POEMA PARA A ISABEL
Sentada à mesa diante da Grécia, o pão fresco e a caça
abrindo odores silvestres. Eram as tuas mãos a enxada
de labores e temperos, e os pratos cheios de poesia.
Querias ensinar-nos o canto dos paladares aprendidos
em livros antigos.
Havia nas chávenas debruadas a oiros antepassados, um colírio
de lágrimas tingidas de sonhos, marfinizadas por histórias ardendo
na alma em chamas, por um fogo a oscilar de lembranças,
e os olhos a teimar morrer as saudades.
A mesa o chão e as tuas mãos, e o húmido dia acinzentado,
parecia que os sentidos se deitavam com um entardecer
choroso para além da helénica civilização, e o gozo da boca,
a falante Castália inebriante, nascia das memórias e sabores
temperados de nostalgia. Sagrada a água que nascia,
saciando o sentir dos lábios em melancólica doçura.
E a dança dos líquidos fumegantes, o café, o chá, nas chávenas
de um oiro luminoso, traziam de palavras semeadas frutos
maduros colhidos no teu olhar, onde ainda se vê a mãe,
dos seus olhos a sorrir, pranto e prece,
a porcelana fina das chávenas com fio dourado
é uma oração de poético silêncio.
…
musa@ agradecendo um almoço de domingo, em casa da amiga Isabel.
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