SER VELHO E DEMENTE
A velha roseira seca e mirrada
Há muito perdeu os botões da corda da vida
Os braços a pender ressequidos
Os anos perdidos
A terra esquecida abandonada
Adormece em segredo os sentidos
Sonhos de uma memória florida
Onde já não acontece nada
O tempo pétala inanimada
Desafia a alma em corpo fechada
Em delito a insanidade
Os olhos vítreos quase impuros
A querer agarrar a eternidade
Frágeis e inseguros
A escondida e cega razão
Os dias difíceis e duros
As portas escancaradas da solidão
E a luz que parece fugir
Para abraçar a escuridão
E esconder da vida o sentir
Táctil o medo de quem teme olhar
E dói e geme consentir
Velhice e demência
Na dócil inocência
O travo amargo de viver
A difícil escolha de partir
Entender e aceitar
A humana fragilidade
Ser velho e demente
E a rosa a fenecer
A dureza de acreditar
Que um dia a vida a idade
Se apaga num poente
Um fio de luminosidade
Ténue e triste a brilhar
...
musa
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