Meu Pai
Os meus
sonhos
Sabem a
palavras
Temperados
de sentidos
Os meus
sonhos sabem a entendimento
Sabem a
instantes adormecidos
Fugaz tempo
de despreendimento
Com tempero
de sentimentos
Sabem a
pensamentos
Feitos de
amor
Sabem a
mel
Suave odor
Cheiros
Sabor
Pai
Um dia
ensinaste-me a sonhar
Adormecida
no teu regaço
Ouvindo canções
de embalar
No teu
colo o meu cansaço
A mão no
meu cabelo acarinhar
Num confortável
e terno abraço
Assim aprendi
o sabor do verbo amar
Como um
bando de aves a esvoaçar
Sabes Pai
A noite e
as estrelas têm o brilho do teu olhar
Têm a
poeira de tardes a beira-mar
Têm o
murmurar das folhas ao vento
Têm o
peso das nuvens aos pés
Têm o
tempo do tempo
Gaivotas pousadas
no convés
De uma
caravela do silêncio
E esse
nunca se cansar
De ter-te
a ti
Pai
Ter-te em
constelações de sonhos doces
Nebulosas
de vendavais de fantasias
Um dia
queria que fosses
A mais
doce das iguarias
O mais
doce sonho
Com pó de
açúcar e canela
Cheiro a
baunilha
Uma linda
caravela
Em rumo solitário
a uma ilha
Húmido como
as lágrimas quentes
Que rolam
na face da tristeza
E com o
avançar da idade tu já sentes
Essa meiga
e sensata certeza
De que
por mais que ensines a tua filha
Os sonhos
que se aprendem a sonhar
Mesmo aqueles
feitos de palavras
Temperados
de saudosas lágrimas
Um dia…
um dia terão que acabar
…
musa
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