desta noite te dou o que veio até mim
os gritos da madrugada mansa
este negro que não tem mais fim
ferindo como uma lança /
o olhar dos felinos à solta rondando /
por telhados de insonolência
numa dança de palavras se soltando
e violinos mudos de involvência /
as cordas tangendo o prazer
a minha alma suspirando
sem ter mais nada pra fazer
só ficar nesta demência /
dar-se em palavras amando
de sentidos desprendidos
soltos da angústia do meu ser
tão dados e prometidos
que jamais posso morrer /
sem sentir esta tangência
entre o viver e o morrer /
e entre mim se ergue a dor
majestosa paliçada
tê-la no sangue é favor
tê-la na pele é nada /
tenho-a tão dentro da alma aberta
de todos que a vêm morar
tenho-a tão íntima e secreta
a quem a queira penetrar /
noite felina companheira
de tantos sonhos ardentes
cai-me o negro qual viseira
destes versos tão dementes /
sou felina por inteiro
rimas são meus telhados
este poema o primeiro
de muitos por mim caçados /
Sem comentários:
Enviar um comentário