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"Quedo-me" aqui no meio das saudades...
Tenho saudade de subir as pedras limadas das escadas gastas de
passos de socos e pés descalços e sonhos deixados em pegadas na pedra fria do
tempo feito de sentidos com o tamanho das memórias guardadas na lembrança
longe.
Saudades de entender ranger soalhos de madeira carcomida com
cheiro a sabão de sebo e Omo azul, e olhos por onde se evaporam odores de
animais cansados do pó lavrado da terra e o pão sobre a mesa cheirando a lenha
dos espíritos da fornalha meiga com que se aquecem corações esfomeados e a água
da bilha com sabor a barro onde todas as estações ficam aprisionadas em férreo
gosto e "merujas" e onde se saciam lágrimas tombadas no calor dos
sentimentos e as mãos pousadas no regaço do pensar sem sentir que os dias comem
a pedra e o tempo.
Tenho saudades de um amor etéreo onde livradas rezas apaziguam
medos e crenças vingam pela pureza das tradições e num lar com alma morno
borralho acende ilusões como faúlhas de esperança a cada estação que muda as
vestes de uma aldeia perdida do interior transmontano onde me foi cortado o
cordão umbilical das palavras em meses de gestação.
Saudade de sentir a palavra na boca de analfabetos seres com
tamanha riqueza de sabedoria e sentimental amor sem o poder da escrita mas com
a oralidade pungente em brilho humanidade.
Às vezes volto lá... não sei o tempo que fico mas sinto-me ao
colo das memórias na sombra das lembranças com
cheiro a avó e olhares com quem privei uma infância em deslumbramento e
contentamento de quimeras feitas de pedaços e laços de sangue e sentidos.
...
musa
sou como um poema... um ventre de palavras num punhado de
sentidos que atiradas ao sentir e encavalitadas em metáforas formam a silhueta
de um verso vestido de rima solta com cheiro de poesia...
eu guardo os meus amores sempre em botão de sentidos e nesse
sentir vivo-os no seio das palavras desabrochadas com que me alimento de
poesia...
as memórias e do que delas faço fica um segredo no ninho das mãos fechadas em terna memória agarradas as saudades num abraço eterno de sentir...
musa
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