domingo, 24 de março de 2013

DE UM TEMPO DE SAUDADE


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"Quedo-me" aqui no meio das saudades...

Tenho saudade de subir as pedras limadas das escadas gastas de passos de socos e pés descalços e sonhos deixados em pegadas na pedra fria do tempo feito de sentidos com o tamanho das memórias guardadas na lembrança longe.
Saudades de entender ranger soalhos de madeira carcomida com cheiro a sabão de sebo e Omo azul, e olhos por onde se evaporam odores de animais cansados do pó lavrado da terra e o pão sobre a mesa cheirando a lenha dos espíritos da fornalha meiga com que se aquecem corações esfomeados e a água da bilha com sabor a barro onde todas as estações ficam aprisionadas em férreo gosto e "merujas" e onde se saciam lágrimas tombadas no calor dos sentimentos e as mãos pousadas no regaço do pensar sem sentir que os dias comem a pedra e o tempo.
Tenho saudades de um amor etéreo onde livradas rezas apaziguam medos e crenças vingam pela pureza das tradições e num lar com alma morno borralho acende ilusões como faúlhas de esperança a cada estação que muda as vestes de uma aldeia perdida do interior transmontano onde me foi cortado o cordão umbilical das palavras em meses de gestação.
Saudade de sentir a palavra na boca de analfabetos seres com tamanha riqueza de sabedoria e sentimental amor sem o poder da escrita mas com a oralidade pungente em brilho humanidade.
Às vezes volto lá... não sei o tempo que fico mas sinto-me ao colo das memórias na sombra das lembranças com  cheiro a avó e olhares com quem privei uma infância em deslumbramento e contentamento de quimeras feitas de pedaços e laços de sangue e sentidos.
...
musa

sou como um poema... um ventre de palavras num punhado de sentidos que atiradas ao sentir e encavalitadas em metáforas formam a silhueta de um verso vestido de rima solta com cheiro de poesia...
eu guardo os meus amores sempre em botão de sentidos e nesse sentir vivo-os no seio das palavras desabrochadas com que me alimento de poesia...
as memórias e do que delas faço fica um segredo no ninho das mãos fechadas em terna memória agarradas as saudades num abraço eterno de sentir...
musa

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