Feita imensa pele de ritos
Na intensa saudade do passado
Adensa a vontade de ainda ser
Transverso avesso do outro lado
Onde sendo possa transparecer
Por já não ser nunca me canso
E se na vida ainda danço
Sinto os pés no chão
O corpo bem fincado
Cabeça e coração
Tudo bem colado
Doce sensação
Ser alado
Terei umas asas a esvoaçar-me o ser
Corpo emaranhado de chuva e ventania
Terei cabelos como cera a endurecer
Cintilante pluma em fantasia
Qual crina em pingos tombada
Pavio da vela a esmorecer
Da luz do ser apagada
O ser que se desprende e vai partir
Em hora que de mim estará ausente
Pois nesse instante eu não quero sentir
Que morta me despeço do presente
Voltarei como outras almas voltaram
Aquelas que palavras me trouxeram
E em poesia me dominaram
Em poemas tudo me deram
No verso tudo me deixaram
Rogo-te pois Ó deus dessa criação
Que dominada de palavras me sinto
Leva-me da vida com a mesma paixão
Com que no verso te clamo e te minto
E toda feita dos mais puros poemas
Sangrada até à desesperação
Inspiração que já me acenas
Leva-me daqui em exultação
Faz-me ser passado e já esquecida
Não quero que vejam este existir
Não quero que saibam a dor desta vida
Do tudo que em tanto já pude sentir
…
musa
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