quinta-feira, 31 de março de 2016

QUE SEI EU

QUE SEI EU
O inverno regressou em tempo de ausência
A chuva o vento o frio o temporal
O mar agitado fazendo vénia ao vendaval
Eterno o dia desmaia sombras por colorir
Tonalidades de luz e transparência
Gélida humidade a refulgir
A treva transcendental
Luminescência
Do sentir
De saber onde o olhar nunca vai
Uma praia deserta em pleno inverno
Uma lágrima escondida num esgar se contrai
Sem chegar a molhar as páginas do caderno
E a saudade guarda-chuva azul aberto
O sentimento imperfeito eterno
As confissões em memorial secreto
Pegadas de desilusões por cumprir
No areal a vida sai caminhando até existir
Na areia molhada vão-se desenhando pegadas
Uma vaga alterada tomba a maresia
Na espuma das ondas enroladas
Escreve-se com sal a poesia
Uma primavera silenciada
Cinzenta em tempestade
O céu escuro e carregado
Chove a tarde atormentada
Uma luz frialdade
O mar acidulado
A vida agitada
Que sei eu
Do silêncio
...

musa

JOGO DE LETRAS


Escondi ao nome ao poema
Porque quando tu não estas por perto
Os versos dissipam-se silêncio ausente
A palavra é bruma de um sentir secreto
Há humidade caindo dolente
Talvez um soneto inconsciente
A poesia que se consente
Jogo de esconde-esconde
Letra a letra as palavras escondidas
A borboleta da consciência em agitação
Cansaço de sentir
As contrações perdidas
Um sem fim desumano de existir
Enforcado pensamento
Jogo pendente
A forca em omissões e adivinhas a sentenciar
As variações sentimentais do tempo
Racionadas desvendadas por soletrar
Marcados passos na sintaxe verbal
Um caminho intuitivo e atento
Passivo imperfeito e lento
Perdido ou ganho ou desistir
Sensitivo carnal
Jogo de sentir
...

musa

SE DEIXARES

SE DEIXARES

Se te encontrares
Por entre as palavras
No calor enroscado
Dos meus pés frios
Como o silêncio perdido
Entre lençóis
Numa cama vazia
Se deixares
A memória divagar
Na liquidez das mágoas
Do olhar parado
Silhueta de tons sombrios
Em demarcado sentido
Entre cometas e sois
E a vaga fantasia
De existir
Se deixares as palavras
Tomarem conta de ti
Vais descobrir
Que já te senti
Hoje
...

musa

quarta-feira, 30 de março de 2016

SAGRAÇÃO DE AMOR

SAGRAÇÃO DE AMOR

Um querer maior
A urgência de sentir
Um exacerbado desejo
Magnânimo amor
Sal de existir
Doce do beijo
Impetuoso sentido
A eternidade
Sossego perdido
Felicidade
Tempo
Loucura
Sentimento
Ternura
Já tudo foi dito
Aventura
Ou ainda não
Talvez a excitação
Ainda que delito
Seja de prazer
Seja de sedução
Seja esse querer
Vibrar de paixão
Viver
...

musa

HAVEMOS DE SER

HAVEMOS DE SER

"haverás de ser minha pátria
meu cardume em mar desconhecido
meu vento
minha calma
minha corrida num torpor adormecido
minha breve manhã
cheia de cálices de incensos
minha água fresca e madura
meu vinho envelhecido
minha brandura
de fortes ventos que te anunciam
minha cama onde cansado me deito
onde o amor sem nada saber
surge feito
meu bando de pássaros tontos
e perdidos
haverás de ser um universo
num dia que não é dia
onde só Deus pára
para escrever
o meu mais lento e último verso
Renato Paulino"

Havemos de ser país
Um lugar livre
Um bando de pardais
Soltos na pradaria
A chuva amanhecida
O sol na pele estremecida
Um voo de poesia
Em manhãs carnais
Beijos de entardecer
Mãos em capela
A boca o altar
O ritual do prazer
E a loucura do olhar
O teu corpo a paz e o descanso
Do cansaço leve e manso
Onde acontece a ternura
E se tecem os sentidos
Havemos de ser o verso
O tear das palavras
O mesmo sentir do universo
Onde rezas apaziguam mágoas
E o amor que eu tanto esqueço
O milagre oração que eu ainda peço
...

musa

quinta-feira, 24 de março de 2016

O QUE FUI

O QUE FUI

Nem todos os poemas têm o teu rosto
A cor da ausência em nuances silêncio
Ou mescla de tristeza angústia degosto
Das esperas misturadas no sal do tempo

Ou lamento composto da amarga ferida
A marca registada na dor quase simulada
O corte da loucura na lágrima escondida
A raiva sentida no punho da mão fechada

Nem todos os versos desnudam teu olhar
As palavras soluçadas no choro profundo
Todas as metáforas deixadas por decifrar
E nem as vírgulas a limitar a dor do mundo

Ou queixas ou razões que possas entender
Que calada e quieta no amor confessado
Os poemas de silêncio eu possa escrever
Testemunho de vida do que foi meu passado
...

musa

AZULADO

AZULADO
Soa azul sentido e a sal
Encosto ouvido ao peito da concha dos dias
Ouço murmúrios surdos de um batimento imortal
Vejo balouçar das águas de pó sombrias
O liquido silencio da amargura
Em brilho luz e pedrarias
A ofuscar o palato do desgosto
Condimentos de céu salgado
Pensamentos de loucura
Sentir decomposto
Amarga e impura
A desilusão
O oposto
Da vida
Sentida
...

musa

quarta-feira, 23 de março de 2016

ADELMA FLOR CORTADA

“Adelma Tapia Ruiz era peruana e vivia em Bruxelas há quase nove anos. Ontem, dia dos atentados na capital belga, encontrava-se no aeroporto de Zaventem para apanhar um avião com destino a Nova Iorque, onde ia visitar a mãe. Adelma não sobreviveu aos ataques. A peruana, de 36 anos, estava no aeroporto acompanhada pelas filhas gémeas, de três anos, e o marido, Christopher Delcambe. As crianças afastaram-se para brincar e o pai correu atrás delas uns momentos antes das explosões - foi este acontecimento que fez com que sobrevivessem.  Adelma e Christopher ficaram feridos e foram levados para o hospital. A mulher acabou por não resistir.  A morte da peruana já foi confirmada pelo irmão através da rede social Facebook: "É muito difícil descrever a dor que sentimos", escreveu Fernando Tapia Coral. “

ADELMA FLOR CORTADA

Doce sorriso em inocente vida
Jardim de duas rosas em botão
O terror fez sangrar a ferida
Trazendo insana morte pela mão

Crueldade em sangue frio grito odor
Jazem no chão as pétalas decepadas
Há duas lágrimas com olhar de terror
E nas mãos tantas vidas ensanguentadas

A inocência manchada dor profunda e triste
O abraço que nunca mais o colo roubado
Esta carnificina loucura que teima e insiste

Ser dor ser terror ser medo ser desumanidade
Quantos pais quantas mães serão flores de caule cortado
Num jardim de terrorismo com tanta insanidade
...

musa

HORROR

HORROR

Veio assim esta primavera sangrenta
As palavras escritas no chão
Esta malvadez sedenta
O horror da maldição
O fanatismo
Da nação

Cenário impensável invisivel
O medo no terror inscrito
O detonador na mão
A raiva indiscritivel
O olhar aflito
Incompreensão
Possa acontecer
Sem razão

A dor no peito
O coração desfeito
O luto eleito
Nos lábios cerrados
Os punhos fechados
O gesto imperfeito

Abrir as mãos os dedos
Apontar todos os segredos
Com esse jeito apontar
Quem vive para matar
Quem alimenta os medos
...

musa

É PRECISO TEMPO

É PRECISO TEMPO

Para sarar as feridas do mal
A emoção do sangue tombado
As lágrimas do olhar cansado
As marcas do dia infernal
É preciso tempo
Para desatar o nó da garganta
Soltar do grito o perdão
A alma que a luz espanta
Para a dor da escuridão
No corredor do metro
A morte aqui tão perto
Nas asas do avião
O medo incerto
E o chão coberto de tristeza
O luto assim inventado
Um tempo de incerteza
Um país apunhalado
É preciso tempo
Ou uma folha em branco
Para dizer do sentimento
Desta ilusão deste pranto
Esta inclemência
O mal que o homem faz
Este silêncio de PAZ
Esta imediata urgência
Sem tempo
Capaz
...

musa

terça-feira, 22 de março de 2016

AS FLORES DO MAL

                                 a Bélgica ferida pelo terrorismo
AS FLORES DO MAL

Eram as horas do poeta
Batiam ódios instantes
Uma raiva secreta
De males distantes
Agora desperta

Quem destrona o medo
As flores do mal
A rama da violência
E desvenda o segredo
Da besta animal
Com urgência

A desordem vingativa
Cala o silêncio desolado
Impõe serenidade à vida
Nesse medo degolado

Parem esta insanidade
A justiceira loucura
Que é feito da humanidade
Que de medo tortura
As flores de vida
De seiva violenta
De maldade sedenta
Nesta primavera ferida
...

musa

AS FLORES ESQUECIDAS

AS FLORES ESQUECIDAS

Faço por esquecer
Tão distante jardim
As flores esquecidas
Lá longe a fenecer
Uma dor sem fim
As pétalas caídas
Dentro de mim
Faço por esquecer
Das arvores a sombra luz
As folhas a estremecer
A brisa que as seduz
Em claridade bailado
Brilho iluminando
A dor que conduz
Olhar chorando
Despedaçado
Faço por esquecer
A terra das infâncias
O chão dos queixumes
O pranto estremecer
Das ressequidas esperanças
Das perdidas lembranças
Dos tristes amertumes
Dos angustiados azedumes
Afável vontade de perecer
Gume afiado das circunstancias
Flores esquecidas da ilusão
O caule cortado do sentir
Doridas folhagens da solidão
Que esquecimento faz ferir
A escorrer seiva tormento
O corte vivo sentimento
O crivo do pensamento
Entendimento da razão
Flor do lamento
...

musa

segunda-feira, 21 de março de 2016

POESIA - DIA MUNDIAL DA POESIA 21 de Março

Escondi o nome ao poema
Porque quando tu não estás por perto
Os versos dissipam-se silêncio ausente
A palavra é bruma de um sentir secreto
Há humidade caindo dolente
Talvez um soneto inconsciente

A poesia que se sente...

POESIA

Quero morrer como quando chega a primavera
Essa avidez sedenta de tudo quanto é nascimento
E se viver para saborear essa quimera
A altivez da morte que insiste ser tormento

Morrerei um março findo e tudo florido
No abraço meigo abrindo do frio degelo
O pranto lamento das chuvas a derretê-lo
E adentro o cansaço dos versos do sentido

Uma morte serena na solidão da melancolia
A iluminar caminho de palavras até à eternidade
Espera- me a mão estendida do deus da poesia

Respiro o último poema ávido nostalgia desejo
Que a morte chegue breve sossego claridade
E ilumine o sopro do sentir em terno beijo
...
musa

RÓSEA PRIMAVERA


RÓSEA PRIMAVERA ou...

Litania das horas arroxeadas
Fazem da rósea primavera
Floridas faces ruborizadas
Equinócio de quimera

Céu corado de ternura
Estrelas escondidas
De olhar humedecido
Iluminada loucura
De nuvens tingidas
Róseo sentido

Clarão do entardecer
Céu afogueado
A chuva a arder
Do sol escondido
Húmido rosado
Em fim de tarde
Fogo fingido
...

musa

CEREJEIRAS EM FLOR

Havia cerejeiras em flor
Nos céus da tarde
Florido equinócio em cor
Rosada magenta luz
Que em róseo tom arde
Fogo rosa céu magia
E de cerejas estrelas seduz
A primavera poesia
...
musa

GRÃO TORRADO

GRÃO TORRADO

Um resquício de café
Conta-me a história
De já ter sido verde
E diante da maré
Gaba a sua glória
Mata-me a sede
O grão torrado
Na chávena vazia
Trapezista sem rede
Em palco maresia
Diante do mar
O empregado de mesa
Com jeito de figurante
No circo do bar
Vem recolher a certeza
De que o meu olhar
Assim distante
Tem do café o sabor
Sal adocicado
Nunca gostei de adoçante
Prefiro o gosto amargo
Do café bem torrado
Que bebo de um trago
Quase a ferver
E com a língua arder
De alvissaras clamor
Escrevo um recado
Por favor
Da próxima vez
Chávena fria
Talvez
...

musa

SABOR

SABOR

Tinhas os dentes de seda
A morder-me as costas de marfim
E ouro no sabor do sentir
Tinhas coroas de cetim
E a boca a labareda
Do fogo a fingir
Tinhas o odor carmim
Duro como a chama
De perfumado jasmim
O gosto de quem ama
De sentidos morder
Na fogueira prazer
Tinhas a pele saboreada
Espinha dorsal do ser
Humanizada dentição
A saber a nada
Tal acto de contrição
A estremecer
A boca fechada
À degustação
Tinhas na mão
O mapa das minhas costas
Que percorrias a correr
De húmido desejo
É fazias apostas
Nos lábios a tremer
Por um beijo
Nosso
Amar te mordida
Algo assim sentida
Já não posso
...

musa

CLARIDADE

CLARIDADE

Os teus olhos pequenos negros
Cavalos quietos sobre dorso de sonhos
Na clareira de ensimesmados medos
Vales profundos e medonhos

Corre um rio escuro olhar
De transparente claridade
Será o amor a iluminar
Caminho da saudade

Tochas acesas de sentidos
Fluorescente alma a trespassar
Círios incendiados ardidos
Em iluminada frialdade
Dos olhos a clarear
A eternidade

Olhos pretos redondos corcéis
Olham me adentro sem me ver
Derramam tintas e sentir
São como dois pincéis
Em pinceladas de prazer
Dois cavalos a fingir
Na claridade a correr
...

musa