23:23
preciso escrever... não tenho papel nem caneta... apenas à
minha disposição as teclas minúsculas do telemóvel que me faz companhia ao lado
da cama, pego-lhe e ordeno-lhe que me escute a voz da ponta dos dedos nas mãos
com boca e ouvidos, martelando as letras que por vezes confundo na escuridão, a
luz apagada ilumina melhor os pensamentos e vejo-me ajoelhada num chão de
sentir onde mais tarde virei aqui recuperar os meus cacos em palavras...
tanto que me apetece escrever os meus sentidos…
Bruma ébria que se esfuma na fleuma contraída da respiração
o bafo do olhar na noite tingida
não sei de quantas cores se tinge o nada
e a noite mais pura despida de estrelas amanhece na bruma
acinzentada escuridão loucura enevoada solidão sentida onde silencio parece
dormitar num sonho...
não é o luar que procuro em arabescos rendilhados no chão de
tabuas brilhantes onde os pés nus deslizam a cera lustrosa... havia uma lua na
casa iluminada do passado servida pelos quartos sobre a pele nua de meretrizes
em repouso... e os corpos banhados de luar confundiam odores de prazeres
escondidos em mãos vagarosas acendendo lamparinas de pecado em intimidade...
as lanternas vermelhas afogueavam beliscados rostos perfumados
de pó de arroz e rosados lábios tingidos de frutos vermelhos a pingar dos dedos
entretidos em iguarias de pele e sentidos...
23:40
as pequenas borboletas dos ventres adormecidos esvoaçam
perdidas no prado dos corpos ainda verdes... andam fugidas do calor das mãos
quentes...
ardem casulos fulgentes na pedraria a descoberto da miríade
presa no teu olhar...
23:49
resinada e dura como a madeira esfoliada de sossego em anéis
intemporais na cascara sagrada dos mais insanos sentidos carnais deixo romper
de palavras o velo amaciado pelos teus gemidos sangrando a noite de uma lua por
cumprir...
há um sentir silenciando mundanos sentidos... a lua deitada em
muitos quartos mancha a penumbra da claridade noite...
…
musa
1 comentário:
15Grande abraço.
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