quarta-feira, 29 de abril de 2015

DANÇA

DANÇA
Dançam as sombras e a luz por entre elas
Os espectros visionários do movimento
As espigas pintadas nos sacrários das sagradas janelas
Os espíritos dançantes do pensamento
Os corpos possuídos pelo sentimento
As cores esvaídas a escorrer o sangue do Graal nas aguarelas
O vento escanifrado em iluminuras de descontentamento
A dança táctil dos sentidos arrancados de bem querer
Nos malmequeres massacrados do jardim
Quando dançar em corrompido carnal dádiva de prazer
A vida se agita toda profundamente dentro de mim
...
musa

AMARGO DE BOCA

AMARGO DE BOCA
Tempero da vida
As vezes mais agre
Do que doce
Travo fel ferida
Dói e arde
Mas antes fosse
Amargo gosto
Loucura ou desgosto
Temperada dor
Agridoce sabor
Alegre desilusão
Furor sentir
Andamento dissabor
Degustada sensação
Cara feia ou a sorrir
A vida amarga ou não
...
musa

RENDILHADO SENTIR


Há por dentro do sentir aperto do peito
Mágoa profunda em húmido sangramento
A alma em desassossegado lamento
Num grito desolado dividido desfeito

Em pedaços de rendilhado instante
Para lá da vidraça embaciada e fria
O tempo esmorece a luz acutilante
A renda iluminada ponto a ponto sombria

Esfria a claridade em rendilhado sentido
Da janela do sol a frialdade do entardecer
Vê se o dia na malha do olhar perdido

Há por perto tristeza e desencanto
Rendado sentimento de incumprido ser
Dos olhos escorre a angústia pranto
...
musa

terça-feira, 28 de abril de 2015

OUSADIA

OUSADIA
Vítreo olhar esconde timida ousadia
Das saudades que ainda florescem
De aromas de vagas da doce maresia
Sonhos de lágrimas de luz se tecem

O mar onde cumpridos os sentidos
De azul espanto as ondas iluminam
Almas fundeadas naufragios vivos
Medos que o sossego desatinam

Mas resta a esperança nos olhos a flutuar
Ondas de pranto intenso em lavradio sentir
A ousada prece nos lábios de quem sabe rezar


Emocionada inquietude tempestade da alma
Apenas silenciada oração do olhar a sorrir
O verso âncora do poema que salva
...
musa

SORRISO

UM SORRISO PARA A VIDA

SORRISO
Rasga se a boca adoçando frialdade
Emoldurado contentamento do sentir
Todo o rosto se ilumina de doce claridade
Porque hoje é dia de eternizar o sorrir

Sorri a vida em terno contentamento
A alma florescida de luz e encanto
As vezes enevoado o pensamento
Escurece de lágrimas o riso pranto

São sorrisos sonhos delírios sentimentais
Rasgam se alegrias iluminando sentidos
Lábios floridos em esgares sensuais

O riso é enamoramento de ternura cordial
Rir adoça a alma de momentos vividos
Porque sorrir é viver a vida de forma especial
...
musa

UTOPIA

UTOPIA
Caiaste os lírios de azul celeste
As brancas paredes de rosas vermelhas
Murcharam no tempo as que me deste
Os lírios do vale chamas centelhas
Na sombra escura do cipreste
Debaixo de um céu de telhas
De estrelas que tiveste
Como rosas em mim
Sonho jardim

A cal empedernida secou as gretas fendidas
Da ferida encarcerada de névoas sem fim
Perfumada de delírios a alma de vidas
Goteja a pétala húmida carmim
De outras pétalas caídas
Da flor em mim
Sonhada

Que outra forma de vida pode ser alcançada
Na utopia semeada de sonhos e pensamentos
As portas abertas à húmida madrugada
Onde rasgar ilusões e sentimentos
...
musa


MÉDIA LUZ

MÉDIA LUZ
Que sentir trespassa essa média luz
Na ombreira do silêncio demorado
Esgar luminoso de sombra seduz
O teu olhar em mim deslumbrado

Pela fronte uma fresta flui a claridade
Há luz e sombra em fuga do entardecer
Que esfria olhar de morna docilidade
Em claros tons de névoa a esmaecer

Morre a tarde em horizonte distante
Além onde as aves fazem ninhos escondidos
A média luz voa tremula cintilante
Acorda palavras com asas esvoaçantes
Em crepúsculo de matizados sentidos
Há silêncios talhados de oiro e diamantes 
...
musa


sábado, 25 de abril de 2015

AMOR LIVRE

AMOR LIVRE
O vento quieto sussurra bafo quente
Nas asas liberdade vermelho cravo
Há um voo de Abril que ainda sente
Do difícil viver amargo travo
E a palavra "foder" grilhões imperadores
Travam esvoaçar deste mundo
Trabalho forçado profundo
Filão de desorientadas dores
Cortando as asas do sentir
Tingindo de rubro as cores
De um amor livre por soltar
Fodidos sem fingir
Ainda estão os sonhos por pintar
...
musa



sexta-feira, 24 de abril de 2015

ABRIL ÁGUAS MIL

ABRIL ÁGUAS MIL
um cravo vermelho floriu na janela
meu rosto ao espelho me mostra tão velha
e o tempo passou e o mundo mudou
e a chuva ainda cai molhando a aquarela
a tela que o criador pintou
a tinta se esvai e a pintura deformou
abril águas mil sorrisos molhados
olhos cor de anil esboços pintados
são pingos de amor são cravos tingidos
são rostos alegres são sonhos de liberdade
são gritos na praça são mãos de sentidos
a vida que passa num traço do pincel
o tempo de esperança em gotas de saudade
a chuva que cai em dia de abril
o poema caiado de vermelho no papel
o cravo desabrochado em palmas mil
o balão vermelho desatado do cordel
sobe na chuva em sentimentalidade
abril todos os dias ainda que esteja a chover
a nacionalidade de rubro até morrer
...
musa



domingo, 19 de abril de 2015

DO BEIJO AO OLHAR LISBOA

                 https://www.facebook.com/NunoTrindadePhotography

DO BEIJO AO OLHAR LISBOA

Toda uma cidade feita de momentos
Monumentos de loucura em beijos de fogo e cal
Nas pedras das ruas a saudade os sentimentos
A ternura dos gestos e o sentido tão carnal

Como se a cidade fosse um amor proibido
Lisboa é paixão e um ternurento amante
Deixando no coração leve e solto sentido
Ave migratória de um país distante

E apetece amar esta cidade de um gozo doce profundo
Lisboa é tão portuguesa e tão do mundo
Agora mais do que nunca especial
Mulher feita de sentir e poesia
Do poema um delírio capital
Do verso a universalidade da fantasia

Um espelho de águas ensolaradas poalha de luz
Do Tejo as Tagides espalhando sua magia
Do castelo de S. Jorge e o Bairro Alto que seduz
De poemas veleiros de varina inspiração
Das varandas flores nos canteiros a alegria
Dos bairros populares as marchas e a canção
E este encantamento de loucura fugidia

Do beijo ao olhar toda a cidade é pranto
Nos teus olhos de menina em ternura descoberta
Escorrem lágrimas de emoção de sonho e de espanto
Aprisionas cativante vespertina luz secreta
À beira Tejo mar da palha do Restelo o casario branco
O Rossio é um amante feito homem cavaleiro
Que tanta sedução em mim desperta
Nos olhos curiosos essa loucura encanto
O instante a despedida o aperto derradeiro
Digo te adeus e sei que vou voltar
Com lágrimas de emotividade vou chorar
A saudade sentida do Paço o Terreiro
Onde ainda ficou o meu olhar
...
musa

quinta-feira, 16 de abril de 2015

FINITO PLÚMBEO


Ainda que a tarde espessa lívida cinza
De um plúmbeo pesado cinêreo
O sol ausente etéreo
Parece morrer
Nessa finitude
Do entardecer
Em inquietude

Humedecida frescura da maresia
Verdes são já os rebentos da primavera
Bailando em névoa sobre a copa das árvores
A luz fímbria de chumbo esfria
A noite acinzentada espera
De novo amanhã ser dia

E são todos os dias assim olhando o mar
A plenitude campestre que me aconchega
À espera de tudo acabar
Na cinza nostalgia
Que nunca chega
Ao meu olhar
...

musa

domingo, 12 de abril de 2015

LÁPIDE

LÁPIDE
Rosas carnais em chão de alabastro
Espinhos punhais rasgando fitas de lastro
Unindo pérolas negras de fina porcelana
Pedras sangrando a alma misteriosa estranha
Corpo subtileza de brechas despidas
Rasgos de palavras escritas sentidas
Na raridade descrita de um verso ternura
Talvez o rascunho da imperfeita loucura
Aprisionei o sentir onde a rocha abriu
Fendas ansiosas de pedraria brilhante
Iluminada fresta donde a vida assim partiu
Se agora mármore vidrado sangue arrefeceu
Que a morte ainda húmida e distante
Na pedra fique a saudade que morreu
...
musa
em Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva de Espinho

quarta-feira, 8 de abril de 2015

AGONIA

AGONIA ( para a Odete Ferreira )
Saber te tão bela e colorida no teu sossego vivo
Lembrar te sôfrega agoniada em tão agreste intimidade
Uma tela nos montes perdida quase um segredo escondido
A água a brotar das fontes fresca e lívida a veste de saudade


Assim é a montanha quase uma alma um grito profundo
Lonjura de Trás os Montes salpicada de flores silvestres
Manto de granítica súplica de um corpo quase um mundo
Além todas as pedras e essa loucura dos aromas campestres


A nordeste de um Portugal norteando
Do frio mais gélido a um estio infernal
A terra toda o vento vai amansando



Dizem do demo será ou que anjo a veio pintar
Esta agonia de cores e cheiros tão espiritual
Que até depois da morte na eternidade eu hei de amar
...
musa

TEU ROSTO

TEU ROSTO

Carrego comigo teu rosto
Que mal há em dizer ao mundo
Dessa tristeza ou desgosto
Dessa magnitude profundidade
Misto de inquietude saudade
Carregado triste profundo
Com marcas de idade

Fechos os olhos e não consigo esquecer
A hora em que o teu rosto encerrou
Momento de ternura intimidade
O olhar que parece dizer
Demora por dentro o que sou
Tempo de loucura tenacidade
Rosto de doçura lealdade
De quem morre a viver
Com olhos de quem chorou
Esse íntimo sentir
Quase pranto prazer
E timidamente parece sorrir
Encantamento a cumprir
A triste dor de ainda ser
Alma dura em sofrimento
No limbo insano do sentimento
Onde padece todo o ser

Nunca mas nunca esquecerei
O que a vida da morte me deu
Olhar perdido macerado
Com lágrimas que já derramei
Entre a terra e o céu
Esse rosto que não é de ninguém
Tão triste tão ofendido tão pesado
Não era senão o rosto marcado
Do olhar sentido de minha mãe
...
musa

segunda-feira, 6 de abril de 2015

INFÂNCIA

INFÂNCIA
Pedaço de tempo desbotado
Dos olhos tão escondido
Das lembranças perdido
Das saudades sentido
Para além do sentir recordado
Metade de mim dos meus dias
Volta a chamar te infância
Pudesses ouvir este chamamento
As minhas tristezas e as minhas alegrias
Do que ainda em mim é essa criança
Que não me sai do pensamento
E é tão viva lembrança
A avivar o sentimento
De tão saudosas fantasias
Queria tanto ouvir a tua voz
O teu riso de menina
Quimeras ousadias
Magias euforias
Chamar por ti
Ainda serias
O que senti
...
musa

MÃOS DE RENDA

MÃOS DE RENDA
Rendem as tuas mãos minha mãe
Das consumiçoes e dos cansaços
Das dores e das tristezas também
Das meiguices e dos abraços
Rendadas alegrias de cordão branco
Em rendados passos
A renda dos olhos em pranto
Afectos de nós e de laços
O tempo ponto a ponto de encanto
Das tuas mãos minha mãe
O crochet das horas em lassitude
Ponto a ponto em infinitude
A renda dos anos em dias
A multiplicar alegrias
De rendada magnitude
Nas tuas mãos o tempo
A marcar a atitude
O sentimento

Mãos de renda trabalhada
Ponto a ponto unido
O fio de algodão entrelaçado
Em rede ou crivo
Quase nada
Resta agora
O fio deslaçado
Na ponta da agulha demora
O teu olhar calado
...
musa

MENINA PAPOILA

MENINA PAPOILA
No campo entre a verdura
Da seara em esplendor
Nasce a menina ternura
Da papoila rubra flor
Entre o trigo e o malmequer
Vaidosa de chita o vestido
Baila a trigana mulher
De cetim vermelho o tecido
Cabelo negro silvestre
Papoila rubra ao vento
Menina de olhar silvestre
Não me sai do pensamento
Tiara de negras sementes
Entre a verdura trigueirinha
Nas malhas doces e quentes
Faz travessuras de menina

Os campos de trigo e papoilas
Ao sol filhos do tempo
Lembram danças de moçoilas
Em valsa do pensamento
...
musa

TARDIO SENTIR

TARDIO SENTIR
Já é primavera outra vez
E dentro de mim
Este inverno demorado
Tardio sentir
Verde honradez
Frio sem fim
Tempo esverdeado
Primaveril
Talvez
O silêncio a iludir
O olhar cansado
O rosto espantado
A natureza a explodir
O rebento viril
Dos sentidos em mim
Quase somente pranto
As lágrimas da estação
A humedecer o jardim
A derramar o desencanto
Da primavera solidão
Temperada frialdade
No morno sentimento do coração
Renasce quieta e florida a saudade
...
musa

DIZER-TE

DIZER TE
Não sei se ainda há lágrimas por dizer
No veludo húmido do teu olhar
Não sei se ainda há palavras por escrever
Na seda ventosa da folhagem
Não sei se ainda é azul o mar
O choro tépido aveludado
Que humedece a paisagem
Dos sonhos em flor
Onde se diz o amor
No coração guardado
Talvez ainda haja borboletas no jardim
Ouvir dizer te quero te só para mim
Ficar para sempre a teu lado
Num querer sem fim
Florido sentido
Perdido

Dizer te
...
musa

quinta-feira, 2 de abril de 2015

UM POEMA A MANOEL DE OLIVEIRA - RIP

UM POEMA A MANOEL DE OLIVEIRA

e agora... a infância encavalitada na história da Ribeira
e o sonho cumprido hoje no eterno além doce
e inocente como o sorriso que deixas correr no Douro feliz
com lágrimas pela tua partida...

e faz-se o poema de palavras sem o verso
nas tuas mãos enrugadas curva-se o tempo
em vénia aos dias cumpridos pelo universo
que tão meigamente te acolheu
o filme da memória regista o pensamento
que em lágrimas tanta gente emudeceu
o sonho de imagens no rio imerso
ondula o rio Douro pelo vento
choram o Mestre que morreu
na Ribeira do sentimento

olhamos a tela a preto e branco iluminada
com o teu olhar sereno de contentamento
o Porto é uma cidade a ti curvada
eternamente feliz desse enamoramento
e diz-te Mestre... Obrigada
musa