Para ti
Que um dia invadiste de amor a minha solidão
E pintaste a minha alma de luz e de vida
Roubando o desespero de insana razão
Trazendo a claridade que andava perdida
Jamais vou esquecer o meu pintor
Escritor e poeta, JYS ......................
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A Poesia, para além de um acto ontológico e de um processo de autognose, é essencialmente, um acto de coragem e de descompressão do espírito.
Escrever é, antes de mais, preencher as páginas vazias com o vazio da nossa alma, para a encher, deixar sair as penas da alma para a mão, através da escrita, é traduzir por palavras o que a voz muitas vezes silencia, são todos os pensamentos adormecidos nos confins secretos da mente iluminada pelo poder criador das palavras, à luz reveladora de uma espiritualidade emotiva, ruminada no mais profundo segredo da solidão. Ora, quem se dedica a esta difícil e sedutora tarefa de amanhar as tais palavras humedecidas, escorrendo sentidas da alma para a mão, é alguém que se distancia dos outros, pelo pensamento, mas conserva uma inabalável vontade de comunicar, dando-se pela escrita através da palavra.
Este livro “PENAS DA ALMA PARA A MÃO”, é o exemplo do mistério da Poesia e da vontade de revelação desse ocultismo pela desmistificação das palavras…nem sempre transparentes pela sombra que as envolve, tal a sombra que as “enformou”.
Apostando na essência e na transcendência, as penas da alma acabam por se comprometer num concluiu tal que servindo-se da mão, vão adensar o misticismo da obra, em vez de desdramatizar o significado da existência. A mão à procura, para além de um acto desesperado de encontrar alguém, transforma-se em revolta, desventura e cepticismo, para depois de escrever tudo o que lhe vai na alma, dar lugar à esperança e ao renascer, que só as palavras saídas do pensamento transcendente são capazes de renovar o desespero e o vazio gerado pela solidão, pela ausência de transparência dos sentidos, deixando contudo, surgir camuflada nas entrelinhas, uma força a indicar caminho e a mostrar que mais do que “sombra”, a alma é luz portadora de mensagens que só o poeta é capaz de ver e interpretar, dando-nos a conhecer essa via iniciática e sublime, em pedaços de memórias que cada poeta ao alinhavar as suas palavras, tenta recolher e reconstituir o seu Eu, usurpado da sua verdadeira identidade na sua forma mais simples e curta, acabando por ser um pronome com uma enorme responsabilidade nos nomes, dos outros e de si mesmo.
Portador de uma herança temporal e cognitiva, cada ser inscreve-se no Tempo Alma, desafiando-o nas várias direcções que as imagens vão pressionando e impelindo para a escrita e assim sendo, a palavra transforma-se numa arma de combate e num filtro de depuração de todas as penas sentenciadas pelo espírito no silêncio dos pensamentos. As impressões da alma resultam dessa vontade e de um querer que as lucubrações do espírito permitiram gravar…e o resto é produto da poesia.
Trata-se de uma espécie de enigma que se vai desfazendo pelo punho da mão e a alma acaba por suportar essa psicografia como auto-defesa da dor que as penas infligem no todo, pelos sentimentos silenciados por mágoas pessoais e intransmissíveis, dessa alma que não se quer calar, de todo esse inferno de sentidos, que quer parecer levar à morte.
Pela Poesia se ensina a viver e a procurar outras formas de vida…se não passássemos da busca das palavras, libertando as penas da alma pela mão, dando colo à escrita nestas páginas poéticas, certamente ficaríamos encarcerados num labirinto KafKiano, à espera…da morte. Mas a vida é o melhor dom de Deus!
“Penas Da Alma Para A Mão”…a interface do mistério da revelação.
Ana Bárbara de Santo António