sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

ATALHO

ATALHO

As palavras sempre foram meu último reduto
Anuência escape luminescência atalho
Deixo entre elas o pensamento devoluto
Escritas as palavras denunciam o que valho

Essência líquida em sentimento visceral
Encurto o tempo que toma as palavras de mim
Sou toda eu âmago esse ser o sentir carnal
Que hei-de cumprir transcendental até ao fim

O verso somente a forma curta dos sentidos
Como descarnada a alma do corpo poesia
E tudo assim desnudado aos olhos despidos

Deixam ver para além da vida a eternidade
O gozo desmedido do apogeu em demasia
Que é sentir na morte o alcance da saudade
...

musa

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

DEVO ESPERAR?

Corro para os teus braços abertos
Tu que sempre me ensinaste a esperar
Os instantes de ternura tão secretos
Quando nos teus olhos havia tanto para amar

Havia dentro deles um sentir tão profundo
Riso calmaria agitação e lágrimas de permeio
Quando me olhavas era neles que eu via o mundo
Tão alegre colorido sorridente e nunca feio

Depois... um dia foste embora e disseste que não voltavas mais
Aprendi a sorrir com olhos de saudade
Lá fora sussurrava o pranto da demora dos vendavais

Um dia... um dia volto para dentro dos teus olhos e conto te...

Devo esperar? Perguntei-me vezes sem conta a chorar
Como se o destino abrisse a porta da felicidade
Porque esperar um amor sempre humedece o olhar
...

musa

LUA DE FRUTOS VERMELHOS

LUA DE FRUTOS VERMELHOS
Amei frutos vermelhos
Na penumbra ensanguentada
Escorre da escuridão
O sangue das luas mutante
Nas estrelas a patina dos espelhos
Cardume iluminado da imensidão
Tingindo luz e sonho o pomar distante
Onde vou colher amoras de paixão
Amar sem dizer do tempo
A intemporal prece assim murmurada
Escorre da alma denominada
Oração do pensamento
Doce prazer
Há em cada fruto a alvura do nada
Talvez sem querer
Reza ou sentimento
Os frutos vermelhos da madrugada
Rompendo de luz a noite escura
Um gosto rubro de alvorada
Amanhecida loucura
...

musa

sábado, 21 de fevereiro de 2015

DIZ-ME

DIZ-ME

Diz-me que ainda há palavras na alma do teu olhar
Que há sentidos descritos desse sentir tão carnal
Nos olhos o corpo feito escadaria até lá chegar
O fogo dos tempos do ser transcendental
Diz-me que ainda há neles a doce leitura
A estranha vontade de seduzir
A insana loucura

Diz-me desse fogo aceso a luzir
Em manso olhar de doçura
O gozo preso por cumprir
Em altar de ternura

Que há estrelas no brilho escuridão
Dois círios iluminando umbral de claridade
Diz-me que vês nos meus olhos a doce ilusão
Que faz dos sorrisos pórticos para a clandestinidade
E o teu olhar tão perto do meu
Em tão sentida distância
Faz me lembrar de onde o céu
Era um sorriso de criança
...

musa

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

UMA PORTA FECHADA

Aberta a passagem ao largo do umbral
Asas agitam-se como andorinhas negras
Entreaberta a porta das borboletas pretas
Deslumbram sombras do sonho transcendental
Abrindo para o mundo as ilusões secretas
Os olhos fechados do imaginário ao real
Num voo silenciado sentido

Deixam entrar da obscuridade profundo caudal
Que emerge das palavras loucura sabedoria
Como se o mundo andasse perdido
Da noite e do dia

As entradas e as saídas como páginas viradas
Tantas as vezes que cruzada essa ombreira
Páginas e páginas folheadas
Assim dessa maneira
À luz da cúpula festiva
Altaneira

Prece oração ladainha a palavra viva
Faz-se rainha dos porões do pensamento
E vive a magia do sentimento
A ilha de porta aberta
Que somente o vento
Em dança mistica discreta
Parece querer fechar
E de portas a abanar
A alma cogita
De luz a brilhar
Nas sombras se agita
A esvoaçar
...

musa

OLHOS DE GATO

OLHOS DE GATO
Dizem olhos de gato tem
Azuis faróis da escuridão
Pois vê no escuro como ninguém
O azul do céu em dia de Verão
Do mais perto ao mais além
Olhos azuis serão de gato
Quem os olha com desdém
Tantos verdes castanhos já vi
Ouço dizer por eles me mato
De tanto ciúme que já senti
Se os meus olhos são de gata vadia
Andarilha de telhados altaneiros
Sobre as telhas da vida em que me perdi
Em busca de inspiração poesia
Para deixar os teus prisioneiros
Não olhes o meu olhar felino
Não vas ficar cativado
Por esses olhos derradeiros
Que são prisão do destino
Olhos de gato mal amado
Que se perdeu no caminho
...

musa

DESVARIOS POÉTICOS

DESVARIOS POÉTICOS

Teu olhar calmo, sereno,
Que nos sorri cada dia
É qual bálsamo pleno
No fulgor da fantasia

Se meus olhos serenos são
Sorrisos calmos de poesia
Encerram eles doce solidão
Bálsamo luz de nostalgia

Não me canso de te olhar
De ver sorriso tão são
Que nos obriga a cantar
O que sente o coração

Cansaço meiga inspiração
Da alma sorrir tão perfeito
Doce é o teu coração
Que bate poesia no peito

Se há peito em cujo leito
Habita a paz e o amor
Só pode ser o teu peito
Seja onde quer que for

Imperfeito poema coração
Altar do amor tão discreto
Se prece poesia ou oração
É o teu jeito poeta secreto

Imperfeitos sao meus versos
Mas nas palavras que digo
Traduzo sentir's diversos
Que descobri como amigo

Versos palavras amizade
Quanto vale a poesia
Sim Amigo de verdade
Foi conhecer-vos um dia
...

musa & José Sepúlveda

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

SEMPRE VOU LEMBRAR TE

            19 de Fevereiro...

Sempre vou lembrar-te neste dia
Ainda que o tempo teime em apagar-te em mim
A trémula tímida nostalgia
Um grito na voz de alguém
Murmura a negra poesia
A boca húmida carmim
Rindo com desdém
Cruel heresia
O teu fim

Sempre vou lembrar o odor das violetas
A dor que trespassa as pétalas tumulares
As lágrimas silenciadas tão secretas
Que contigo levaste a sepultares
E o mês de Fevereiro tão sentido
Tinha o doce perfume antes de tu me deixares
Parece morrer esquecido
À espera de voltares

Como poderei esquecer se sempre vou lembrar
Esse amor que tão cedo perdi
E levou as lágrimas todas por chorar
E a dor que ainda não senti
Por dentro o cansaço profundo
Do odor das violetas impregnado
Como se a vida o mundo
Ficasse para sempre contigo enterrado
...

musa

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

MAR FATALIDADE

MAR FATALIDADE

Cerco me de mar acinzentado
Rugindo fúria nevoenta claridade
Há as pedras e a maresia lado a lado
Que da ocidental praia se fez saudade

Refúgio me na cadência das vagas barulhentas
Há folhos ondeados de tubos espirais enroladas
Trazem areias mesclas de cores castanhas amarelas cinzentas
Deixam no areal bolhas de espuma rebentadas

Que mar cinzento fere os meus olhos enfurecidos
Falta lhe a luz do sol amaciando a alma
Que sal e lágrimas temperam de lembranças os sentidos

Rugem as vagas de tão doce o silêncio humidade
Salgando de nostalgia a tarde calma
Esse mar cinzento triste sina fatalidade
...

musa

A VOZ DOS MORTOS

A VOZ DOS MORTOS
É à noite que ouço a voz dos mortos
A insônia viva dentro de mim
Os olhos na escuridão absortos
Em busca da luz rasgando como espadachim
Brechas fendidas de recôndito desfalecer
O grito consciente silenciado sem fim
Na noite desprovida de quieto adormecer
Murmúrio prece ladainha cortante
Vibra o silêncio reza do escuro dos sentidos
A noite do pensamento no limbo do ser
Negra pesada longa espessa alento amante
Invade desde os tempos idos
A hora noite distante
Da voz dos vivos
...

musa

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

GRITOS

GRITOS
Há pessoas que nasceram para não serem
Vagueiam como uma ferida por curar
A vida por sarar em pustulenta cicatriz
Pessoas que ao olhá-las ferem
A intimidade sangrenta infeliz
Da podridão sociedade
A solidão da cidade
Olhos fechados
Que não condiz
Essa realidade
Do sentir
Os tempos conspurcados
De miséria dor infelicidade
Que todos parecem consentir
Dias desumanizados
A mentira pura verdade
Uma lágrima a sorrir
Um tempo sem idade
Para viver humano
Que queima arde até ferir
E por mais estranho
Que seja a alegria pobre
Nada mais resta ou sobre
Desse sentir tamanho
Injusto imperfeito
Que agonie o peito
De tão leviano
Mundano
Bichos com olhos de gente
Enredados pelos cantos das esquinas da rua
Que tantos temem que tantos não sentem
Nos vãos das escadas nas entradas
Ao sol à chuva ao vento ao frio ou sob a lua
Feitos amontoados de pequenos nadas
Debaixo das pontes sem horizontes
Despojados famintos fantasmas vivos
Sem fronteiras de afectos sem trincheiras ou pontes
Que unam e desamarrem gritos de sentidos
Na dignidade da vida
Enaltecendo o ser
E não se sintam perdidos
Com vontade de morrer
...

musa

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

CREPÚSCULO

CREPÚSCULO
A folhagem dourada
Dispersa leveza insustentável
De brisas por colher
O estio parece torpor
A paisagem esfiapada
Franja persa do tapete inimaginável
Do alto das nuvens a transparecer
Asas do voo incendiário do condor
Afogueando céu de azul esplendor
Róseo nu em silhueta deusa a brilhar
Tinge branco de cor
Azulado rosa seduz
Que sol ousou dourar
De rubra dor
Luz
...
musa

domingo, 8 de fevereiro de 2015

CARONTE

CARONTE
Caronte verteu lágrimas brilhantes
Moedas soltas na luz do horizonte
Mais duras que pedras diamantes
Brilham no fundo escuro da fonte



Barqueiro que deixa enfim passar
Estela boreal para além claridade
Pranto iluminado do meigo olhar
Oferenda jorrando a impunidade



De Hades trespassa a noite vagante
O óbolo mordido do fino metal
Luzindo eterno o grito aceso errante

Que luz divide mortos e vivos do mundo
Lava na fonte o choro divino carnal
O último suspiro exangue profundo
...
musa

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

GUME DA CASTIDADE

Esse monstro pura maldade
a mutilação genital feminina
em lâminas sujas de crueldade
religião ou castidade
que lei alguma ensina
sem impunidade
a essa menina de pernas abertas
para o fio da navalha a brilhar
nos olhos o medo a cintilar
e por dentro as dores secretas
que cala sem poder gritar
na boca amordaçada circuncisão
nos lábios calada a indigna dor
no corpo a pele a escaldar
a prática da negação
desumano amor
a faz chorar


magia ou tradição
cultura ou loucura
sonho ou condição
não é mais do que tortura


que pureza honra assim violada
corte profundo de ternura
grave ofensa mortal
corpo de mulher assim estuprada
essa insanidade carnal
infame punhal
derrama a inocência da criança
roubando-lhe a alegria da infância
a intimidade o prazer
com que direito afinal
se mutila assim um SER

musa

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

SONHO QUE ARDE

SONHO QUE ARDE

Na pálida tez
De noctívago cio
A noite sombreada
Umbria timidez
Ainda criança
Lembra a infância
A beira do rio
Deixada

Pupilas são
Minhas meninas
Feitas do nada
Cerradas luto cílio
Húmido suor
Tratado concílio
Da íris solidão
Leves pequeninas
Unidas pelo amor
Do olhar ilusão
Desencanto

Gratificação desmesurada
Enche pálido pranto
O aperto do peito
A alma sangrada
Desmedido imperfeito
Do tamanho do mundo
A vida feita de nada
De um sono profundo
Sonho que arde
A querer acordar
Para mais tarde
Recordar
...

musa

SONETO DA CEGUEIRA

SONETO DA CEGUEIRA

Descem sombras sobre o olhar
Temível véu negro cai nevoento
De formas disformes a perturbar
Nos olhos esse escuro macilento

Que teima em pintar cinzento e baço
De bafiento sentido o colorido da vida
Trazendo aos meus olhos duro cansaço
Deixando-me inquieta e tão perdida

Perco a nitidez dos traços na terrível cegueira
Entrega se a alma ao pranto humedecido
Que triste é viver assim desta maneira

Que céu de tempestade encobre o ver
São as negras sombras do olhar sentido
Lágrimas escondidas em tímido sofrer
...

musa

DOCES NOITES

Doces são as noites de sonolência
Enredada nos sonhos de ébano frio
Na palidez da tímida transparência
Perde-se o tempo arredio
Curvam-se as horas em pastoreio
Por planícies de escuridão
Na doçura lenta do vazio
Há o sono que não veio
A meio da noite a solidão
Temível loucura do sentir
De mim transparece
A sombra e o ser
Sem fim desfalece
O corpo a pedir
Adormecer
...

musa

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

NÃO QUERO MORRER

NÃO QUERO MORRER

Não me deixe morrer eu quero viver
Quando da vida depende o teu gesto
Gratidão justiça desse humano querer
Grito arrancado vivo em dor manifesto

Não amordacem agora o silêncio inocente
Não pensem sequer em baixar os braços
Não abandonem à morte a sorte de gente
Que não tem culpa do entrave aos passos

Que lei alguma possa travar grito cansaço
Deixem caminhar quem urgente quer seguir
Ou viver de sorrisos de filhos ao regaço

Dar-lhes colo e poder abraça-los por muito tempo
Não me deixem morrer eu quero viver eu quero sentir
Por favor não ignorem este grito de tantos este lamento
...
musa

ESMERALDA

ESMERALDA

Teus olhos tão verdes de preciosa gema
Ah como eu os queria de esperança viva
Versos viçosos fantasia loucura o poema
Que enobrece as palavras de luz sentida

Verde esmeralda no olhar campos de flores
Prados verdejantes com alma tão sentida
Não transparecem dos sentidos suas dores
Promessas orações preces rosário de vida

Que olhos verdes sem traição malicia ilusão
Espelhos transparentes de profundo sentir
Dor ou raiva que esconda desgosto ou solidão

Há nos teus olhos verdes preciosa claridade
Jardins floridos de esperança a refulgir
A verdura timida do tempo em saudade
...

musa

FONTE DOS SUSPIROS

FONTE DOS SUSPIROS

Suspirei lágrimas feridas de uma saudade ausente
Na fonte dos suspiros a água da verdade que corria
Das carrancas atrevidas que mais parecem gente
O pranto dos cânticos aguados nos meus olhos sorria

Espelhada nas pedras calçada a alma da cidade
Um fado corrido de uma guitarra tangente
Talvez haja na fonte água pura fatalidade
Que destino cante o que a vida sente

Corre água da fonte em doce segredo
Enquanto a vida citadina adormecida
Suspira na bica gotas de medo

Na fonte dos suspiros não há desgraça
Que alma alguma seja esquecida
Nas pedras da rua do Carmo até à Graça
...

musa