sexta-feira, 28 de julho de 2017

ÉS O MEU MUNDO

27 de Julho

ÉS O MEU MUNDO

Não sabe ninguém que és o meu mundo
Um instante na noite feito de abraços
Dois corpos em duelo de cansaços
Como quem detém o tempo num segundo
Num abraço apertado e profundo
A vingar todos os espaços

És o meu mundo tão grande e tão pequeno
Tão intenso e tao ternurento e tão sereno
E tão cheio de aventura e sentimento
E a loucura com que iludimos o tempo
Em espiritual intimidade e entendimento
De algo viciante feitiço ou doce veneno
Onde o desejo é o mais forte condimento

E secretamente guardo a fórmula desse prazer
Do teu cheiro do teu sabor dos teus sentidos
Do gozo dos devaneios nos teus olhos perdidos
Dos teus dedos a desbravar suspiros e gemidos
Do calor do teu corpo em súplica de querer
Um fogo aceso a lavrar e a endoidecer
A pele de amor sentir e saudade
E num orgasmo morrer a viver
Um mundo inteiro de cumplicidade
...
musa

quarta-feira, 19 de julho de 2017

VIA LÁCTEA DO SENTIR

VIA LÁCTEA DO SENTIR 

Uma alma azul a varrer a escuridão
Para além do misterioso interior
Por detrás do olhar a sensível oração
No pensamento um turbilhão de amor

A prece dos olhos em silêncio a murmurar
Do infinito todos os tempos da imensidão
As lágrimas a acender velas no altar
Que a luz é chama acesa no coração

Algures uma Via Láctea deixa rasto de sentir
No azulado mistério do longínquo universo
Quando os meus olhos se surpreendem existir

Ao ver-te meu amor estrela em sintonia
Com as palavras em cântico do verso
Sabemos e sentimos que somos mais do que poesia
...
musa

domingo, 16 de julho de 2017

DEMÊNCIA

DEMÊNCIA

Esta sombra que desce
E se arrasta na enchente das horas
Desfalece leda e casta displicente nas demoras
Onde gasta a beatitude do silêncio sofrido
Os olhos cansados a latejar o sentido
Que a luz mórbida entardecida
Como se a fechá-los se aceitasse a escuridão
A frágil luminosidade da vida
A ensandecida solidão
O tempo pesado e lento
A promessa de esperar
Por dentro o grito e o lamento
A prece que leva a nenhum lugar
E esta morte a viver
Este peso sobre os ombros fardo manso de aço
Ileso aturdir
Arrastando pelos escombros do pranto desfeito
Este sufocar e aperto de peito
O desespero e o cansaço
O tédio e o sofrer
A magnitude do profundo sentir
A terrível sombra sem fundura
A demência a ferir
A insana tortura
O cerco que se aperta
A morte que está perto
E o que resta
Do caminhar incerto  
O negro luto que se apressa
A rastejar a sombra insegura
Pelo chão da loucura
...
musa

EM VELHO CIMENTO

EM VELHO CIMENTO

“Não reconhecemos a velhice em nós, nem sequer paramos para observá-la, somente a vemos nos outros, mesmo que estes possuam a mesma idade que nós” Simone de Beauvoir    

De que é feita a vida
Frágil silêncio tão quebrável
De uma mudez sensitiva
Estranha maleável
Luminosidade em velho cimento
A roçar caminhos do esquecimento
Abrindo fendas no sentir
Pelo peso das lágrimas a cair
Quando a dura realidade
Faz dos sentidos o negro papel
A trémula fragilidade
De uma amarga cal
Um barro endurecido
De ossos e de pele
Uma alma sem eternidade
De tão humana e carnal
O olhar perturbador
De sentimentos despido
A espelhar o vazio da dor
O cimento translúcido e frio
O romper da morte em flor
Da vida por um fio
...
musa

SER VELHO E DEMENTE

SER VELHO E DEMENTE

A velha roseira seca e mirrada
Há muito perdeu os botões da corda da vida
Os braços a pender ressequidos
Os anos perdidos
A terra esquecida abandonada
Adormece em segredo os sentidos
Sonhos de uma memória florida
Onde já não acontece nada

O tempo pétala inanimada
Desafia a alma em corpo fechada
Em delito a insanidade
Os olhos vítreos quase impuros
A querer agarrar a eternidade
Frágeis e inseguros
A escondida e cega razão
Os dias difíceis e duros
As portas escancaradas da solidão
E a luz que parece fugir
Para abraçar a escuridão
E esconder da vida o sentir

Táctil o medo de quem teme olhar
E dói e geme consentir
Velhice e demência
Na dócil inocência
O travo amargo de viver
A difícil escolha de partir
Entender e aceitar
A humana fragilidade
Ser velho e demente
E a rosa a fenecer
A dureza de acreditar
Que um dia a vida a idade
Se apaga num poente
Um fio de luminosidade
Ténue e triste a brilhar
...
musa

VELHA SAIA

VELHA SAIA

Guardo histórias na bainha descosida
Da velha saia que vesti
De antigas memórias de uma lembrança perdida
De coisas de lugares de um tempo que quase esqueci
E no esquecimento sem saber ao certo
O rumo desorientado e incerto
Por caminhos de infinito
Prantos lamentos a prece o grito
A erguer altar mais alto e perto
Deste aperto de peito e alma a transbordar
A cegueira mais doce do olhar
Este choro profundo
O sofrimento do mundo
Esta treva a ameninar
O último estádio da vida
Tantas as lembranças a desfilar
Nos olhos humedecidos
De entardeceres antigos
E sonhos e pesadelos e castigos
Uma roda bordada na saia que vesti
Velho trapo a lembrar o passado
Já guardei as histórias que vivi
Na saia agora um legado
...
musa

A VELHA MANTA

A VELHA MANTA

Das agulhas ponto a ponto ou do tear
A trama ou cinco curvas a domar a lã
Em novelos ou meadas a urdir a manhã
E as mãos cansadas de pontos e de dobar

O pelo das ovelhas em manso rebanho
Madrugadas frias ou o sol a aturdir
E a velha manta a crescer o tempo duro e estranho
Pesado e lento desassossego de sentir

Somente a invernia cede ao fardo do fio tecido
Na dura ilusão das noites friorentas
Com lágrimas misturadas na poesia do sentido   

A velha manta que ainda perdura
A lembrar a avó das mãos ternurentas
E uma réstia de amor com laivos de loucura
...
musa

DIVISÃO

DIVISÃO

Este martírio interior
De uma solidão indivisível
Delírio maior
A alma inteira dividida em súplica e desalento
Maior do que multiplicar vida e tempo
Quando o mesmo se divide pela metade
E da mesma unidade
O resultado é tanto descontentamento
E a razão invisível se mortifica
E o corpo se tortura
E a alma se identifica
Na subtracção da loucura
E por mais matemática que se aplique a viver
O zero é existência ao morrer
...
musa

MEU AMOR

MEU AMOR
Meu amor
A ensinar-me a sentir
Sensações que a pele murmura
Vontade a consentir
Devaneios e loucura
Profundidade dos teus segredos
Da meiguice do teu querer
A misturar com os meus medos
Num turbilhão entre os teus dedos
A gozar de prazer
E nos lábios a sinfonia
As bocas que se colam de afecto
O teu olhar secreto
Impossível de decifrar
Entre números palavras ou poesia
Verbos que não sei mais conjugar
Em tempo melancolia
...
musa

VIBRAÇÕES


Demasiado silêncio
Na poeira dos caminhos
O pó carregado em ombros pelas formigas
O grito pesado da fogueira a arder
Chamas em debandada órfãs de destinos
O nó cerrado dos escombros das feridas
Abertas ao silenciado viver
Em vibração dos sentidos
Em tão melódico sofrer
Os olhos perdidos seguem em doçura
Quase uma súplica o padecer
Há nas formigas uma laboriosa loucura
Trabalhar até morrer
E o silêncio que espere
Onde quiser
...
musa

quinta-feira, 6 de julho de 2017

DA IMPROBABILIDADE DE SER FELIZ

DA IMPROBABILIDADE DE SER FELIZ

Vivo como um prisioneiro
De gaiola aberta
Incapaz de sair
Deste cativeiro
Pássaro sem asas para voar
Vivo tristemente discreta
Uma vida insípida e incerta
Com tantos segredos por contar
Vivo e durmo
Deito-me e acordo sozinha
Numa melancolia que assumo
Inteiramente minha
E sobre o dormir
Ah... Dormir é não sentir
É um pouco ou quase tudo esquecer
E nesta solidão de viver
Que afaga a ferir
Arrasto-me como a lesma
Vivo a lentidão de viver
A ilusão de ser
Da verdade a mentir
Da improbabilidade de ser feliz
Adormeço na infelicidade que condiz
Com o sono da solidão
Durmo
Abraçada a mim
Mesma
No meu pensamento
Durmo abraçada a ti
E o abraço que me enleia
O sangue que pulsa na veia
É o teu coração
Perto de mim
É o teu corpo logo ali
Ao lado do meu
Corpo ausente
Mas tão presente
Tão meu
Algures abraçado a alguém
E eu mesmo sem ninguém
Durmo abraçada
Num abraço apertado
Como o que já tive
Por que o corpo também se divide
E mesmo não tendo nada
Sei como é sentir-me abraçada
Num abraço do tamanho do mundo
Sentido e profundo
musa

quarta-feira, 5 de julho de 2017

DE LÍRIO AZUL

DE LÍRIO AZUL

Toda a imensidão onde perdes olhar
Que a pensar seja flor luminosidade
A resplandecer a escuridão saudade
Um azul sombrio em botão a cintilar

Brilho de um jardim onde ninguém vai
Por entre as flores em súplicas delírio
E o orvalho das minhas lágrimas lá cai
Saciando a sede desse teu florido lirio

A terra sabe o quanto do sentir é paixão
Amor escondido de azul tingindo os céus
E ainda o mar como espelho imensidão

Em profundidade eterna sem tamanho
Mar e céu dos sentidos de um único Deus
E este amor que te tenho tão estranho
musa