OLHAR O VENTO
Olhar o vento… lembras-te? – dizias-me que não se podia olhar
o vento.
Rima com esquecimento.
A vida prossegue a sua caminhada mesmo carregando pesados
fardos da memória arrasta as correntes do passado deixando marcas intemporais
aguilhoadas de esquecimento...
Fazendo do acontecido partes de uma história por contar com
fragmentos de silêncio e solidão como farpas de um vendaval destruidor de
sentimentos a roer dentro de nós o esquecimento.
Esquecer. As lembranças deixaram de ter passado e presente
somente porque se fez tarde reapareceram como saudades do que ficou dor.
Há carnais sentidos aflorando pensar dos instantes memorizados
voz e movimentos de mãos e imagens distorcidas de afetos presos no escuro
entorpecer da desilusão.
Há no vento estático olhar procurando palavras para remediar
porquês que nasceram de ausências roubadas pela distância imemorial.
Depois ficou o tempo a apagar as memórias que eternizadas por
palavras teimaram em renunciar ao esquecimento.
Reapareceram tomando um rosto do passado e renasceram as mesmas
palavras que estavam por lá esquecidas esperando a memória cativa do sentimento
adormecido.
Esquecimento rima com fingimento.
Dizias-me não poderás nunca olhar o vento. Sentia-te rasgando
a pele do rosto com gume de lágrimas em oração acreditando na prece dos dias
desfiados em saudoso sentir com contas de amargura e esperança.
E o vento fugidio deixou de sentir. Ficaram dias de espera
desgastados pela recordação em consentimento e esquecimento.
Há um vendaval de lembranças a querer fustigar de novo as
entranhas corroídas de espera. Não saberei mais olhar o vento.
…
musa
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