CUMPLICES
DE MEMÓRIAS
Há dias
em que vem à memória o rastilho das lembranças ao saber de cor o teu contacto
de telemóvel que fica a bailar no degrau dos lábios acesos pela chama rubra rosada
do tom Chanel Rouge Coco nº 09 Organdi Rose baton, sabor a framboesas colhidas
em manhã de orvalho pintada de uma aurora boreal com nuances de madrugada a
despontar no sorriso da boca fechada a um silêncio por inventar.
Recordo a
indecisão do teu sentir se seriam lábios de romã, morangos, cerejas ou outro
fruto vermelho em tentação de pecado oferecido provocação por degustar, na
sensualidade luz a raiar os nossos olhos ofuscando as palavras que os dois emudecíamos
deixando silenciados sentidos tomar conta dos pensamentos que inventávamos em
toque de pés por debaixo da mesa do café onde nos sentávamos esperando que os
nossos sentimentos falassem do tempo e discutissem sobre como se formavam as
ondas do mar e de quantas vagas se fazia uma praia ou quantas aterravam no
areal à nossa frente.
Voltei vezes
sem conta ao mesmo lugar e sempre sorria quando olhava à minha volta e
procurava pernas e pés em cumplicidade por debaixo da mesa, atendendo ao mesmo
pedido que me havias feito da mesma forma que se pede um beijo, envergonhando
olhar e bocas, lá estavam quatro pernas e quatro pés num toque e foge de
timidez e atrevimento, roçando a insustentável leveza de provocado
consentimento e sensual sentir do encantamento, afagando palavras mudas dentro
do peito e palavras surdas dentro da alma, dizias-me na urgência do amanhã que
o sol ainda estava por nascer esperando a ponta do meu pé deslizando na tua perna
raiando tremuras e vibrações lentas como sonoridades de flauta hipnotizando a
cobra desde o tornozelo até ao joelho, num arrepio de fazer corar todos os
frutos vermelhos da natureza, e em silente sussurro deixar o gesto
transformar-se num ocaso em plena madrugada acabada de despontar ainda em tons
rosados sobre o azul céu desmaiado de tímida inquietação. Eramos tu e eu e o
resto das pernas e pés que nos rodeavam não sei se descalços se calçados, se
com meias ou pés nus, o chão desaparecia aos nossos pés e nos sentíamos uns
adolescentes com idade para saber que os frutos maduros se não forem colhidos
acabam por cair ao chão ou apodrecem nos ramos da árvore da vida.
Talvez um
dia descubramos a sensação de ser outra vez adolescentes com vontade de crescer
e poder fazer coisas de adultos.
Há uma
mesa de café que espera pela dança das nossas pernas e pés para perpetuar a
mágica recordação de um instante de loucura a dois.
…
musa
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