quinta-feira, 19 de março de 2009

CARAVELA

Vagas...

Naus soltas no tempo

A minha alma pergunta pela tua

Há um mar de segredos entre nós

Almas desvairadas em movimento de luz

Desato-me de laços e de nós

Com o luar da lua

Mostra-me onde é o caminho

No meio das ondas e das vagas nossas vidas em cruz

Deixa-me ser bruma em teu destino

Porque a ter-te

Apetece-me abraçar-te a alma

Fazer amor com tuas palavras

Querer-te

Tê-las rosadas de sabor e de cheiros intensos

Húmidas e macias como a carne do ser

Odores acres de incensos

Apetece-me invadir-te de mil vontades

Sair-te no corpo salgada

Ter-te de maresia

Fazer-me mar em ti

E nesses oceanos navegados

Entre tormentas e turbilhões

Passaria encostada ao paredão

E amarraria no teu ser

Costa de múrmurios e solidão

Apetece-me ser dos teus gritos

Ter-te tanto na fúria dos mares

Amarras de mim desprendo

Se um dia tu me navegares

Cordas de que serão feitas minhas vontades

Com cheiro de bruma e sal

Prende-me das tuas necessidades

Com fio flor de sisal

Amarra-me caravela no vento

Com cordas que me prendem de sentidos desvairados

Em corpo que não se entende com o pensamento

Mil vontades que morrem antes do querer

As mesmas que se fazem vagas em mar

E de todos os sentidos conquistados

Desejo apenas viver

Esse momento de amar

Porque de um traço fui vela

Em nau de caminhos insatisfeita

Serena levada em sentimento

Sonhava ser caravela

Passar em cabo de tormentas

Para um dia chegar a bom porto

E ter alguem à espreita

Sonhava ser nau em águas doces

No bravo mar em que te movimentas

Por um momento queria que fosses

Cor em minhas tramas em minhas telas

Ter-me de tintas e de palavras

Olhar pelo teu olhar ... e ver

Por um instante não quero que me entendas

Mas deixa-me ser

Parte de um mastro que segura teu rumo

Chão de toda a tua alma erguida pelo sentir

Posso até ser pêndulo no fio de prumo

Mas se um dia partir

Dá-me o momento de vazar areias em maré acontecida

Mostra-me caminho em tempestade

Deixa-me ser vaga em tua vida

Mas por inteiro e de verdade

Deixa-me ser caravela de prazeres insanos proibidos

Rasgando ondas em azul de sal

A cor que procuras não encontras

Porque no tempo não há igual

E ao pintares as tuas telas

Faz-me caravela de sentidos

Que em qualquer mar afrontas

Como pintas em aguarelas

Tantos dos teus sonhos já vividos

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