sábado, 25 de maio de 2013

CÚMPLICES DE MEMÓRIAS


CUMPLICES DE MEMÓRIAS
Há dias em que vem à memória o rastilho das lembranças ao saber de cor o teu contacto de telemóvel que fica a bailar no degrau dos lábios acesos pela chama rubra rosada do tom Chanel Rouge Coco nº 09 Organdi Rose baton, sabor a framboesas colhidas em manhã de orvalho pintada de uma aurora boreal com nuances de madrugada a despontar no sorriso da boca fechada a um silêncio por inventar.
Recordo a indecisão do teu sentir se seriam lábios de romã, morangos, cerejas ou outro fruto vermelho em tentação de pecado oferecido provocação por degustar, na sensualidade luz a raiar os nossos olhos ofuscando as palavras que os dois emudecíamos deixando silenciados sentidos tomar conta dos pensamentos que inventávamos em toque de pés por debaixo da mesa do café onde nos sentávamos esperando que os nossos sentimentos falassem do tempo e discutissem sobre como se formavam as ondas do mar e de quantas vagas se fazia uma praia ou quantas aterravam no areal à nossa frente.
Voltei vezes sem conta ao mesmo lugar e sempre sorria quando olhava à minha volta e procurava pernas e pés em cumplicidade por debaixo da mesa, atendendo ao mesmo pedido que me havias feito da mesma forma que se pede um beijo, envergonhando olhar e bocas, lá estavam quatro pernas e quatro pés num toque e foge de timidez e atrevimento, roçando a insustentável leveza de provocado consentimento e sensual sentir do encantamento, afagando palavras mudas dentro do peito e palavras surdas dentro da alma, dizias-me na urgência do amanhã que o sol ainda estava por nascer esperando a ponta do meu pé deslizando na tua perna raiando tremuras e vibrações lentas como sonoridades de flauta hipnotizando a cobra desde o tornozelo até ao joelho, num arrepio de fazer corar todos os frutos vermelhos da natureza, e em silente sussurro deixar o gesto transformar-se num ocaso em plena madrugada acabada de despontar ainda em tons rosados sobre o azul céu desmaiado de tímida inquietação. Eramos tu e eu e o resto das pernas e pés que nos rodeavam não sei se descalços se calçados, se com meias ou pés nus, o chão desaparecia aos nossos pés e nos sentíamos uns adolescentes com idade para saber que os frutos maduros se não forem colhidos acabam por cair ao chão ou apodrecem nos ramos da árvore da vida.
Talvez um dia descubramos a sensação de ser outra vez adolescentes com vontade de crescer e poder fazer coisas de adultos.
Há uma mesa de café que espera pela dança das nossas pernas e pés para perpetuar a mágica recordação de um instante de loucura a dois.
musa

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