quinta-feira, 29 de agosto de 2013

ÚLTIMO SENTIR

Na clareira inóspita selvagem
os sentidos decepados no abandono
elegem do silêncio miragem
a sanidade ausente
o não sentir
a dor

como alguém sem dono
tu não estavas lá por perto
nem o olhar indiferente
a entrar indiscreto
de luz a refulgir
demente
duro amor
que sente
fende

jardim de sombras eternidade
abulia da humanidade
dormente récita da ilusão
orgia de sentidos
abandono da razão
sonhos vencidos
épico fulgor

lapides mutantes
em trajes breu
sombras delirantes
neblina véu
detalhes alacre
escuro pútrido
aroma acre
clarão ferido
sangue lecopênico
murmúrio vivo
deslumbre cénico
moribundo vendaval
lucidez postiça
pedra carnal
luz mortiça
cio animal
bolor
cavilosa visão
sem cor
morte
não

musa

terça-feira, 27 de agosto de 2013

OLHAR O VENTO - Palavras ao vento - Cássia Eller


OLHAR O VENTO

Olhar o vento… lembras-te? – dizias-me que não se podia olhar o vento.
Rima com esquecimento.
A vida prossegue a sua caminhada mesmo carregando pesados fardos da memória arrasta as correntes do passado deixando marcas intemporais aguilhoadas de esquecimento...
Fazendo do acontecido partes de uma história por contar com fragmentos de silêncio e solidão como farpas de um vendaval destruidor de sentimentos a roer dentro de nós o esquecimento.
Esquecer. As lembranças deixaram de ter passado e presente somente porque se fez tarde reapareceram como saudades do que ficou dor.
Há carnais sentidos aflorando pensar dos instantes memorizados voz e movimentos de mãos e imagens distorcidas de afetos presos no escuro entorpecer da desilusão.
Há no vento estático olhar procurando palavras para remediar porquês que nasceram de ausências roubadas pela distância imemorial.
Depois ficou o tempo a apagar as memórias que eternizadas por palavras teimaram em renunciar ao esquecimento.
Reapareceram tomando um rosto do passado e renasceram as mesmas palavras que estavam por lá esquecidas esperando a memória cativa do sentimento adormecido.
Esquecimento rima com fingimento.
Dizias-me não poderás nunca olhar o vento. Sentia-te rasgando a pele do rosto com gume de lágrimas em oração acreditando na prece dos dias desfiados em saudoso sentir com contas de amargura e esperança.
E o vento fugidio deixou de sentir. Ficaram dias de espera desgastados pela recordação em consentimento e esquecimento.
Há um vendaval de lembranças a querer fustigar de novo as entranhas corroídas de espera. Não saberei mais olhar o vento.

musa

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

UM BEIJO PRESO NO TEMPO - a um sentir resgatado do passado...

Foram tantos os dias perdidos no tempo
Anos adormecidos marés de palavras silenciadas
As areias aprisionadas em horas de cansaços lentos
E na praia de sentidos um só sentimento
Viajante do vento

Ficou no passado um beijo preso no tempo
Amordaçado sentir inquietude pensamento
Tanta escrita por cumprir
Descontentamento
Desenlace desistir
Desolamento
Devir

Em doce bramir das folhas da alma emudecida
Retrai-se a vida das memórias fugidias
Despertam saudades de uma história esquecida
Perdida em palavras abraços da ventania
No desassossegar de inquietantes dias
Ao vento destas palavras de acalmia
Há a persistir loucura e emoção
Medo encanto sonho euforia
Um beijo preso na ilusão
Nos versos soltos da fantasia
Há no tempo solitária paixão
Há no vento a desilusão
Há no passado solidão
Escrita sentir poesia

musa

sábado, 24 de agosto de 2013

POEMA DA NOITE

A noite deu-me umas asas de luz
Em doce silêncio esvoaçante enlace
Há toda uma escuridão que me seduz
Há toda uma solidão que me abrace
Ao meu sentir que a escrita conduz
De palavras feitas de silente instante
De noite e um silêncio feito meu amante
Eram palavras tão silenciadas
Murmúrio secreto distante
Como noite entranhada no meu sentir
Na escuridão lavrei mágoas orvalhadas
Pelas tristes lágrimas que deixei cair
Voltei tão só para a casa dos meus passos
Abri os braços aconcheguei sentida emoção
Na palma da mão deixei consentir
Palco húmido dos olhos baços
Choro enternecido meiga ingratidão
Tenho a vida por companheira
Que posso mais querer dessa ilusão
Tenho a noite toda inteira
Para a abraçar a solidão

musa

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

AMAR ASSIM (... ao Joaquim...)

Certos instantes trazem-te até mim
Poucas palavras têm no seu sentido
Recomeçar a partir do fim
De um beijo perdido
Assim

Não haver dentro de ti
Lugar para amar
Sentir o que senti
Por te beijar
Perdidamente
Assim

A vida é cruel existência
Ingrata sentidamente
Magnânima essência
Que não consente
Amor maior
Assim

Sensação de afundamento
De não devir nem existir
Eloquente descontentamento
Por dentro a persistir
Beijo ou sentimento
Pensamento
Assim

Por um beijo calado
Trilhos de lábios por decifrar
Apenas o instante ousado
Do beijo que nunca foi dado
Em sufocado amar
Assim

Liberto o beijo aprisionado
Da boca que não beijei
Doce sofrido alento
Do beijo que não dei
Tenho o sabor guardado
E digo-te a tempo
Em profundo desalento
Há-de existir um beijo por dar
Bem no fundo bem adentro
Quando alguém não consentir
Beijar ou amar

musa

terça-feira, 13 de agosto de 2013

CAÇADOR DE MADRUGADAS


A manhã ainda áurea de neblina
O mar quieto de azul por pintar
De vagas brancas espuma fina
As ondas nos teus olhos a bailar

Caçador de madrugadas em verso
Nas areias rasto de conchas partidas
Uma via láctea pelo chão universo
Na praia o sal e a maresia perdidas

Orla humedecida de silêncio e marulhar
A madrugada despertada em passos
Sentidos à caça dos segredos do mar

Solitude salitre da manhã que nasce luz
Ainda envergonhada nos teus doces abraços
Presa a essa madrugada que olhar seduz

musa

OBLIQUA SALIÊNCIA


Ilude-se olhar vestido de tarde poente
Inquieto bramir das folhas pardacentas
Obliquas saliências em crepúsculo quente
Tonalidades tingidas de cores magentas

Funde-se céu e mar e o dia despido de claridade
Escurece a tarde em pardo gozo enevoado e frio
Há nos brandos sentidos da dor nascida frialdade
A tarde se tece em profundo silêncio sombrio

Quando em mim tudo se termina sem nunca ter começado
Desperta amanhecida ainda inominada dentro do meu peito
Há um sol poente nascido húmido morno ensanguentado

Parto que o olhar em oblíquo sentir saliente ilusão
Derrama escura luz no mar e terra estranho leito
Que noite e dia enternecem de dolente solidão

musa

AUSÊNCIAS

Onde estás que te não sinto
Quando as minhas mãos são meu sentir
Quando meu olhar parece fingir
Esta ausência dor consinto

Demoro saudade desassossego
Deixo-me em inquieta rendição
Entrego-me a insolente medo
Que me atormenta o coração

Onde estás ainda agora
Vieste atormentar sentido
Pensado nessa doce demora
Tão na alma bravio castigo
Tão na pele rosada em flor
Tão no sentir florida dor
Sem tempo sem hora

São essas ausências lume
Fogueira da caixa de Pandora
Queimando-me corpo chama
Há-de haver fogo ciúme
Ardendo a luz que derrama
Tanto intrépido sentir ardente
Tecido ausente trama
Que ilusão consente
Medo inquietude
Afogueado torpor
Ah… esta louca solitude
Que ausente traz a dor

musa

sábado, 10 de agosto de 2013

Desejo Torpe... poema de Joao... voz musa


ao teu poema sentir...

ESTA TARDE OFERECERAM-ME UM POEMA

E era toda a luz da cidade esperando por mim
Nuances estivais entre o laranja e o carmim
Descia a rua dos Clérigos com asas nos pés
Ouvia a algazarra das gaivotas nos convés
Como se as ruas fossem ali marés
Entranhava-me nas pedras do chão
Arrastava correntes de ilusão
Fazia-me Fénix no calor do dia
Escrevia de olhar a poesia
O que pensava e não vivia
E era assim depois do poema
As palavras e a fantasia
A tarde tão serena
No teu olhar

Deste-me a mão o beijo e a poesia
E a cidade escreveu-se de sentimentos
Deste-me os sentidos que ainda escondes em ti
No teu sentir brilhava a mais complacente euforia
Deixavas esvoaçar nas asas das gaivotas pensamentos
E nunca em toda a minha vida eu senti
A alegria de escrever o que vivi
Como se o mundo fosse um único dia
Como se a tarde fosse um único poema
Como se a vida fosse essa certeza
No teu olhar havia encanto e beleza
Deste-me em palavras vontade de sonhar
Sorrias e dizias como és tão doce menina bonita
E por favor aceita e em mim acredita
Fiz-te um poema com vontade de te amar
Escrevi-te o que ando a desejar

musa

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

MULHERES DE AMOR


São feitas de sentidos carnais
As mãos tocam as palavras de sentir
Nos olhos mordem o sangue dos metais
Com que outros sentidos possam fundir
O que na alma e coração esgrimam de punhais
O amor que tantas vezes as vem destruir

Mulheres de amor com sentimentos escamas
Pele mordida de afagos sem beijos
Por dentro histórias mal vividas tramas
Largam a pele por um punhado de desejos
E são perdidas na lama dos amores
Em proibidas lápides desterradas
Rastejam angústias lágrimas e dores
Por tanto sentir de tão mal amadas

Mulheres de amor em desassossego
Amam até à morte sem vida
Amarram ilusões alegrias e o medo
Em asas cortadas de voos despedaçados
Têm nas mãos a liberdade fugida
De tantos e todos os amores contrariados
Com que urdem a fantasia vivida
De orações e pecados
Na alma tecida
De amor
Dor
musa

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

AO TEU LOUCO QUERER

Chamas-me tua pequena divindade
Em cada instante que adoras o meu ser
Arrebatas em súplica sensualidade
Toda a minha pele feita prazer
Ao teu louco querer
E dizes-me

“Amantes são os que amam
Não sei se te vou amar
Sei que te quero loucamente
Sei que te posso dar momentos
de cumplicidade e companheirismo
e sei que podemos fazer um caminho
caminhando…”

Assim ficam os meus olhos suplicando
Na boca teu altar acendidos beijos
Doces cirios húmidos cintilando
Profundos e sentidos desejos
As mãos trémulas se dando
Iluminados acesos
Os teus meus lábios se beijando
De todos os instantes presos
De caricias sensuais
Malicias carnais
A acontecer

Entre nós já não existe somente prazer
E sim toda essa estranha cumplicidade
Que fundidos nos deixamos ser e ter
Em corpo e alma louca liberdade
Arrebatado intenso tesão
Amamos de irrequieta paixão
Desassossegados medos
Cúmplices segredos
Partilhados
Divina aos teus olhos provocados
Fazes-me emudecer de tanta vontade
Acendida na tua boca divindade
Adoras-me em oração
Sem pecados
Amas-me na ilusão
Dos beijos dados
Louco tesão

musa

domingo, 4 de agosto de 2013

À MORTE DE MINHA MÃE . R.I.P. Sra. D. Emília Magalhães

Para a Sofia
“Mãe tu nunca nos irás abandonar, hoje partiste fisicamente mas estarás connosco para todo o sempre, ate que nos voltemos a encontrar. Serás sempre o meu grande amor o amor de uma vida.
Amo te muito minha Mãe”

À MORTE DA MINHA MÃE

Hoje morreu uma mãe amiga
Uma mãe doce ternurenta
Deixou de dor esta vida
Um rio de tristeza magenta
Sob um sol ardente
As cores vestiram o negro
E negro foi o sol poente
Que a tarde escureceu
De sentido pranto
E tanto medo
Que olhar ensandeceu
Em lágrimas loucura
Fendendo coração despedaçado
Essa mãe de bondade e ternura
Abandonou o ser cansado
O dia tórrido estival
Escureceu de dor
Aumentou de amor
Intensa descomunal
De raiva ferido
Num choro prisioneiro
Profundo convulsivo
Rende-se o sentido
Ao vil cativeiro
E faz-me pensar
Ausente de minha mãe
Dou por mim a chorar
Essa dor também
musa

sábado, 3 de agosto de 2013

DIZ-LHE

DIZ-LHE

Diz-lhe que o amo
Como nunca amei ninguém
Diz-lhe que o quero
Como nunca quis ninguém
Diz-lhe que o sinto
Como nunca senti ninguém

Por dentro consinto
Esta dor de não ter
O vazio das mãos
Esta dor de perder
Como a areia em grãos
Das mãos a escorrer
Apertada até sangrar
A dor quase ferida
No peito a soluçar
Dorida e vencida
Crua a apunhalar
As palavras por dizer
Que não posso esquecer
Todo o amor de prazer

Diz-lhe como me falta o seu olhar
O carinho das suas mãos calorosas
O sorriso dos seus olhos a cintilar
Impregnando-o de violetas e de rosas
O aroma da minha pele a se infiltrar
Nos lábios beijados de nariz apertado
E ele a respirar todo o meu desejo
E na sua boca todo o meu beijo
E no meu corpo o sentir provocado
Todos os sentidos em excitação
Sorvidas línguas em doce bailado
Beijos de desejos e de paixão
Na boca carmim
Dócil pecado

Diz-lhe por mim
Diz-lhe para voltar
Diz-lhe para ser

Este grito sem fim
Na pele a estalar
No olhar a morrer
Esta vontade de dizer
Volta vem para mim
Não te quero perder
Não a ti
Não assim…
musa

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

POEMA AMIGO

POEMA AMIGO

Queria fazer-te um poema
Por todas as horas que demos as mãos
Por todos os instantes de olhares trocados
Por todos os silêncios enamorados
Por todos esses sentires vãos
Por todos os dias vividos
Queria fazer um poema
Com versos esquecidos
Em poesia exultação
No tempo perdidos
De uma antiga paixão

E na amalgama desiludida
Das palavras feitas amizade
A desilusão da vida
A trazer infelicidade

Queria fazer-te um poema
Desse amor de pele e prazer
Desse sentir e render
Desse apetecer sem fim
Que eu não consigo esquecer
E morre dentro de mim

Há nos versos sublimados o poema amigo
O queixume de todos os sentimentos
O abraço que tanto foi o meu abrigo
O olhar onde repousei os pensamentos
Tantos os contentamentos que vivi contigo

Conhecer-te foi viver dolente perigo
De um encantamento surpreendido
Foi grande e intenso o castigo
O pecado jamais absolvido

Queria fazer um poema de um sentir profundo
Que arrebatasse a ilusão de te ter perdido
Queria não mais ser deste mundo
Que não mais pudesse ter-te no sentido
E morrer dessa perda tão pesada
Que a vida serena deixa ter
Consentido esse amor vencido
Agora é tanto que se faz nada
Agora é tudo o que não sei viver
E das noites resta a alvorada
Que nunca mais vou escrever

Morreram em mim as palavras sentidas
Que as não sinto nem mais quero pensar
Há-as por dentro de mim proibidas
Feitas de lágrimas por chorar

musa