A TI FÉNIX AINDA
in memoriam de toda a fauna e
flora ardida
Que lágrimas há de carvão
Nas labaredas que podem ser
poesia
Ou o silêncio a incendiar de
agonia
Esta mensagem treva luto
escuridão
E pode sobreviver a esperança da
vida
Uma palavra ainda em cinza voando
Verbos interrompidos de uma frase
sentida
A tingir de negro e vastidão
Pode a exuberância do fogo
crepitando
Dar-te as asas do infinito da
poesia
O lume em substância o engodo
A lama quente a lava o negro lodo
Do voo mais alto deste dia
Podem as chamas subir aos céus
E as negras sombras rastejarem a
copa dos pinheiros
Dançarem como damas pela mão de
um deus
E os ventos serem carrascos
prisioneiros
Lamentos em ascensão de versos
meus
Serem gritos sombras da fauna
selvagem
Da caixa de Pandora no segredo da
floresta
Versos de vida a arder em miragem
E a testemunhar o que ainda resta
A lebre, a doninha, o veado, o
javali
O lince, o coelho, o ouriço, o
lobo
A raposa, a borboleta, o mocho
logo ali
Penas sopros espirituais melancolias
Águias, falcões, milhafres,
tentilhões
Cegonhas, pica-paus, garças,
poupas, cotovias
Estorninhos, gaios, pegas,
rouxinóis, pardais
Asas em fogo a esvoaçar
assombrações
Podem as asas queimadas ser
esquecidas
Sublimadas palavras de silêncio e
fantasias
Ecos, bramidos, prantos,
suspiros, ais
Das matas, do eucaliptal, dos
pinhais
Negras cinzas e nada mais
Tristes sombrias
Da treva infinda
Podem ainda ser
Quero mesmo acreditar
Que deste viver
Sois Fénix ainda
A vibrar
Vidas
…
musa
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