terça-feira, 8 de novembro de 2011

RESPIRO-TE NO VIDRO

Olhei a vidraça
Tu já lá não estavas
No vidro embaciado como se fosse fumaça
Em gotas de chuva resvalavas
Friamente molhado

A janela fechada trazia o cheiro da terra humedecida
E da rua nada trespassava apenas o cheiro inventado
A vidraça cerrada encerrava a minha guarida
Dos vidros da janela o meu olhar embaciado
A chuva que pingava sobre a minha vida
Invenções húmidas do meu passado

Olhei a vidraça com o bafo da casa impregnado
Desenhadas silhuetas de fios de cabelos
Quando o meu olhar te viu lá fora parado
E com a ponta dos dedos deixei sê-los
Fios segurando doces marionetas
A cabeça encostada à janela
Imaginando borboletas
Numa vidraça aguarela

Olhei a vidraça
Tu já havias partido
E na minha alma baça
Já nada fazia sentido
Sem saber o que fazer
Nada tinha cor
Somente gotas a escorrer
Pelo vidro humedecido
O frio do meu amor
Cortava a respiração
Em gotas de chuva dor
Dizia-te na paixão
Respiro-te no vidro
Choro-te no coração
musa

2 comentários:

Sandra Louçano disse...

Fico sem palavra perante a poesia sublimada que verte da sua alma.

Deixo um beijo e a minha admiração :)

Ana Bárbara Santo António disse...

Grata imensamente Sandra...

A alma poética é uma partilha de inspiração em construções de sentir... pedra a pedra pena a pena entre castelos e pares de asas...

Admiração retribuída na sensibilidade do carinho da poesia...