sábado, 3 de março de 2018

QUE NOS TIREM TUDO

"Que nos tirem tudo
mas nunca a poesia"

O mar bravio agitado
No excesso das metáforas
Agredido
Da ausência do sossego
Algo aturdido magoado
No paredão ruidoso e bravo
Parece um cão raivoso ferido
A espumar o medo
Despojado de tudo

Vejo-o e quase o sinto
Assim furioso e faminto
Entre soslaio desejo
E o barulhento instinto
A lamber as feridas
Por entre as rochas nuas
De saudades despidas
De ventos e de luas
E as estrelas que a bruma encobre
E o vaivém da água
Pranto que sobre
A palavra só uma
Tudo além da poesia
A húmida mágoa
Pó espuma
Não mais do que nostalgia
O verso nobre

Tudo para te dizer
Meu amor
À água flor
Sim

Ainda há o desejo
Com a poesia o escrever
Tudo mais é o fim
Se te não vejo
Até morrer


Tudo mais que resta
Este mar furibundo
Mar e terra
E tudo mais não presta
Que da areia seresta
O grito profundo
Encerra

Dos teus lábios
O beijo
Um fio de desejo
Pálido sentir

E toda esta agitação
Tanto ruído de vagas
Parecem ondas a ruir
Da tua boca a excitação
Das mãos aonde
Ainda guardas
Solidão

No peito do olhar
Mais terra do que mar
Onde afunde
Desilusão


Gritos e segredos
E este murmurar
Vagido silêncio
Tanto mar

Estendal de angústia
Profundidade de medos
As pedras lavradas
Um sem fim de sobressaltos
Águas revoltadas
Areias a escorrer entre os dedos
E dos precipícios mais altos
A espiritual litania
A bruma melancolia
Murmúrios segredos
As pedras tão molhadas
As lágrimas por esconder
Todo corpo a estremecer
E a noite um trovão
Um verso de poesia
O ritual escrever
Fantasia
Oração

O dia apressado nascer
A madrugada esfria
Gélida e vã
Prece
De sentidos
Se tece

Geme o mar a manhã
De luz translúcida tecida
Lá longe te conheci
Nos teus abraços amanhecida
Meus olhos fechados perdidos
De beijos na sede bebida
Raivas gritos feridos
Gota lágrima pranto
Dilúvio desencanto
Agitado viver
Da vida
Ainda senti
Perder
...
musa

"Que nos tirem tudo
mas nunca a poesia"

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