Sabes que voltei de uma viagem que não queria nem poderia
deixar de fazer. Parti e levei comigo partes de nós feitas contigo em instantes
demorados na surpresa de te ter conhecido sem nada programado. Às vezes ainda
recordo a vaga que assolou à praia das minhas memórias, tombou enrolada num
fardo de sentidos como pequenas areias movediças onde se enterram os meus
segredos em secreto sentir do teu olhar. Humidade dos olhos semiabertos como um
horizonte alaranjado em tons de melancolia rompendo claridade em sombra luz num
espelho de vagas tombadas em sal de desejos e vontades. As ondas crivando sobre
esse mar do teu olhar perdido em profundidade de mim onde tenho as areias
espalhadas como alfinetes de cabeças brilhantes com pedras limadas de arco-íris
engastadas sobre metal amarelecido pelo calor dos sentimentos. No pensar que
gela no frio do imenso mar onde murmuram lembranças atravessadas de gritos
risos e lamentos sempre manchadas de lágrimas tão húmidas e geladas como
abraços da solidão em colo de silêncio aguado de pensamentos aferroados pela
mesquinha mania de guardar o que sempre esteve perdido para o tempo. Há um
redondo aberto como um coração sobre o mar frente a uma escadaria feita de
pedra onde o mar lava degraus de sentidos amornecendo recordações de feitos de
mãos e bocas saliva sémen e choro por dentro sem ter tido tempo de se fazer
paredão carregado de emoções amortecendo a dor da perda e do abandono em
infinito sobranceiro ao adiado sentido da existência mundana vilipendiada de
ondas abruptas e doloridas em frieza funda fútil de vagas promessas por
cumprir. É um lugar que não consigo esquecer. São pedras de algodão molhadas e
frias em novelos emaranhados de perda magoa e tristeza. Na escadaria humedecem
folhas soltas de areias sopradas pela força das vagas deixando cair maresia
orvalhada com perfume das profundezas do mar. Há a sombria luz tépida da
frialdade em riscos de espuma na orla das sensações entre humidade e secura dos
sentidos aprisionados no limbo das angústias. Sinto tanto e recordo menos do
que o que gostaria porque a dor da separação ainda persiste nas mãos do teu
cheiro entranhado nos sulcos gretados das lágrimas que limpei por negação do
sentir. Mordi por dentro em dentadas feitas de sonhos as palavras que sufoquei
ao chorar por ti sentindo saudades e sufocando as mesmas para não morrer no
esquecimento do teu nome e atirar pelas escadas frente ao mar a memória suja do
teu contentamento. Ainda saberei sofrer com sorrisos e lágrimas vertendo da
boca engasgada com o teu nome e a garganta engolindo o orgulho pranto a um
tempo ao mar.
…
musa
Praia da Granja, 25 de Abril 2013
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