Vagas...
Naus soltas no tempo
A minha alma pergunta pela tua
Há um mar de segredos entre nós
Almas desvairadas em movimento de luz
Desato-me de laços e de nós
Com o luar da lua
Mostra-me onde é o caminho
No meio das ondas e das vagas nossas vidas em cruz
Deixa-me ser bruma em teu destino
Porque a ter-te
Apetece-me abraçar-te a alma
Fazer amor com tuas palavras
Querer-te
Tê-las rosadas de sabor e de cheiros intensos
Húmidas e macias como a carne do ser
Odores acres de incensos
Apetece-me invadir-te de mil vontades
Sair-te no corpo salgada
Ter-te de maresia
Fazer-me mar em ti
E nesses oceanos navegados
Entre tormentas e turbilhões
Passaria encostada ao paredão
E amarraria no teu ser
Costa de múrmurios e solidão
Apetece-me ser dos teus gritos
Ter-te tanto na fúria dos mares
Amarras de mim desprendo
Se um dia tu me navegares
Cordas de que serão feitas minhas vontades
Com cheiro de bruma e sal
Prende-me das tuas necessidades
Com fio flor de sisal
Amarra-me caravela no vento
Com cordas que me prendem de sentidos desvairados
Em corpo que não se entende com o pensamento
Mil vontades que morrem antes do querer
As mesmas que se fazem vagas em mar
E de todos os sentidos conquistados
Desejo apenas viver
Esse momento de amar
Porque de um traço fui vela
Em nau de caminhos insatisfeita
Serena levada em sentimento
Sonhava ser caravela
Passar em cabo de tormentas
Para um dia chegar a bom porto
E ter alguem à espreita
Sonhava ser nau em águas doces
No bravo mar em que te movimentas
Por um momento queria que fosses
Cor em minhas tramas em minhas telas
Ter-me de tintas e de palavras
Olhar pelo teu olhar ... e ver
Por um instante não quero que me entendas
Mas deixa-me ser
Parte de um mastro que segura teu rumo
Chão de toda a tua alma erguida pelo sentir
Posso até ser pêndulo no fio de prumo
Mas se um dia partir
Dá-me o momento de vazar areias em maré acontecida
Mostra-me caminho em tempestade
Deixa-me ser vaga em tua vida
Mas por inteiro e de verdade
Deixa-me ser caravela de prazeres insanos proibidos
Rasgando ondas em azul de sal
A cor que procuras não encontras
Porque no tempo não há igual
E ao pintares as tuas telas
Faz-me caravela de sentidos
Que em qualquer mar afrontas
Como pintas em aguarelas
Tantos dos teus sonhos já vividos
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