sexta-feira, 20 de novembro de 2015

CÂNTICO NEGRO

Uma morte é uma tragédia, 130 mortos não são uma estatística: mural e memorial das vítimas.

Paris, 13 de Novembro de 2015

CÂNTICO NEGRO
Tremia todo o indivisível olhar
Como sobre as dunas do deserto
As balas sobre os corpos a ondular
Em trajecto perdido e incerto
Em rajadas precisas para matar
Quem ousasse estar por perto

E os corpos tombados no chão
Manchando de silencio aturdido
O grito abafando o sentido
A Kalashnikov na mão

E negros vultos dançando
E negros cânticos entoando
E negros tiros disparando

A melodia bélica canção
E por terra os corpos tombando
E por terra o sangue manchando
As pedras frias do chão

Os olhos fechados sem saber
Sem nunca entender a razão
Da dança negra até morrer
A vida que se apaga em escuridão

E negro cântico arrasta a madrugada
E negro sonho assim desfeito
E negra a dor assim aliviada
A vida que se apaga uma bala no peito

E negra a raiva de quem tudo vê
E nos braços a vida estremece
E canta e embale a prece
Do deus em quem não crê
Incrédulo com o que acontece
A vida que nos braços desfalece
Fechando nos olhos o porquê
...
musa

1 comentário:

Jaime Portela disse...

Magnífico poema, muito oportuno. Gostei imenso.
Tenha um bom fim de semana, minha querida amiga Ana Bárbara.
Abraço.