Forradas com papel encerado
Tal como nas muitas divisórias
Da casa que aluguei dentro de mim
Toda forrada de um sentir ilustrado
Sei que ainda sabes o colorido
Da forma que sentes o sentido
Cada caricia na textura
Trabalhada com ternura
O cheiro novo do papel
O odor da cola e do verniz
Como se vestisses uma alma pele
E com isso já te sentisses feliz
Esquecendo as esquinas esbotenadas
Da velha cómoda de madeira
Com fissuras esbranquiçadas
Mas tão elegante à sua maneira
Nas gavetas arrumadas
Que deixava entreabertas
Mostrando esse ilustrado sentir
As minhas memórias secretas
Assim escancaradas
Como se as estivesse a parir
E tão vaidosa que me sentia
Orgulhosa e habilidosa
Dava comigo a rir
Frente ao gavetão vazio
Acariciando o papel frio
Com os meus enredos
Na cómoda fantasia
Não sei se algum dia te falarei dos meus medos
Do que guardo em cada papel mudado
Dos meus sonhos e dos meus segredos
Que estão lá… no fundo desse gavetão fechado
…
musa
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