ABANDONO
Não quero asas
Nem pés alados
No voo nocturno
Do teu olhar
Ou a pele flutuante
Dos poros planados
Do voo rasante
Da tua mão
Ou o vibrar
Dos teus lábios
Na escuridão
A murmurar grito que silencio
No estremecer dos astrolábios
A fugir da direcção das palavras
Em desvario
Não quero a trepidação
Do teu cansaço
O bater de asas de um abraço
A bramir
Os teus olhos desfeitos de aço
De infinita dureza
Ínfima beleza
Por sentir
Não quero de vidro ou de papel
O avião soprado ao ouvido
A melodia ou o gemido
O gozo adiado
O doce ou o fel
O sentido
Da viagem da tua boca de amor
O paladar ou o odor
O engenho amarrotado
Na raiva das mãos enfurecidas
O nome confiado
Às memórias esquecidas
E endurecidas
Pela dor
Até morrer
Abandonado
O teu beijo
Ganha asas
De silêncio
Por dizer
...
musa
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