segunda-feira, 29 de setembro de 2014

OLHOS AZUIS

Versos de amor
teus olhos de cor
de azul que não existe
uma flor que resiste
no jardim por colher
tão azuis que ferem
anil imperfeito
qual alma no peito
se a tiverem
que não a possam perder
por olhar azul nenhum
como eu já me perdi
esses olhos azuis que eu vi
pétalas de sentir um a um
no meu olhar consenti
haver tão belo desabrochar
rosas azuis a despontar
em doce profundidade
ah... olhos teus de azul florido
orvalhando o meu olhar
de intensa felicidade
perturbando o meu sentido
dando cor à minha idade
em azulado proibido
...

musa

MATIZES

MATIZES
"o imprevisto transtorna a pontualidade do relógio.
é nessa incerta hora. amor.
que irrompes. como chuva torrencial.
um tique taque. que enlouquece.
és o tempo demencial
imprevisível
do meu relógio de pulso
a.s"

matizes ao abandono
sou gota intemporal
da caleira do teu sono
incerta pontual
a cor esbatida
sou demónio
que te seduz
sou vida
sonâmbulo ser
nuances luz
heterónimo
parecer
...
musa

sábado, 27 de setembro de 2014

LÁGRIMAS A SORRIR

... onde andam as gotas de chuva
as lágrimas dos teus olhos a sorrir
por onde anda a brisa do sentir
derrapando a última curva
antes de ser verso
e o vento varrendo de estrelas o universo
a chuva luminosa de Aquáridas ou Leónidas
mostrando da luz o reverso
céu de fogo carmim
meteoros caindo
ou o teu olhar sorrindo
para mim
...
musa


a folhagem do Outono explode em pequenos ladrilhos
mas tu ainda vens com o último quimono de Verão
da esplanada onde te encontras
avistas a ondulação
esfarelada dos navios
os teus cabelos como ulmeiros
estendem um abrigo
para o dueto mudo das caricías
a.s

há na ondulação dos teus olhos descobertos
o brilho dos espelhos ladrilhados
milhões de reflexos do prateado das vagas
a emoção de bailados secretos
sonhos desfraldados
memórias amargas
no encadeado da luz outonal
entre as cores adormecidas
o Verão nunca mais será igual
no embalo agitado das nossas vidas
...
musa

moro aqui
página em branco
trincheira inútil
imaginando-te a transpor
o muro alto das palavras
moro aqui
emboscado
tentando salvar
remendos de um futuro às escuras
os olhos pesam
os joelhos tremem
as portas estão trancadas
rapta-me
a.s

no vazio das tuas páginas deixo-me ser
morada aberta em cais nenhum
nas tuas mãos de sal a tremer
a trincheira onde um a um
os teus sonhos pescam a sonhar
um barco entre vagas a adormecer
onde as palavras vão navegar
dos teus sonhos que pescas a sonhar
nas páginas em branco por escrever
...

musa

terça-feira, 23 de setembro de 2014

TARDE A OURO

A tarde consome-se em tons dourados
Nuances de ouro novo e velho
Martelados na forja do poente
Consente envelhecidos mesclados
Na linha cega do horizonte
Desflorada cor da luminosidade sente
Cair uma lágrima de luz como água da fonte
Em folha húmida de ouro parece iluminar
A talha dourada do entardecer
As cores do sol a esmaecer
Na linha quieta sobre o mar
A luz do sol a morrer
De oiro nácar
Nas águas a boiar
A última réstia de luz
Onde o sol seduz
De ouro a brilhar
...

musa

SORRISO DA TARDE

“vi a tua infância sentada à mesa. era uma infância muito diferente das outras que conheço .vestida de arlequim quando chovia.com olhos de rio quando fazia sol.gostei tanto de a ver ali sempre sentada a sorrir.um dia vou pedir-te para vires comigo virar do avesso os sisudos. a.s”

havia nos teus olhos caminho para essa infantilidade
o sol montado em andas saltitava o rio sobre o brilho do teu olhar
as cores do arco-iris do teu sentir pintava a saudade
a chuva salpicava de sorrisos o teu sonho a delirar
às vezes ainda volto lá para além da infância dessa idade
sentada nos teus sentidos lembro a tarde a sorrir
em que viraste do avesso a ilusão
a sentir num arremesso de paixão
...

musa

SOLIDÃO

SOLIDÃO
Agride me a noite inventada de ausência
Há demasiados silêncios por inventar
A luz esconde a luminescência
Onde a sombra deixa iluminar
A escura fluorescência
A noite tem vazios que só conhecem o teu nome
A cama remoída
Solidão sem saída
Sede e a fome
Luz e pó
Quem dorme na minha cama
Entre sedas e algodões
No aconchego sombrio
De estranhas recordações
A cidade e o rio
A tua alma que ama
Mais do que a luz o vazio
A tua falta de mim
Do meu riso sem razão
Escuridão sem fim
Na entrega solidão
 ...

musa

BREVIÁRIO DE OUTONO

Das sombras da luz do olhar
Breve claridade esfria
Luminosidade do tempo
E deixa trespassar
Cores em sintonia
Pela mão do vento

Breve a brisa desmaia
O verde em adamada cor
De ocre pigmento
Como a luz que caia
Brancos matizes da flor
Tinge-se o rubro de amarelos
Húmus de castanhos e laranjas e roxos e vermelhos
Os tons mais quentes e singelos
Da quimica outonal
Do envelhecer os espelhos
Da ordem natural
Do tempo

Em intimia frialdade
A harmonia adormece
Saudade sentimento
Deixa para trás a mocidade
A juventude desfalece
A idade madura
Que somente parece
Ternura
....

musa

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ABRAÇO OUTONAL

ABRAÇO OUTONAL

Chegas Outono
Aos braços virgens
Na cumplicidade ventania
Ergues bem alto teu trono
Real nudez

Despes as folhas da fantasia
Alaranjados amarelecidos ocres
Nuances outonais de timidez
Envelhecidos sentidos
Doce palidez

Do abraço o vento enfurecido
Deixando nuas as árvores verdes
Tomba pelo chão o seu vestido
Outrora da cor das sebes
Em remate corrido

A campina solta florida
O verde pasto do prado
O gado enche a de vida
O tempo faz lhe o agrado

A chuva torna a bucólica viçosa
A erva cresce tapete frescura
Junto ao regato um botão de rosa
De Outono perfuma a de ternura

O quadro pintado uma aguarela
Em outonais tons campestres
Como se o tempo abrisse janela
A aromas melancólicos silvestres
...

musa

OUTONO LACRIMAL

OUTONAL LACRIMAL

Chegas manto cinzento
Fardo húmido lacrimal
A seda tombando vento
Oblíqua força sideral

Olhar faiscando
Dócil trovoada
Dos céus revoada
Chumbo martelando

As folhas amarelecidas
As árvores ainda em pé
Resistem ao tempo vidas
Na alma a oração e a fé

Chegas Outono frialdade
Creio que nem partiste
A chuva parece saudade
O frio tempo insiste

Sobre a terra cai lacrimal
Pranto dos deuses ou anjos
No espanto da força divinal
Rufam nos céus choro de banjos
...

musa

PERDA

PERDA

Este sentir secreto e triste
Este vazio que adentro insiste
Desperto profundo sentimental
Como peso do mundo descomunal

E do ser a alma assim desprendida
Como se o fim fosse doce e natural
Aceitar perder o melhor da vida
A dor a rasgar lâmina do punhal

Do peito sangrado em desolado pranto
Aberto na carne dos sentidos a ferida
A perda mais viva desespero desencanto

Porque sinto tanto e das mãos a escorrer
Desperto pensamento que me tira a vida
E do sentir intenso parece querer morrer
...

musa

DESTINO

DESTINO

rasga as palavras deixa-as pelo chão
traz pétalas caídas sobre a terra fria
as palavras rasgadas a cair da mão
da flor desfolhada e sombria

não esperes que ela seja morta
seque murche assim desolada
tombada junto ao umbral da porta
aberta para ser de luz fechada

e ao fundo do túnel tanta claridade
aromas de flores apodrecidas
odores de velas a arder
a lúgrebe saudade
lágrimas perdidas
a escorrer
...

musa

domingo, 21 de setembro de 2014

LUZ DA TARDE

" de uma da tarde
atravessada pela sombra
do cortinado
ficam dois ou três
cristais de luz
coados pelos teus olhos
cheiro a maçãs no lençol
sinais de uma lenta tempestade
no amarrotado lenço
com que limpas o último friso
de suor.
a.s"

Miríades espalhadas como sombras de luz
pelo chão o mapa astral do desassossego
o rendilhado do cortinado reproduz
o tempo dos teus olhos guardando segredo
do tempo que demoras em mim
em iluminado sentir
a luz a desmaiar
se o azul do olhar ou o rubro carmim
na tela da alma por pintar
choro ou gemido
uma lágrima a cair
dos lábios a sorrir
sem sentido
...

musa

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

EQUINA LUZ

Quero a luz equestre
Cavalgando o brilho do teu olhar
A sela libertando o aroma silvestre
Dos lábios em crina ao vento do sorrir
 De todos os sonhos por decifrar
Em luzidio rasto
As rédeas soltas das tuas mãos frias
Segurando a pele do meu sentir
O corpo o pasto
Troteando o passo dos sonhos a galope
As luzes distantes e sombrias
No dorso lento dos dias
O vagar do trote
O cavalgar
O olhar
...

musa

ODORATA MEMÓRIA

o vento desafia obliqua dança da chuva
ergue altares de odores a terra molhada
escorre a montanha rio de água turva
nos teus olhos acorda húmida madrugada

em pingos de serenidade eleva-se a glória
desafia tempo o sacrificio das lentas horas
madrugada impressa de odorata memória
chuva cravando o punhal odor das demoras

que cheiro esse que assim perfuma o estio
clamando pelo Outono de perfumes e punhais
morno tempo recatado das lágrimas e do frio

são tão intensas as essências da melancolia
manhã fria de sentidos tão profundos e carnais
sabem as palavras a versos de rasgada poesia
...

musa

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

DILÚVIO

DILÚVIO

Os deuses ou os anjos
Abriram as fontes
No céu a nascer

Bátegas banjos
Trovoam
Em raios melodia
Abrem entre os montes
Nuvens a estremecer
Fazendo da noite dia
Ecoam
Pingos e trovões
Em dilúvio malvasia

Embebeda-se o chão
Das uvas por colher
Da loucura dos deuses irados
Não cessa de chover
Dos céus desolados
...
musa

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

AMORES DE VERÃO

AMORES DE VERÃO
fenecem aromas floridos
onde ausentes desgostos
assumem crisalidas perfumadas
odores perdidos
de distantes agostos
onde ficaram as pétalas tombadas
agora não sei mais desse verão
as flores feitas nadas
e os amores
onde estão?
têm as pétalas asas floridas
luz do fim da estação
borboletas esvoaçantes
amores de tantas vidas
nada será mais como dantes
...

musa

domingo, 14 de setembro de 2014

OLHAR EM TI

Os olhos cerrados aguardam a hora
De transpor o tempo e viajar
Nas asas das tuas mãos em mim
Sem delongas sem demora
Para além de todas as fronteiras
O teu jeito lento de penetrar
Bosques caminhos clareiras
Sem começo sem fim
Um todo por desbravar
Terra prometida
O sentir e a vida
Vivido assim
Puro prazer
A alma da pele assim oferecida
Em mil pedaços lembrados
Os sentidos aos bocados
Em louca evasão
Terna sedução
Resgate endoidecer
Do sentir e do ser
Fecho os olhos e resgato-te a sombra do sentir
Demoro-me no instante de lembrar-te
Há mil pedacos de ti em sentidos
Os poros da pele contraídos
Nessa vontade de te invadir
De carícias e gemidos
Somente pedir-te
Vem
Para onde há esperas na pele das palavras
Membranas ténues hesitações
Quimeras olhares perdidos
Nos sulcos nas lavras
Dos sentidos e das ilusões
Instantes comprometidos
De meras desilusões
E depois e ainda
As promessas sem tempo algum
Esta dúvida que nunca finda
Pairando receios e contrariedades
O sentido quase nenhum
De desalentos e veleidades
Omisso sentir ou doce iludir
Em mentiras ou verdades
Aceitar ou desistir...
...

musa