A QUE CHEIRA A INFÂNCIA
A longos invernos
Gélidos rigorosos
Iluminados à lareira
Um fogo dançante
Risos e choros eternos
Olhos lacrimosos
Esgazeados pela candeia
Pálida bruxuleante
Uma sombra luzente
A rasgar a escuridão
E a lenha a crepitar
Como um regaço quente
Um afago de mão
Um abraço de olhar
E dos aromas floridos
As cores da Primavera
A tingir dos sentidos
Sensível quimera
Sonho arado
O cheiro da terra aquecida
Chão lavrado
Promessa de vida
No prado o gado
Na horta o forte aroma da rama
O perfume aguado
Lodo e lama
A folhagem do tomateiro
Pela janela filão luminoso coado
As folhas da figueira
De sentinela o sapo jardineiro
O rubro da cerejeira
O amarelo do limoeiro
O verde da seara
Cheira a feno derrubado
Grãos de trigo numa tiaraEm lâmina romba de foice
A sangrar os cereais
O tempo curto coice
Dias como punhais
De um Verão infernal
Aromas de todas as colheitas
O bucólico rio da videira
A paisagem outonal
As vinhas desfeitas
O mosto a escorrer
Nos lábios a tremer
Memória de vendavais
Chuva de recordações
Intenso viver
Ventos e pardais
Em perfumado sentir
A esvoaçar natais
Doces ilusões
Terno existir
...
musa
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