Pois que já me tinhas deixado /
tão antes de me conheceres /
nunca antes procurado /
por um adeus sem sentido /
á espera de perceberes /
que o que eu senti foi tão duro /
incompreendido /
embalada até me adormeceres /
fiquei por aqui /
de encontro á multidão que me feria /
senti-te e sentia /
meus passos nesse chão tão inseguro /
e para me compreenderes /
apaguei-te de todos os lugares /
mas sem conseguir apagar-te do meu coração /
ainda insisti para tu me amares /
mesmo na insana loucura da razão /
chorei chorei tanto por ti /
choro ainda /
não aceito a tua perda dentro de mim /
a tua ausência finda /
o teu corpo a amar sem fim /
o teu querer que eu senti /
porque não hei-de eu ser banal /
igual a tantas outras /
tudo mas tão pouco o que vivi /
á mercê de fraquezas e de inseguranças /
serei assim tão irreal /
tão mundana puritana em horas loucas /
a querer contigo morrer minhas lembranças /
de um passado duro e natural /
porque sou mulher /
a ti já dei tudo de mim /
as horas agitadas e as horas mansas /
chama-me rebelde quando for preciso /
chama-me louca quando eu perder o juizo /
mas não me abandones agora que de ti já tenho tanto /
entranhada a saudade de um imenso amor /
que a deixares-me será só pranto /
será rasgo denso de dor fluente conciso /
choro de chuva nesta tarde em que te escrevo ferida /
e que em poesia te canto /
lágrimas misturadas com palavras de dor /
e um frio que corta /
a respiração /
e a morte rondando a vida /
fazendo doer o coração /
porque sem ti agora /
nada mais me importa /
nesta hora /
de solidão /
sentida
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