quarta-feira, 25 de abril de 2018

DEVOLVO-TE ABRIL


DEVOLUÇÃO DE ABRIL


Devolvo-te Abril
Meu pais
De tantos meses por cumpir
De tantas vezes sem sentir
O chão onde feliz
Pudesse existir
E mesmo as armas caladas
As sombras e as silhuetas
O silêncio das borboletas
No sonho das palavras aladas
Em voos sem fingir
A fuga dos amordaçados
A resiliência dos condenados
O medo a ferir
Um cravo estropiado
Nas pedras da rua ao recolher
E o grito agoniado
Do homem que está a sofrer
A luta da desigualdade
A pobreza inocentada
O desgosto de viver
Uma existência sem nada
O pão e a liberdade
À tanto tempo prometida
Esta íntima verdade
Às vezes esquecida
E apenas contada
Em versos da vida
Devolvo-te Abril e os cravos vermelhos
Devolvo-te as canções e os versos de intervenção
Devolvo-te as crianças os jovens e os velhos
Devolvo-te os adultos que sangram esta nação
Devolvo-te as lágrimas sem as chorar
E para além do meu olhar
Do país assim devolvido
Os meses a duvidar
Deste Abril prometido
musa

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