sexta-feira, 28 de março de 2014

SOBREVIVENTE - a Paul Celan

Ríspido olhar sobrevoa existência
Acima dos corvos nenhum voo é rasante
Ecoa na memória a sobrevivência
Que tantos venceram a história distante
E nenhum olhar trouxe da concentração
Mais palavras envenenadas de vida cortante
Que aquela que separa os ventrículos do coração
E faz correr rios de histórias
Em dócil imaginação
Da morte memórias

Chega mansa por caminhos de palavras
A memória da vida a palpitar a história
Descansa destinos de mágoas
Uma dor sentida vangloriando a glória
De tão cruel poderio
Tão insipido vazio
Vil sentir

E o rio ali tão perto
A sede do deserto
A fome da loucura
Esse amor à morte desperto
Em tão doce abraço de ternura
E de assim da vida desistir

musa

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