quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

À NOITE FALO COM OS MORTOS E SOU FELIZ

Ainda da noite...

À NOITE FALO COM OS MORTOS E SOU FELIZ

Os vivos seres deste mundo
O cão a noite o silêncio que a incendeia
E atira sobre a luz a negra teia
E morde açaimada em grito profundo
A clara madrugada lá no fundo
Da rua em que me perco por sonhar
E de olhos postos no altar
Que o tempo ergueu de cansaço
Abro os braços num abraço
E deixo que a minha alma lhes vá rezar
E convoco os dias do passado
E trago as vidas que perdi
E caminho dias sem me cansar
Nos pés o lodo fica marcado
As mágoas e as saudades que senti
Atravessam cidades no olhar
E vazam rios de pranto e luz
Nas margem da morte que me cega e seduz
O cântico negro fica a cantar
À noite falo com os mortos e sou feliz
E acordo os esquecidos da loucura
Conto-lhes o segredo que se não diz
Que o tempo dos vivos já pouco dura
E abro as mãos com o mapa da vida
E guio no escuro a sombra escura
Sou eu que em desespero a atravesso
Da vida que tenho do avesso
Da noite que moída em sofrimento
Tem o lamento que confesso
Os mortos vieram para ouvir
Porque tardo tanto em desistir
...
musa

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