sexta-feira, 27 de setembro de 2013

CONVULSÃO

Mansamente mar é um grito
Queimando gélido lareiro
O fogo aceso rito
Estridente desejo
Frio braseiro
Corpo quente
Sedução
Sangue frio
Na pele sente
Escorrer o rio
Húmida excitação
Ilusão dócil torpor
Prende poro a poro
Ilusório ribeiro sedutor
Nesse insano ritual me demoro

musa

GÉLIDA CHUVA

chegaste tão fria
adormecendo a luz no teu regaço
manchando de lágrimas triste o dia
a madrugada que a chuva esfria
e o vento estreita em desabrido abraço
inclemente ventania
rude insana mescla escuridão e claridade
varre a manhã que se faz tarde
de uma saudade profunda e vazia
que queima e arde
faz a carne estremecer
e a alma florescer
na chuva grossa e gélida o pavor
do trovão enraivecido
que adoça de pranto o ser
com meiguice da dor
húmido sentido
doido prazer
destemido
choro

e na manhã chuvosa triste esfriada
sento-me no seu regaço e aí me demoro
dentro da casa reparo na vidraça
tem lágrimas escorrendo
de riso ensandecendo
dor que devassa
adentro vai moendo
chove tormenta
riso trovoada
a manhã sedenta
a alma cansada
a vida já lenta
quase nada
a viver

branda sentimentalidade colheita
os céus bramindo seu rugido prazer
outonal estação assim se faz eleita
chuva vento trovoada tempestade
na terra bravia onde a vida se deita
o céu escurecido clama crueldade
tempo que se faz presente inverno
sentimento voraz eterno
chuvoso de saudade

musa

NOITE IRADA

A noite turva de raios ensandecidos

Vidrado olhar escuridão resplandecia

Gritos abafados aos ouvidos
Na clara curva se ouvia

Arrastados trovões em céu riscado

Luzeiro aceso manchando a noite

A trovoada coro zangado
O deus chicoteia silêncio açoite

Brilhos resplandecentes lágrimas esgrimidas

Grito estridente pingo de palavras

Gotas grosseria chuvosa madrugada

A noite rompida dia ventosa e abafada

Desmorona-se a manhã chuvosa

Malsã chorosa rindo ainda
A trovoada que nunca mais finda
...

musa

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

PODADURA

Tenho em mim crescimento desmedido
Ramos mortos quebrados amarelecidos
Tenho em mim o corpo gasto dividido
Como se me maltratassem os sentidos

Tenho em mim escaras secas rasgadas feridas
Rama braços inúteis galhos folhas excessivas
Tronco apetecido de uma loucura mordaz
A necessitar podadura renovação renascimento
Pensamento harmonia ternura paixão luz e paz
Na limpeza loucura do apodrecimento
Que a poda sentimento dentro de em mim faz


Insensível sentir da carne em desbaste
Poda insana do tempo lento voraz
Olhar ferido cortada haste
A vida crescida arborizada
Que esse sentir baste
Para ela ser podada
Na paz que me faz
Dentro de mim enraizada
Alento desgaste
Satisfaz

musa

MEMÓRIA

Memoria lis memoria liquida memoria luz

Flor-de-lis
Fardo incendiado
Flama que seduz
Forja do diabo

Memoria que desdiz
Do dito por não dito
Do nada que já fiz
Do tudo em que acredito

Lis liquida luz
Liquefeita
Lúmen
Larva

Albarda que me enfeita
Sonhos da memória
Cama onde se deita
A vida feita historia

Do tempo memorizado
Guardo em flor da alma
Um sono aterrorizado
Um sonho que me acalma
Um grito ate a glória

Não me chamem porque eu não vou
Não me clamem o que não sou
Escutem quem me declamou
Há todo um sentir
Esperando existir
...
musa

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

PRECE OUTONAL

O outono é só uma sombra nos teus olhos
São tonalidades dos verdes desmaiados
Os beijos tombando dos teus lábios
As mãos ventos descuidados
Desnorteando astrolábios
Humedecendo olhares cansados
Esfriando a claridade dos dias encurtados
E o sol arrefecendo tardes de Outubro
E as palavras manta quente com que me cubro
De poemas caindo em folhas do meu sentir

O outono é já ali e parece não mais existir
Meigas as estações desnudam-se ao rubro
Prolonga-se o verão e tarda o inverno
Em cada momento o sentimento eterno
É um abraço imenso sentido profundo
Um verso desconcertante outonal
Das várias nuances deste mundo
Que se quer vivo carnal
Num outono adormecido
Em prece renovação
Dormente despido
Quase oração

musa

domingo, 22 de setembro de 2013

ENTARDECER DA ALMA

É possível imortalizar na tela
Todo sentido de um entardecer da alma
Nas cores afogueadas da estrela-d’alva
Num tom esvaecido de aguada aquarela
Imortal sentir da alma entardecida
A terra toda nesse encanto
Na mescla esmorecida
Do pincel em pranto
Pintada a vida
Nesse tanto
Sentida

É possível guardar silêncio da alma inteira
Num risco esboço esquisso pintura
Aprisionar de tintas a loucura
Do mais profundo sentir
Em rasgo derradeiro
E de traços permitir
Em dócil improviso
Da tinta do tinteiro
Delinear impreciso
Insano juízo
Cumpre certeiro
Sonho do pintor
Sonho do poeta
Sonho da cor
Ágil mão

Pintada a alma razão
Os sentidos libertos pássaros a esvoaçar
O poema pintado
Os sentidos despertos pássaros a adejar
Pintura emoção
Os sentidos secretos pássaros a ondular
Retrato da alma
O sentir retratado
Em entardecida imaginação
Poente crepuscular
Da ilusão

musa

EIS

Eis que das tuas mãos se ergue o sonho
A palavra o verso o poema a poesia
Eis que ao teu olhar deponho
Flores no teu altar
De fantasia

E do sentir a prece enfurecida
A oração que roga a vida
O sentimento

Eis que do olhar se levanta o vento
E em onduladas palavras se ergue ventania
Encadeadas ilusões do pensamento
Em vendaval ousadia

Eis que da boca se soltam fúrias acesas
Fogo em acendalhas vivas incandescentes
Palavras que de gritos enfurecidos se sentem presas
Na garganta onde se escondem chamas fluorescentes
E brilham no olhar fogueiras heresia

Eis que da pele se ergue a afasia
Suor saliva sangue mudez
A queimar de incenso nostalgia
No lume insano da tua tez
Brilha o descontentamento
Da triste alegria
Desalento
Morbidez

Eis que surjo asas fogueadas
Corpo carne braseiro
E das labaredas ateadas
O ser todo inteiro
Eis que erguida
Me sinto vida
Só sentida

musa

ENTRE DUAS ÁGUAS - Paco de Lucia - Entre dos aguas (1976) full video


ENTRE DUAS ÁGUAS

entre dois rios dual sedução
entre dois mares una emoção
entre dois lagos duo excitação

correm águas de suores e sedes
lágrimas em cascata desprendida
formam pelas mãos líricas sebes
água pura eólica liquida
erguem mantos de vento e ousadia
e no teu corpo esboçam poesia
escorre húmido encanto
entre duas águas o pranto
ergue intempérie fantasia
tempestade do olhar
avolumam-se rios mares lagos
e os olhos prendem-te de afagos
na água da fonte embebecida
olhas-me provocadora
a tua sede apetecida
do rio que agora
nasce de mim
e não demora
ter-te assim
...

musa

sábado, 21 de setembro de 2013

POEMA DE UMA MANHÃ NEBULOSA

Trazes acordados ventos esmerilados
Nos veios líquidos do olhar
Levantando vagas
Em denso mar
Olhos vagos

Trazes suspensos sonhos acordados
Em versos de profunda prosa
Teus sentidos húmidos enevoados
Em poemas feitos ventania
Na bruma choro de uma manhã nebulosa
Que de lágrimas quis ser poesia
Dos olhos tristes brumaceiro

Trazes por dentro alma nevoeiro
Em baixios tristeza densidade
Trazes gritos da ronca da saudade
O corpo intenso e todo inteiro
Gritando adentro esta verdade
Que se fez brumal do tempo
Nas veias aguaceiro
Descontentamento
Sem idade
Lamento

musa

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

PARTO NATAL

Lírica aldeia parto de Dezembro
Névoa flor bucólica paisagem
Agreste chão de que me lembro
A lã o linho a vida em tecelagem

Montanhesa pele de esperanto
Rugosas mãos mel vivacidade
Doce aldeia recôndito encanto
Aspereza vingando fel lealdade

Inverno humedecendo olhar
Terra de gélido frio brumal
Medo nos ossos a trespassar
Em parto doloroso e carnal

 Os dias pincelados nevoentos
Em vagos latidos da solidão
Por áridos trilhos pardacentos
No fio da navalha da ilusão

Renascida natal prenhe loucura
Presa memória ribeiro a correr
Dor do parto que ainda perdura
Em cada poema que faço nascer
musa

sábado, 14 de setembro de 2013

AMOR DE PERDIÇÃO - dedicado a José Martins Pereira jmp

As palavras só têm uma identidade
Esse amor de perdição
Que leva à loucura
Da alma e do coração
E no tempo perdura

Imortalizado num abraço eternidade
O peito aceso do olhar assim perdido
O olhar preso assim sentido
O pranto extinto da ilusão
Abraçada perdição

Perpetua promessa cumprida vida
Camilo e Ana assim viveram
Amor de perdição elegia viva
A ilusão que teceram
Sublime paixão
Que os dois tiveram

Amor maior possa ser
Guardado atrás de grade alguma
Encarcerada a vida e o prazer
Da eternidade que há só uma
A ilusão de assim viver
Amor maior

E em afogueado leito da saudade
Na ilusão dessa dor
Seja cumprido de palavras por escrever
Nos versos dóceis da sensualidade
Sejam cantados sonhos consentidos
Em vivo amor
Possa na perdição da alma renascer
Profundo afecto amor intensidade
Amor desperto mais do que saudade

Possam poetas ousar de tamanha vontade
E esse amor de perdição descrever
Cantos eternos dos sentidos
De um amor que ousou viver
Encantos proibidos
Onde o sentir foi encerrado
Imortal perdição
Os levou à prisão
Por pecado

musa

SOPRO D'ALMA

Amei tantos homens na minha pele
e não fiquei com nenhum
travo amargo doce fel
sentimento algum
culpa compromisso
o sentir omisso
alma e carne
desilusão

amei num sopro d'alma
saciando sentidos
amei por amar
sopros de instante
fiz do homem o amante
no sentir a plenitude
o sopro fulminante
da doce inquietude
do prazer

fiz o desejo acontecer
onde vontade adormecia
fiz a loucura endoidecer
no prazer de me ter
quem por prazer me queria
corpo inteiro de tesão
na luxuria do sentir
amar somente
bravia ilusão
e proibir

o que ainda sente
coração...
...

musa

SAUDADE - ao João...


tenho saudades do teu abraço
de que escrevas palavras no meu corpo
pelas tuas mãos cheias de sentir
de que me prendas no laço que desfaço
de nós que ato de saudades
pelo que de abraços ouso permitir
inebriantes docilidades
abraçar-te foi encontrar-me a mim
talhada no aroma da tua pele
no traço carnal carmim
do teu olhar de mel
da tua boca rio
meu leito
amor

há a languidez
onde ainda deito
do agora sombrio
doce olhar
abrigo teu peito
desesperando a nudez
com que não me podes abraçar
ao colo do teu ombro
encosto a timidez
doce enlaçar
assombro
olhar
tez

na tua fronte escrevo os dias
do que restou dos sentidos
as memórias fugidias
os olhares proibidos
meigo descanso
nosso sentir
remanso
existir
nós

musa

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

TRISTE PENSATIVA

Há um poema de um choro cativo de solidão
Um verso lavrado nos sulcos do rosto triste
Pelas palavras que por dentro a alma insiste
Desbravando a tristeza ao escrever da mão

Pensamentos que de saudade amadurecidos
São pelo sentir dos versos loucura do refrão
Na carne lavrada de tristeza pelos sentidos
Esse poema que dá ao rosto escrita desilusão

Triste pensativa alma madura sentimento
Transfigurado rosto semblante em flor
É talvez espelho alma duro consentimento

Há nos traços do olhar vínculo de uma paixão
Cativando na pele o corpo de tão ingrata dor
No olhar as portas da alma abertas à ilusão

musa

QUANTO MAIS AMOR MAIS DESISTÊNCIA - Homenagem a NATÁLIA CORREIA

QUANTO MAIS AMADA MAIS DESISTO

De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia, in "O Dilúvio e a Pomba"

QUANTO MAIS AMOR MAIS DESISTÊNCIA

De amor nada mais resta que Dezembro
Adormecida amada em sentida existência
Quantas as palavras de que ainda lembro
Quanto mais sentir amor mais desistência

No enleio deslumbrada flor oculto existir
Frio inverno de uma estação por inventar
Sol iluminado em corpo místico a proibir
Amor maior que por dentro possa guardar

Desisto não me acordes estou morta este inverno
Morri dos teus beijos na desilusão desse olhar eterno
Nem teus abraços amantes me demovem de o ser

Nuvem carregada de lágrimas tristes por chorar
Terra fogo carne e alma com o frio a trespassar
O tanto que com as mãos me dás de dócil prazer

musa

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

COLO DE MÃE-NATUREZA

Quero teu colo Mãe-Natureza
No aconchego dos teus braços frondosos
Quero deitar meu ser cansado
No regaço dos teus olhos amorosos
Quero descansar meu corpo abandonado
Mãe-Natureza de colo imenso
De peito aberto em abraços de tempo
De uma primavera florida
Em colo perfumado intenso
Bailado de aromas ao vento
Renasce comigo a vida
Em estival contentamento
Faço-me azul mar de verão
Na sombra da meiga estação
Fico a repousar
O outono que há-de vir
Vestir teu colo de cores quentes
Amornar meu sentir
Com olhares doces sorridentes
E preparar dentro de mim o inverno
Adormecido sentimento
Um canto prece eterno
Embalo da Mãe-Natureza
Que na sua elegante beleza
Se faz noiva ao meu olhar
Veste-se de branco
Gélido manto
E nela adormeço
À espera de renascer
Pequenos nadas que não esqueço
Um pouco de tudo que mereço
Por entre palavras que possa escrever
Dócil existência a florescer
Guardada ainda dentro do peito
Paisagens memórias leito
De todo meu engrandecido sentir
Com a Mãe-Natureza possa existir
E sempre acordar quando me deito
No seu colo me abraçar e consentir
E da vida nunca desistir

musa