sábado, 13 de outubro de 2012

DUETO com ALEXANDRE O’NEILL - HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM



"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca."

Palavras nuas despidas
Em nudez emudecida
Há palavras cruas sentidas
De uma dureza atrevida

"Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto."

Há palavras silenciadas
Em ruas de altos muros
Palavras tristes amarguradas
Por quelhas becos obscuros

"De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor."

Palavras de doidas cores
Em surpreendidas poesias
Há palavras multicolores
De inesperadas ousadias

"(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)"

Há palavras de água e pedra
Amolecendo ou endurecendo
Letra a letra que assim medra
Onde o sentir vai crescendo

"Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte."

Palavras de um só destino
De um amor silenciado
De um sentir tão pequenino
De um poema abraçado
anabarbarasantoantonio

“Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'”