quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Sonetos da MORTE - King Crimson " Fallen Angel"



MORTE DOR

Toquei-te os lábios fria e leve
A roçar-me os dedos no sepulcro
A saciar-me a alma de infinita sede
Na fonte estranha do oculto

Tive em mim teu rosto demorado
Por breves instantes do sentir
Como se a dor tivesse voltado
Na mais latente forma de existir

O teu cheiro de cera ardente
De flores mortas em eterno leito
No espelho olhar que vida consente

Forma cruel e feia solta pranto olhar
Ferindo desalmada dor no peito
Que a adaga da morte parece cravar
musa

CANTO DA MORTE

Não peço se não que a vida seja breve
Do corpo cansado mais nada temo
Angustia e pranto pesado e leve
Levado ao martírio insano extremo

Os dias que vivi são já defuntos
Em enterro de horas em campa rasa
Sobram-me meses que assim todos juntos
Sepultam a dor que do olhar se vaza

Estranha forma de vida que viver é morrendo
Nos braços abertos de infinito tempo
Do corpo moribundo a morte renascendo

Meiga morte enraizada no doce sentir
Que apelo sussurro canto parece o vento
Varrendo de frio inóspito partir
musa

SEDENTA MORTE

Tem ela chamamento sereno sombrio
Sinto-a roçar meiga apetecida
Como se vingasse esta sede de vazio
Que por dentro corrói profunda sentida

Apetece-me tanto tê-la dentro de mim
E vivê-la a sangrar inferno de sentidos
Canto prece encantamento oração do fim
Sedenta morte de pensamentos proibidos

Deixem-me ficar qual lua cheia de plena solidão
Vibrante pulsátil no sangue a escorrer
As veias do sentirem loucura excitação

Que sede arqueia trave do sentimento
Sustenta a vida que corre a morrer
Antes que a veia emudeça o pensamento

musa

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