NAS COXAS DA LIBERDADE
Na inocência das palavras havia versos por desflorar
Um corpo inteiro de portas cerradas
Havia gestos censurados e cadeias a abarrotar
No silêncio das esquinas as mulheres escondiam meninas
E tinham lágrimas no olhar
Nas bocas a fome eram seios mirrados
E nas mãos o medo talhado
Nas coxas sedas de cortinas
Nos pés sapatos esburacados
No ventre um filho desmanchado
As almas tombadas em ruínas
E o lápis vermelho dos cinco sentidos
Tão encarnado como a flor
Tão de sangue como a dor
Tão de negro como o murro
E ao longe o grito e o urro
E as crenças e os sonhos escondidos
A pressa de virar a liberdade
E as coxas oferecidas
No pousio dos becos da cidade
Nas ruas escuras das vidas
Tão duras tão intensas tão penosas
Cravos querendo ser rosas
Punhos cerrados nos espinhos
Abril florido a abrir caminhos
Homens desorientados e perdidos
Coxas cansadas de esperar
No tempo mensal da liberdade
Um cravo vermelho a escorrer
Que é tempo de libertar a saudade
E gozar entre as coxas o prazer
...
musa
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