia
A semana ou tempo
Azar ou sorte essa magia
Que cruza nosso caminho
Morrer de vida o destino
Que a morte nos confia
...

musa

SOMBRA DA LUZ

SOMBRA DA LUZ
A minha musa estará lá vigilante
Dando colo ao meu eterno descanso
A luz difusa como um beijo de amante
Suave doce morno saudoso e manso

Protectora guardiã do meu sentir
Deusa das sombras eternidade luz
Gravado silêncio grito meu sorrir
Na pedra d'ançã petrifica e seduz

A morte beldade e movimento esplendor
Como aconchegante ternura abraço
No rosto sombreado o riso alegre da dor

Uma lágrima de luz humedecida
Talvez a saudade em moribundo cansaço
Ou somente o ultimo passo da vida
...
musa

TERNURA - FAZES ANOS - para o António


FAZES ANOS

Fazes anos de um poema por escrever
Na tua vida que eu vejo por inventar
Das vezes que não sei dizer
O que esconde o meu olhar

A vida é um presente com um laço
Tem do vento a melodia
E dos dias que te tenho o abraço
Que nunca demos um dia

Tempo este que beija de loucura
As palavras de silêncio e voz
O afecto que trazes em doçura
Repartido entre nós

Fazes anos e nada tenho para te oferecer
Mas guardo de ti o melhor e nais doce presente
Um dia ensinaste-me a prece e o amor de viver
A vida que dentro de mim a dor consente

E deixas-me assim agradecida
A cada teu aniversário
Sou eu que celebro a vida
E desfio as contas deste rosário
...

musa

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

NÃO SEI SE É TARDE SE É DO VENTO - RIP Exmo. Sr. Vereador da Cultura da Câmara do Porto Dr. Paulo Cunha e Silva

NÃO SEI SE É TARDE SE É DO VENTO

Não sei mais o que pensar da vida
Não sei se é tarde se é do vento
A manhã assim amanhecida
Pranto entristecida lamento
Pela morte acontecida
Dá que pensar sim
Triste desolada
Feita de nada
A vida
O fim
Cavaleiro andante
Já de partida
Com lágrimas ao entardecer
A morte fulminante
Leva os sonhos para longe
Faz desaparecer
Em minutos de magia
O sol a luz o dia nas mãos do monge
E o vento e a maresia
Perfumam o rio
Na sua última caminhada
O olhar desolado e sombrio
Da minha cidade
Fica uma rosa perfumada
A lembrar da felicidade
Que no caixão vai fechada
...

musa

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

MEDITANDO

MEDITANDO

Fecho os olhos e toco-te de silêncio
Busco o teu pensar em mim
Esplendor sentir intenso
No olhar assim
São só uns olhos azuis de cor
Esse mar no teu olhar
Imensidão sem fim
Tristeza e amor
Meditando
Até naufragar
Em cada lágrima uma prece
No rosto altar dos sentidos
Onde a vida acontece
De sonhos desprendidos
E a saudade se tece
De azul e pranto
E desfalece
Encanto
E as liras entoam melodia
De luz e espanto
E maresia
E vento
Em meiga contemplação
Um sussurro um lamento
Um voto divino
Em silenciada orientação
Sinto que me sentes
No rumo da paixão
No destino
De bondade consentes
A ilusão
De viver
Invocando o pensamento
Tocamo-nos a escrever
O poema sentimento
Sentimo-nos sem nada dizer
Em viagem meditada
Na paz transcendental
A poesia invocada
O prazer carnal
Vida espiritual
Amada
...

musa