quarta-feira, 24 de agosto de 2011

LITURGIA DOS SENTIDOS


Prece do sentir
Aos quatro ventos
Clamo meus momentos
Em prece de sentimentos
Oro os pensamentos
O cheiro invade
O sabor arde
O olhar humedece
O ser deixa consentir
Onde tudo acontece
Ofegando parir
O medo estremece
O riso sem rir
O sonho desfalece
Onde deixa permitir
Outro querer se tece
Ouvindo pedir
O tacto das mãos
Obra feita de sentidos
Insanos e sãos
Parte de mim
Os mesmos consentidos
Onde não há fim
musa

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

TOADA DO SER

Feita imensa pele de ritos


Na intensa saudade do passado


Adensa a vontade de ainda ser


Transverso avesso do outro lado


Onde sendo possa transparecer


Por já não ser nunca me canso


E se na vida ainda danço


Sinto os pés no chão


O corpo bem fincado


Cabeça e coração


Tudo bem colado


Doce sensação


Ser alado






Terei umas asas a esvoaçar-me o ser


Corpo emaranhado de chuva e ventania


Terei cabelos como cera a endurecer


Cintilante pluma em fantasia


Qual crina em pingos tombada


Pavio da vela a esmorecer


Da luz do ser apagada






O ser que se desprende e vai partir


Em hora que de mim estará ausente


Pois nesse instante eu não quero sentir


Que morta me despeço do presente






Voltarei como outras almas voltaram


Aquelas que palavras me trouxeram


E em poesia me dominaram


Em poemas tudo me deram


No verso tudo me deixaram






Rogo-te pois Ó deus dessa criação


Que dominada de palavras me sinto


Leva-me da vida com a mesma paixão


Com que no verso te clamo e te minto






E toda feita dos mais puros poemas


Sangrada até à desesperação


Inspiração que já me acenas


Leva-me daqui em exultação






Faz-me ser passado e já esquecida


Não quero que vejam este existir


Não quero que saibam a dor desta vida


Do tudo que em tanto já pude sentir





musa

domingo, 14 de agosto de 2011

ABRAÇO COM ASAS

Falo do teu beijo com asas

Desejo feito brasas do teu olhar
O meu corpo despido
Nos teus olhos sentido
Pele nas tuas mãos a esvoaçar

Na proximidade do teu querer
Em união olhar e sentir
Volúpia de intenso prazer
Quase incerto admitir
O que deixamos acontecer

Colados já num abraço desfeito
As bocas morrendo um último beijo
O nosso sentir pulsando no peito
Essa vontade soltando o desejo

Que imensa insanidade entre os dois
Tão sentidos em palavras carne e mente
O que acordamos deixar para depois
Além no tempo que a alma sente

Futuro que a loucura consente
Mistério que colocamos num verso
Além de todo o sentir do universo
Fazemo-nos de palavras sentidas
Todo um sentimento disperso

E consentimos já ter amado mais do que outras tantas vidas

Ter em nós provocado a fúria da criação
Beijos com alma e profundidade do ser
Abraço que abraça com garra e sedução
Terna intensidade de carinho e prazer

Seres o falo intumescido por minhas mãos sagradas
No doce torpor do teu sentir viver
Delicada comunhão dessas peles abraçadas

As bocas entreabertas de palavras humedecidas
Como duas almas fundidas apaixonadas
Num dócil abraço das nossas vidas

musa

ETERNIDADE DE PALAVRAS


Cabelos reflexos de liberdade
Junto ao mar espalho palavras
Abro o livro liberto saudade
Deixo partir todas as mágoas

ADEUS… palavras dentro de mim
Pacto de sangue com a eternidade
Das folhas soltas as letras sem fim
Esvoaçam a caminho da felicidade

E o livro aberto ganha doces asas
Como pássaro sentimento de penas
Sopram cinzas de palavras brasas
Um a um esvoaçam mil poemas

Frente ao mar espalho sentidos
Como se da morte fosse pedido
Cumpro ritual sonhos perdidos
O esvoaçar do livro consentido

E sobre a flor da água brilhando
Palavras poisam como asas de aves
Agitam salgadas águas ondulando
Páginas vagas sons de liras suaves

Fuga bravia do fundo sentimental
Nas profundezas do sentir profundo
Fica a despedida sangrento punhal
Que no verso se eterniza meu mundo

Bando de palavras em gume de sabres
Rasgam-se do livro aberto par em par
Seguram a eternidade páginas traves
Onde a escrita poesia se deixa ficar

musa

SENTIDO VISCERAL

Das vísceras do mais sentido sentir

Alvíssaras dão meus sentimentos


Acena-me de longe meu pensar


Andarilho de leves tormentos


Quase perto de me alcançar


Sem eu de mim me despedir



Sei que por dentro essa morte clama


E eu já não posso mais me redimir


Olhos tão cansados de doce torpor


Sei que sinto essa morte que chama


Entra adentro sem querer sem pedir


Não é por prazer paixão ou desamor


E eu que nada faço para a consentir




Rasgo-me toda em convulsão visceral


Quase tão intenso do dizer deste verso


São as palavras que assim ditam fatal


O meu descontentamento ao universo




Vísceras prisioneiras do cárcere poesia


São tantos os sentidos que morrem razão


Pois deles escorre meu sangue fantasia




Ninguém entende meu sentido visceral


Todo este sentir que me esventra de paixão


Tanta da poesia cravada em mim como punhal





musa
http://muraldosescritores.ning.com/profiles/blogs/sentido-visceral

sábado, 13 de agosto de 2011

PURO DESEJO

"O ser humano internamente rico... vive numa sala de espelhos"

Rüdiger Safranski


Só a alma poética reflecte sua riqueza no poetar espelhado dos sentidos...

Puro sentido


esse descoberto carnal


no mais profundo descuido


insensatez natural


Puro desejo


das palavras como um beijo


onde poisar sentimento


esvoaçar ao vento


pensamento perdido


tão estranho querer


em voto de silêncio poesia


apenas o olhar de prazer


nos lábios o beijo comovido


em subtil fantasia


rasga-se desprendido


quase uma rasia


percorre corpo e mente


desabrocha em loucura


e na vontade consente


docilidade e ternura


pureza desejada


vincos de candura


a pele adocicada


de tesão perdura


olhos que não mentem


mãos que ainda sentem


puro desejo


doce beijo





musa


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

SETE VERSOS DA ALMA E UMA BORBOLETA AZUL


Alma que respira do sentir

Mente que inspira sentidos

Pensamentos a competir

Sentimentos divididos



Esta poesia que eu pude sentir

Nem sete mares lhe dão a dimensão

Nem sete vagas a podem definir

Nem sete marés lhe dão a imensidão



O areal e o mar adentro do olhar

Fustigados desejos parecem surgir

Como vaga gigante por dentro arrasar

Areias da praia parecem fugir



Da mesma profundidade que o mar

Poesia que em mim é consentir

Escuridão alma a naufragar

Húmido poema a fluir



Profundo mar silenciado

Ao fundo luz ténue brilho

Do mesmo sentir declamado

Segue o verso o seu trilho



São abertas de luz

Em brechas de vagas

Sal que olhar seduz

Sentidas mágoas



Fios luminosidade porosa

A cada onda cheia de vento

A cada verso cheio de prosa

Rimando brisa suave alento



Sobre a alma terra rodopia

Uma borboleta azul cobalto

Erra em voltas da poesia

Pairando lá no alto

Sossega a imensidão

Do verso sentido

Mar de paixão

Azul olhar

Despido

Poesia
...
musa