quinta-feira, 22 de junho de 2017

A TI FÉNIX AINDA

A TI FÉNIX AINDA

in memoriam de toda a fauna e flora ardida

Que lágrimas há de carvão
Nas labaredas que podem ser poesia
Ou o silêncio a incendiar de agonia
Esta mensagem treva luto escuridão
E pode sobreviver a esperança da vida
Uma palavra ainda em cinza voando
Verbos interrompidos de uma frase sentida
A tingir de negro e vastidão
Pode a exuberância do fogo crepitando
Dar-te as asas do infinito da poesia
O lume em substância o engodo
A lama quente a lava o negro lodo
Do voo mais alto deste dia
Podem as chamas subir aos céus
E as negras sombras rastejarem a copa dos pinheiros
Dançarem como damas pela mão de um deus
E os ventos serem carrascos prisioneiros
Lamentos em ascensão de versos meus
Serem gritos sombras da fauna selvagem
Da caixa de Pandora no segredo da floresta
Versos de vida a arder em miragem
E a testemunhar o que ainda resta
A lebre, a doninha, o veado, o javali
O lince, o coelho, o ouriço, o lobo
A raposa, a borboleta, o mocho logo ali
Penas sopros espirituais melancolias
Águias, falcões, milhafres, tentilhões
Cegonhas, pica-paus, garças, poupas, cotovias
Estorninhos, gaios, pegas, rouxinóis, pardais
Asas em fogo a esvoaçar assombrações
Podem as asas queimadas ser esquecidas
Sublimadas palavras de silêncio e fantasias
Ecos, bramidos, prantos, suspiros, ais
Das matas, do eucaliptal, dos pinhais
Negras cinzas e nada mais
Tristes sombrias
Da treva infinda
Podem ainda ser
Quero mesmo acreditar
Que deste viver
Sois Fénix ainda
A vibrar
Vidas

musa

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