Ao Antonio,
Um dia falaste-me do silêncio com
todas as coisas boas que havia para partilharmos, fizeste-me descobrir os sons
abafados da respiração perto do umbral dos teus sentidos, e passei ao teu lado
teias de sombras tricotadas de luz cintilando no sentir do teu carinho, como se
fossem rosetas trabalhadas no vidro de mil cores tecidas de gestos soprados nas
areias do pensamento e entre nós a arte silente de uma telepatia por descobrir.
Sabes que nesses momentos há obreiros da ilusão construindo sonhos com asas
para que um dia sejamos livres de voar nos sentimentos.
Aprendi contigo a ler nas sombras
as vontades ocultas do verbo moldado no teu olhar mudo, e na quietude inconstante
dos parágrafos repletos de reticências ensinaste-me a procurar a serenidade perpétua
das entrelinhas manchadas de hesitações sem que me fizesse nua uma só vez na
crueza das palavras alimentadas pela ilusão.
O tempo passa mas tu ficas com
esse silêncio carregado atrás de mim esperando… e dizes-me tantas e tantas
vezes, saberás tu esperar, saberei eu esperar-te, até que ganhes umas asas e eu
perca as minhas e no teu abraço aberto de todas essas penas os dois sintamos a
sublimação da espera traduzida de versos e emoções trancadas em sentimental
viver.
Tenho saudades do rio que fazias
do meu corpo frio sobre as pedras dos teus sonhos em nudez emotiva de águas de
loucura escorrendo das tuas mãos.
Há tantos eternos sentidos
enternecidos nas nossas palavras que não são minhas nem tuas e do silente
sofrer que deixamos na escrita feita das nossas peles embebecidas de suor e
saliva lavramos o tempo que nos faz amanhecido de madrugadas e noites em
solitária memória e na distância das mãos apartadas pela vida.
…
musa
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