De todos os cantos do mundo
Amo
com um amor mais forte e mais profundo
Aquela
praia extasiada e nua,
Onde
me uni ao mar, ao vento e à lua.
Os
que avançam de frente para o mar
E
nele enterram como uma aguda faca
A
proa negra dos seus barcos
Vivem
de pouco pão e de luar
“Mas
nunca se sentem fartos”
“Sophia
de Mello Breyner Andresen”
1-Em
todos os portos do universo
Encalho
de saudade e nostalgia
Em
cada poema em cada verso
Me
enamoro mais da poesia
2-Amo
de amor forte e profundo
Gargantas
perdidas ser e sentir
E
desde que o mundo é mundo
Que
eu não me canso de repetir
3-Como
extasiada vivo ao segundo
Seio
das palavras possa repartir
Mar
de poemas onde me afundo
Náufraga
solidão possa consentir
4-Com
ela sigo proa de sentidos barcos
Nas
águas balanço ao sabor maresia
Tenho
olhos humedecidos e fartos
Deste
sal das lágrimas da poesia
5-Choro
canto em derramado rio
Que
na foz se faz ao mar
E
de inspiração preenche vazio
Em
estuário declamar
6-É
nas falésias pensamento
Em
cais de sentir suspirado
É
sal acumulado sentimento
Em
versos aportado
7-Redes
estendidas sobre areal
Gente
das palavras pouco entende
Força
que se ateia rude e braçal
O
que no poema apenas pretende
8-Mar
palavras de pouco sustento
Alimento
sentimental da poesia
Apenas
os poetas sentem o alento
No
verso fundo mar da fantasia
9-Suspiro
cada estrofe doce vaga
São
marés cheias e marés vazias
Tanto
desse azul que olhar guarda
Em
praias solitárias e sombrias
10-E
não me canso nunca de te cantar
Fonte
salgada de eloquente prazer
Tão
imenso este amor por ti oh! Mar
Amada
me sinto por assim te querer
11-Cada
grão de areia estendal sentido
Força
imensurável razão de vida
Trágico
naufrágio incompreendido
É
o doce momento da despedida
12-Serão
mais as areias do que os poetas
Mais
imenso o mar do que a poesia
Nada
como a intensidade que despertas
Quando
corre o rio da melancolia
13-Todas
as águas que recolhes em ti
E
dão-te o ser e a profundidade
Todas
as mágoas que já senti
E
dão-te o ser e a identidade
14-Oh!
Mar salgado de todas as penas
Mar
de rios caminhos e destinos
Mar
alterado que de ondas me acenas
Mar
de sonhos saudosos clandestinos
15-
Fico assim pasmada diante do azul
Que
nos olhos se enche de admiração
Perco-me
no sentir do norte e do sul
Tal
é esta minha incansável paixão
16-Mar
que emudece meu pranto olhar
Desfalece
cascos em águas quietas
Macios
abraços nas pranchas de surfar
Em
bolhas de sal aos olhos libertas
17-Identificaram-te
de Costa Verde
Mar
desordeiro de douradas dunas
Nele
espraio meu sentir e minha sede
Todo
salpicado de misteriosas runas
18-Mar
de berços de afamado sal
Salinas
de outros tempos Marinha
S.
Félix cantinho de Portugal
Que
agora faz parte da minha sina
19-
Paragens de encantado namorar
Mar
que de palavras tu me ensines
Do
choro das lágrimas transbordar
A
ponto que um dia ainda estimes
20-Não
sei se alcançável serei
Como
planetas ou as estrelas
Nunca
o universo almejei
Para
assim me comparar a elas
21-Mas
as palavras do mar o brilho
Ofusca
reclamada tentação
Seguir-lhe
atentamente o trilho
Que
me leve a essa sagração
22-Fazer
da poesia marítimo canto
Hino
de prece que de amor enaltece
Nobreza
do pensar ode pranto
Que
em palavras se tece
23-É
tão descomunal este mar de sentir
Que
às vezes naufrago dentro de mim
E
dou comigo sensata a concluir
Que
nem a morte trará meu fim
24-Surpreendida
capaz de outros desejos
Faço-me
ao mar de palavras em casca de noz
Deixo-me
embalar por murmúrios e beijos
Escuto-lhe
sussurros atendo-lhe a voz
25-Sei
que ele já foi de outas poetisas
Sei
como lhe foi rei em trono de sentir
Estendeu
seu manto consultou pitonisas
Foi
musa aclamando navegante existir
26-Mar
que da estranha vida devolvida
Secreto
bailado de sal e de espuma
Trazes
nos corpos a morte escondida
Das
ondas que arrastas uma a uma
27-De
praias extasiadas e nuas de luar
Espelho
de águas no verso humedecido
Todas
as noites bailam no soluçar
Das
pedras gastas de choro incontido
28-À
flor da água pétalas de claridade
Reluzem
de prata ao calor do sol doirado
Mesclam
de cores o azul tonalidade
O
mesmo anil do meu olhar enfeitiçado
29-Penas
de gaivotas pássaros de luz
Ecos
de fantasmas ou de outras almas
Este
mar sonoro que tanto me seduz
Que
quando calmo parece bater palmas
30-Nos
dias tempestuosos sinto-lhe o arfar
Gigantesca
crina que tomba de rompante
Qual
estro marinheiro em secreto bailar
Da
vaga poderosa sobre corpo do amante
31-Circulos
de luz metáforas geometrias
Vagas
que se soltam em espraiadas dunas
Arrasam
e arrastam areias em euforias
Ondas
armadas altos mastros de escunas
32-Ébria
sede amor palavra erotizada
Praia
a praia sacio-me de sensualidade
Comungo
do vento sol chuva amantizada
Em
ténue fusão de metafisica saudade
33-Sei-lhe
o amargo gosto no gume fugidio
Faca
com que corta o pão de marinheiros
O
quanto do desgosto no brilho luzidio
Dos
raios ao luar serenos traiçoeiros
34-Consagrado
às Nereidas ninfas do mar
Cabo
do verso mais profundo que o medo
Da
loucura fome de todo esse trespassar
Quando
a noite vigia o perigo em segredo
35-Mar
que sejas em mim fonte nascente
Para
lá de todos os horizontes percorridos
Ao
meu sangue acorre apenas um afluente
Que
leva na enchente todos meus sentidos
36-Tem
maré de alto e baixo sentir
Escarpas
molhadas liquénicos mantos
Concha
arroladas nacre duro vestir
Na
pele enfraquecida dos quebrantos
37-Mar
de intempéries leis do profano
Ergo-te
santo altar de sentidos ateus
Na
areia da praia deixo desejo insano
Terrena
consagração dos versos meus
38-Mar
Poesia caminho profundidade
Quanto
do teu sal são lágrimas doces
Ainda
que o berço de toda a saudade
Mel
dos meus olhos queria que fosses
39-
No destino dos homens marinheiros
Deitam-se
redes apanhando memórias
Todos
quantos já foram prisioneiros
De
sereias em muitas belas histórias
40-
Não sei dizer o tamanho desse amor
A
cada dia que lá vou encher meu olhar
Abro
os olhos que desabrocham a flor
Com
pétalas de um azul intenso mar
41-
Poderei morrer em terra no chão
Caída
qual flor que murcha ao tempo
Mas
à flor da água do mar na solidão
Esvoaçarei
penas da alma sentimento
42-
Mar que palpita doce quente tamanho
Veias
de sangue translucido maresia
Nesse
sentir imensidade tão estranho
Que
fica por dentro a soluçar nostalgia
43-
Praias de tantos lugares desencontradas
Areias
tão perdidas em fabulosos recantos
Marés
vagas e mansas de ondas reboladas
Como
choros sentidos melodiosos prantos
44-
Fora eu vaga nas tuas águas escondida
Bailando
areias finas de passos de danças
Ritmando
de paixão o tempo o ser e a vida
Menina
dançarina de espumosas tranças
45-
Sou apenas uma mulher digna do pensar
Com
portas azuis a uma alma prenhe loucura
Tenho
umas escadas que sempre levam ao mar
Todo
o pensamento que se faz dessa procura
46-
Procuro em ti oh! Mar procurei sim
Para
além de todo o sentir dessa espera
Todos
os anos vividos dentro de mim
A
cada tempestade a vida que desespera
…
musa
1 comentário:
Extraordinário trabalho poético....
Leio sempre com muita atenção as tuas publicações, embora não haja tempo para as comentar como mereciam. Na tua escrita é-me sempre marcante o léxico e a sua colocação frásica, além da versatilidade temática e formal.
É quase impossível visitar os lugares que gostaríamos, há as páginas pessoais, os grupos poéticos - que quase não tenho visitado -, os blogues (isto só para referir a parte literária...), daí as visitas serem, neste teu belíssimo cantinho, raras...
Bjo, amiga :)
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