quinta-feira, 5 de outubro de 2017

INFINITO E SERENIDADE

INFINITO E SERENIDADE

Há um infinito sossego
De silêncio serenidade
Quase dor quase medo
Uma medida eternidade
Entre os dois a unir
Tempo e sentir
Saudade

Um equilíbrio espiritual
A rasgar por dentro
Todos os sentidos
E depois a cegueira
De cal e sombria
Do longe em gemidos
Multiplicados
A agonia
Toda inteira
Em dor

A coreografia das palavras
De distância e ilusão
Desejo e amor
Num acto da vida
Sombra das mágoas
A incendiar
Sentida
musa

PERDOA ESTE MEU CANSAÇO

PERDOA ESTE MEU CANSAÇO

Estes dias de afagos em neblina
A enganar as sombras
Que tingem de silêncio
A frialdade fina
Do areal

Perdoa este meu cansaço
Em todo o corpo a estremecer
Ferindo este sentir de aço
Arranhando os ossos a arder
Náufragos na carnal
Solidão ensanguentada
De bruma a escorrer
Tão massacrada
A pele fria
Alma tão sombria
Adormecida
De prazer

O corpo o chão
Ossadas perdidas
A terra agonia
A húmida escuridão
De sal tecida
As palavras esquecidas
Por escrever
O verso da vida
...
musa

RUMOR

RUMOR

Há uma vaga mais
Uma onda logo ali
Uma memória de ti
Uma parte do cais
E a longa travessia
Por tanto mar

Dois pontos desiguais
Bruma e melancolia
E lágrimas no olhar

E partir nunca é regressar
Nem do areal invadido
O sal arde a ferida
E a alma perde o sentido
Que a morte traz à vida

Nem o tempo esquecido
Invade de odor
A identidade da maresia
A sombra e o rumor
No todo ou em metade
Verdadeiro
O cheiro a metal
A densa agonia
Em dias de nevoeiro
No areal

A química carnal
Sensível escrita poesia
Ardente
Das águas salgadas
A latejar
Cerrada espessa quente
Uma névoa fina
Parece murmurar
Secreta confidente
Divina
Altar de pranto
Veste-lhe o manto
Rumor ou prece
De neblina se tece
...
musa

OUTRO RUMO

OUTRO RUMO

A direcção é uma dor
Por onde se vai ao engano
Todo o corpo é uma rua estreita
Um labirinto sem saída
Escuro torpor
Um caminho estranho
Uma estrada que não se endireita
E no ziguezague da vida
Perdemos o rumo
Na química apetecida
Treva à deriva
Cerramos o punho
Os olhos fechados
Os lábios trincados
A dor que não cede
O ar que já fede
Tudo parece podridão
Talvez o rumo seja ir por aí
De encontro à escuridão
Ou a luz que se procura
O rumo incerto da loucura
Neste corpo encruzilhada
Que resta além de nada
A dor essa tortura
musa

MEU REGAÇO DE AMOR

MEU REGAÇO DE AMOR

Vieste para o meu colo de amor
Embalar a tua dor
Sossego de pedra por talhar
O dique em rebentação do teu olhar
Inundou o vale das minhas mãos a amparar-te
Um frio liquido incolor
Sombras de anjos tristes
No seu eterno repousar
Deitei-te no silêncio com que pude amar-te
Nos abraços em estreito regaço
Recebi do teu corpo o pranto e o cansaço
E da alma a profundidade delírio do tempo
A medida incerta do sofrimento
O tamanho espacial da eternidade
Em espiritual harmonia
Todo o teu ser estremecia
Em desilusão e saudade
No meu colo de serenidade
Deixei-te sofrer
Esvaíres-te de melancolia
Às vezes precisamos morrer a viver
Para sermos mais do que poesia
...
musa

ÁRVORE DO SER

ÁRVORE DO SER

Para além das pedras onde o espírito possa repousar
O azul tingido de verde esperança
Um rosto doce de criança
Trazendo um manso orvalho de lágrimas ao meu olhar
E a árvore da vida farol sem luz
Esguia ramagem de um tempo esquecido
As folhas como estrelas num céu a cintilar
Abrem caminho que conduz
O amor perdido
A brilhar

Estandarte verde de um sentir renascido
A marcar presença da passagem espiritual
Quero acreditar
Somos a árvore sentimental
Esteio de um corpo sentido
Silêncio em pensamento
Cordas melódicas do vento
A melodia transcendental
A estremecer
O pórtico vivo
O lamento
O final
O ser
...
musa

PESSOA

PESSOA

Aonde vais Pessoa
Altivo apressado
Preso ao mural
Casaco abotoado
Uma bica em Lisboa
A escrita transcendental
A tingir o muro
De amarelo dourado
Enigmático inseguro
E as tuas mil e uma personalidades
Ou só uma identidade
Poeta imenso misterioso
Desde sempre eternidade
Homem sensível curioso
Um pouco de todos nós
Tonalidades do universo
Maduro na poesia e na voz
De além a saudade
A ser verso
...
musa

BAILADO DA BRISA

BAILADO DA BRISA

Começam a cair as primeiras folhas outonais
As vestes de leveza em sopro de cores quentes
Bailam do sentir a subtileza em passos diagonais
A brisa dança até ao chão em abraços rodopiantes

Como uma tela da penumbra da janela lá fora a bucólica paisagem
Mescla de folhas verde amarelo castanho vermelho cor de laranja ouro
Serpenteia a luz um arco-íris em busca sonhadora de um tesouro
E o meu olhar divaga em ventania despindo as árvores em viagem

As folhas partem migratórias como sonhos do poema
Dançam os espíritos do vento a alma e os sentidos
No ar há uma brisa de nostalgia melancólica serena

No sossego do silêncio ouço a folhagem a murmurar
Há pelo chão sonhos em súplica esquecidos
Aquieta-te vendaval e deixa a brisa mansa sussurrar
...
musa

SUPLICO AOS ANJOS QUE TE ABRACEM POR MIM

SUPLICO AOS ANJOS QUE TE ABRACEM POR MIM

Como se abraça alguém que não podemos abraçar?
Deponho a minha súplica aos pés dos anjos
Todos estes dias tenho procurado dentro de mim as mais sensatas palavras e com a serenidade possível tentado escrever o silêncio dorido do meu coração deixando vazar da alma o desgosto imenso da treva insana que a vida contraria pelo sofrimento um raio de sorrir no húmido olhar
Nem sei se haverá versos ou poesia que possa acalmar a dor do coração e enxugar o pranto das memórias
Não sei se haverá sossego algum que o tempo possa apagar da alma o luto profundo desta melancolia tão cheia de dúvidas
Esta incompreensível angústia como ruína de afectos sensíveis de algo abandonado
As palavras desmembradas tão incapazes de serem poema como um corpo prisioneiro na sua incapacidade física
Como se nada do que aconteceu existisse e desse pesadelo o sonho se lembrasse que era sonho
E a vida tivesse a certeza de que cedo ou tarde esse abraço seria dado reconfortante e meigo
Ainda que a mansidão das lágrimas sejam a mensagem do tempo que recua como o rio que seca e demora a correr ou a fonte esquecida até nascer de novo
Com a tua perda e a tua dor imensurável parte de mim também morreu e nem os anjos trarão a paz perdida
Só me resta que eles te abracem por mim te reconfortem de carinho e dêem colo às tuas mágoas inimagináveis para quem nunca nada perdeu de si
Nenhuma prece em sentido espiritual consegue preencher o espaço entre dois braços e fazer sentir ou colmatar a ausência que a morte deixa num abraço que não se pode dar
Talvez um dia muito além desta realidade possamos concluir esta dádiva de sentimento
Confio nos anjos para que te abracem por mim
Não estás sozinho estás sempre no meu pensamento
...
musa

ESPERA EM SILÊNCIO

ESPERA EM SILÊNCIO

"30/12/2010
As palavras não seriam palavras sem silêncios
J"

Sou a luz do teu silêncio na original solidão do vazio
Umbral de espera onde ainda não chegaram os teus passos
Como um farol o meu corpo abriga de abraços o teu olhar sombrio
A luminescência da alma sensível mar onde naufragar
Sentidos solitários ou devassos gritos de cansaços
Enseada de palavras à espera de aves em migração
Silenciado voo sentimental de versos de uma aurora a cintilar
Para onde eu vou um dia depois da minha solidão
Sem súplicas ou incertos desejos
O mais que os caminhos devem da luz que nos guia
Do túnel de infindáveis beijos
A arribação da silente melancolia
Sem sentir nem esperar
Talvez um dia
Quem sabe
O silêncio sejam as únicas palavras de quem vive sem poder amar
...
musa

PARA AQUELES QUE AMAMOS SEM ELES SABEREM

PARA AQUELES QUE AMAMOS SEM ELES SABEREM

Para aqueles que amamos
Sem eles o saber
Primeiro aqueles aos quais
Não tivemos tempo de o dizer
Aqueles a quem jamais
Daremos o conforto do nosso olhar
O instante com que ficamos
A ponte suspensa de palavras
Um abraço por dar
Um azedume de meigas mágoas
Um aperto de peito
Como que a pesar
O mundo inteiro
Quase desfeito
Por sentir

A desilusão da vida
Uma insanidade sufocante
A cicatriz por sarar
Respirar imperfeito
Um pranto maior
Breve a viagem
A eternidade
Distante
Cumprir

Outros ainda faltou o tempo
E a outros talvez a coragem
A tantos a hora certamente
Se há o momento perfeito
O lugar o sítio ou a paisagem
Onde o imperativo do amor
Apaga as carências consentidas
E forma dos verbos a única imagem
Da alma em palavras sentidas
Quase como uma prece
E se uma fatalidade acontece
Ou explosão de dor
A súplica e o orar
Pelo caminho de luz
No silêncio a transpor
Alguém há-de ficar
A saber que conduz
Um espírito em paz
Pelo sentir amar

musa

NÉVOA DANÇANTE

NÉVOA DANÇANTE

Veio assim a manhã
Névoa dançante
Espessa húmida manta
Vem do mar a frialdade
Gélida cortante
Invade o prado tão esguia
Serpenteia em lentidão
Traz o cheiro da maresia
Marítima escuridão
Cobre os telhados cinzenta
A luz do sol afugenta
Neblina matinal
Encobre os céus
Sobre os telhados a ilusão
Respira o tempo estival
Tempo de dizer adeus
Ao verão
...
musa

ENGORDA OU FINGIMENTO

ENGORDA OU FINGIMENTO

Os desgostos de amor
Engordam
Digo vos eu
E o poema
Os versos e os quilos na balança
A inspiração da madrugada
Em silente ressurgir
De doce tristeza
Nutriente saudoso
Meio lacrimoso
Das gordas palavras
Que engrossam a poesia
E o silêncio respirado
Convulsão metafórica
De intrínseca euforia
A aumentar tamanho
Do estranho fingimento
Com conta peso e medida
Suscitador de rumores
E do meigo sentimento
E humores do verbo
A latejar na pesagem
A faustosa imagem
Dos ditos cujos amores
Sem virgulas por suores frios
Desses quilos sombrios
Que asseguram a rima
E destratam a estima
Em inocente sentir
A fome inspirada
Algo a repetir
A dizer nada
Ou a fingir
...
musa