Sonetos de uma tarde
OBSCURIDADE
Talvez a luz iluminando escuridão
Metade sombra a outra metade a vida
Talvez as trevas do mar da solidão
Esta sensível existência sofrida
Que a meiga obscuridade silencia
Rasto grito da falange humanidade
Onde o destino cumpre a ritualidade
Quando a desilusão breve se anuncia
Ou talvez se apague a claridade e o desalento
Com as sombras a espreitar o outro lado
Onde naufrago o olhar se perde no tempo
Queria eu romper a alva luz que atordoa
Na metade que divide o sombreado
Quando cega a vida e de amor lhe doa
...
musa
SILÊNCIO E DOR
Porque teima o teu silêncio em agonia
A medir forças com o meu sentir
Como se ausente pudesse existir
Da frialdade e obscura poesia
A sombra da memória a gritar de amor
Porque ainda é mais forte a melancolia
Que lhe dá raízes de tristeza e pura dor
E a faz mais doce e dócil a cada dia
Assim sendo de silêncio ausência e ingratidão
Talvez ela se apague de tanta saudade
E morra nos braços da meiga solidão
Em silente cansaço o desabrochar da flor
Pétala a pétala desnuda a intimidade
Silenciando a vida em todo o esplendor
...
musa
MAR E PEDRA
Cantantes as húmidas veias de pedra
Sangue de sal e sol a palpitar
Cortantes as areias no chão a escaldar
Pulsa vibrante o coração da terra
Um corpo azul imenso e profundo
Estende brancura espuma frialdade
Bate-lhe incerto desassossego do mundo
Vagas de luas a conspirar a eternidade
Ondas de cânticos a suspirar a maresia
Salgada a água das pedras a escorrer
Da mão os versos em sentida poesia
Mar e pedra em unificada simbiose
De tempo no areal por escrever
A química das palavras em azul osmose
...
musa
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