sexta-feira, 30 de junho de 2017

O SABOR DO PRANTO DA PAIXÃO

O SABOR DO PRANTO DA PAIXÃO

Aprendi já tão tarde
Na metade da vida
Deste abnegado viver
Ao correr dos dias
Das horas sombrias
Do fogo que arde
Teimosamente de prazer
Na alma ferida
A estremecer
De paixão

O sabor do pranto
A ardente desilusão
O desencanto
Das lágrimas sofridas
Das dores vividas
Do amargo sabor
Da Passional dor
Das duras feridas
Que se abrem no peito
E do silêncio desfeito
Pétala a pétala a flor
Esmaece de sentir

E o silente ferir
Sombreia todas as ausências
Da luz em escuridão
Leves as transparências
Ondulam em melodia
O timbre da ilusão
A meiga agonia
Do sentido
Perdido
Da dor
musa

sábado, 24 de junho de 2017

ANJO DE PORTUGAL

ANJO DE PORTUGAL

Sombria a lágrima dor
A luz pétala da flor
Negra chama ardia
Do cálice fogo da tua mão

Será poesia
E as asas labaredas
De um azul ensandecido
Desciam a escuridão
Do lume enfurecido
Chamas pelas veredas
Do caminho desconhecido
A comungar sem perdão

E de lágrimas no rosto
Pergunto ainda
Onde estavas tu Anjo de Portugal?
E se foi fogo posto
Esta raiva que não finda
Quem comungou desse mal
E deixou tela tão negra
A mais triste e fria seda
Esta loucura e desespero
Do luto que veste um país
Da justiça que eu espero
Tenha esse infeliz
musa

quinta-feira, 22 de junho de 2017

O NADA DA VIDA

O NADA DA VIDA

Não sei se há poesia
Na seiva carbonizada
Na terra queimada
Na casa vazia
A dor do nada
Os nadas que sobram
Das cinzas que restam
Dos sinos que dobram
Dos homens que florestam
Verbos por inventar
Silêncios que manifestam
Lágrimas no olhar
E nada por dizer
Nada por gritar
E nada a fazer
Da alma em carvão
E a seiva ardida
O corpo é a solidão
Do nada da vida

musa

A TI FÉNIX AINDA

A TI FÉNIX AINDA

in memoriam de toda a fauna e flora ardida

Que lágrimas há de carvão
Nas labaredas que podem ser poesia
Ou o silêncio a incendiar de agonia
Esta mensagem treva luto escuridão
E pode sobreviver a esperança da vida
Uma palavra ainda em cinza voando
Verbos interrompidos de uma frase sentida
A tingir de negro e vastidão
Pode a exuberância do fogo crepitando
Dar-te as asas do infinito da poesia
O lume em substância o engodo
A lama quente a lava o negro lodo
Do voo mais alto deste dia
Podem as chamas subir aos céus
E as negras sombras rastejarem a copa dos pinheiros
Dançarem como damas pela mão de um deus
E os ventos serem carrascos prisioneiros
Lamentos em ascensão de versos meus
Serem gritos sombras da fauna selvagem
Da caixa de Pandora no segredo da floresta
Versos de vida a arder em miragem
E a testemunhar o que ainda resta
A lebre, a doninha, o veado, o javali
O lince, o coelho, o ouriço, o lobo
A raposa, a borboleta, o mocho logo ali
Penas sopros espirituais melancolias
Águias, falcões, milhafres, tentilhões
Cegonhas, pica-paus, garças, poupas, cotovias
Estorninhos, gaios, pegas, rouxinóis, pardais
Asas em fogo a esvoaçar assombrações
Podem as asas queimadas ser esquecidas
Sublimadas palavras de silêncio e fantasias
Ecos, bramidos, prantos, suspiros, ais
Das matas, do eucaliptal, dos pinhais
Negras cinzas e nada mais
Tristes sombrias
Da treva infinda
Podem ainda ser
Quero mesmo acreditar
Que deste viver
Sois Fénix ainda
A vibrar
Vidas

musa