sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

PROFETISA DE SAGRES...Paris 02.01.2009

Voltei ao chão varrido de brisa
A poeira a ladrilhar-me a alma
Corredia fugidia ao tempo ventania
Voltei ao lugar onde o chão desliza
Onde tudo cheira a fresco e maresia
Reina a paz o amor e a calma
Ermo sangrento de um silêncio absoluto
A terra debruçada sobre o mar
Os olhos tão negros de luto
A alma a soluçar
Daqui partiram naus e caravelas
As mais nobres árvores a boiar
Ficaram imortais em tuas telas
Quase todas foram a naufragar
Pedaço de chão tão nu de vida
De peito aberto sobre o oceano
Pontão de sonho e de partida
Sentimento nobre tão estranho
Mirante esquecido da natureza
Ermo sangrento de solidão
De ti muitos seguiram ao engano
Sem saberem sua razão
Desperto poder da realeza
Daqui não há lugar que se não veja
Promessa amarga de heroicidade
Quem parte já parte na incerteza
De nunca poder contar toda a verdade
No teu solo ergui minha vontade
De ver donzelas chorosas mulheres de luto negro
Carpindo sentidas essa dura saudade
Que lhes roi de esperança desditosas
E tenacidade sonho e medo
Azul de mar suas águas revoltosas
Voltei a Sagres prometida
O templo de que sou deusa mar e terra
Voltei a Sagres já sem vida
Daqui deste lugar não há saída
Daqui deste ermo chão da serra
Sou dona e senhora profetisa

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