sábado, 27 de julho de 2013

O ÚLTIMO POEMA DO MEU SENTIR

... a rosa guarda o perfume de uma noite de Verão... o poema guarda a cumplicidade de um sentir apaixonado...

Faz frio no entardecer dos meus cabelos
Um sol parece morrer por entre as mechas
Há na penumbra escondida tristes desvelos
Uma angústia desmedida escorre nas brechas

Do meu peito aceso de fogos humedecidos
Ainda a murmurar a lembrança dos teus dedos
Há adentro um leito de incendiados sentidos
Escorrem lágrimas a esconder meus segredos

Fendida pela mágoa restam palavras de dor
Que o tempo apagará do meu incauto sentir
Rasgada em duas sobram poemas de amor

O último poema do meu sentir assim deixado
Pelo tanto que dentro de mim pude permitir
Deixaria sentir em mim este amor fechado

musa

sexta-feira, 26 de julho de 2013

POEMA INCOMPLETO DAS PALAVRAS

sobram palavras entre nós
meus olhos bebem do sal dos teus olhos
palavras que fervilham no segredo da emoção
fundem-se no olhar da doce voz
que cala bem fundo a dor do coração
as palavras não consigo encontrá-las
onde as deixei estando contigo
não sei se algum dia conseguirei achá-las
onde em que lugar no teu abrigo
nos abraços de palavras em colo e beijo
escrevemos com a pressa de viver
deixamos vencer-nos o desejo
mas amor não é só prazer

estende o braço e toca a loucura
vai com o teu dedo onde há um grito ânsia
um vaivém de prazer que perdura
até à ultima instancia

estende o olhar e toca o sangue a ferver
respira-me no veneno de piras selvagens
a arder húmidos cantos libertinagens
estalados os poros a ensandecer
pela cruel distancia

bebe dos lábios gretados a fragrância
com um travo de medo gélido e frio
no canto da boca a endoidecer
uma gota de extravagancia
um riso metálico sombrio
do que restou prazer
na tua mão o rio
abundância

nada resta das palavras silenciadas
as mesmas espartilhadas
do poema incompleto das palavras
do medo tido em fímbrias coloridas
a raiar a escuridão de fogo e mágoas
um só sentido nas mais sentidas

do que resta das palavras do silêncio
nada direi que já não saibas
são poucas as aberturas onde caibas
para te entranhares todo por dentro

quero as palavras mas não te quero a ti
de todo este silente sentir já desisti
não te quero mais na minha vida
não quero nada dessa lembrança
nem a mais vaga esperança
do havemos de saber
porque sem ti não há viver
porque sem ti  há padecer
e viva cansada e triste em luto lento
que de amor possa eu morrer
melhor será enterrar-me em desalento
e de poesia renascer

musa

terça-feira, 23 de julho de 2013

DUETO COM SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDERSEN

DUETO COM SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDERSEN

... e não me canso de ler...

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma
Sophia de Mello Breyner Andresen

... e na cama em que se deitam nuas
há mulheres que se fazem vagas
fazem do corpo quartos de luas
cortam o tempo como adagas
há mulheres como água pura
embebedando de doce loucura
corpo e alma dos sentidos
e pelo mar vazado do seu olhar
fazem dos dias vagos abrigos
onde homens e poesia vêm repousar
enfeitiçados de ternos castigos...
...

musa

sábado, 20 de julho de 2013

ONDE OS POETAS MORREM PRIMEIRO

ONDE OS POETAS MORREM PRIMEIRO

Onde se afundam de sentidos
Os poetas morrem de palavras
Onde se enterram perdidos
Os poetas vivem de mágoas
Em sentir naufragam dor
Os poetas vivem tristeza
Amam tristes o amor
Poemas de uma crueza
Que lhes sobra amargor
Rasgam-se na incerteza
De uma vida angustiada
Há poemas de tal aspereza
Que das palavras não sobra nada
Onde morrem os poetas de aflição
Julgam-se um vadio adamastor
Errando em versos de solidão
No poema destruidor
De todo seu sentir sem razão
Uma morte assim apetecida
Quase uma intensa paixão
Mais sublime do que a vida
A morte a apetecer
Onde os poetas morrem primeiro
Antes morrer do que viver
Chorar o poema companheiro
De toda uma existência fingida
Profundo estranho inteiro
Esse sentir missiva
Que os poetas levam do mundo
Quantas vezes num só verso
Esse sentir profundo
Que não cabe no universo
Que da vida na morte inverso
Se entranha corpo e alma bem fundo

musa

sexta-feira, 19 de julho de 2013

POEMA DO SILÊNCIO

Porque teima em sentir
Este corpo que me tem
Esta amargura que me vem
Este inquietante existir
Que não é de ninguém

Fere por dentro sangra
Abranda sentir em demasia
Silêncio fendido
Dos sentidos arranca
A mais triste poesia
O ser ferido

Borbulha no sangue silenciado
Sentença de alma quietude
O sentir despedaçado
Do corpo todo amargura
Em fusão de loucura
Silente solicitude
Essa do poema
Feito sangue

E não há nada que abrande
A dor em movimento
Incauto sofrer
Que alaga expande
Sentimento
Dor prazer
Sofrida

Corpo e alma sentida
No mais dorido abandono
Corpo e alma sem dono
Negrume silencioso da vida
E o rasgo ofendendo o ser
E o silêncio a transparecer
E as palavras com dor
E a vontade de morrer
E este silente viver
Que ninguém entende
Ninguém consente
Nem de mim aprende
Toda a solidão do mundo
E agora choro
As lágrimas sim
Os olhos molhados dentro de mim
Silêncio e dor que sente
Este consentir profundo
O eu dividido
O ser ofendido
O eu sentido
Pelo silêncio
Hediondo

musa

POEMA PARA A PEQUENINA MARIA

Tens os olhos luas vestidas de azul
Doces curiosos grandes afáveis
Como estrelas apontando ao sul
Rotas de destinos inimagináveis
Dando-te asas de mariposa
A pele leitosa rechonchuda bebé
Teu corpo doçura cheira a rosa
Teus murmúrios risos indecifráveis
És irrequieta como as ondas da maré
Com teus passitos trémulos frágeis
Teus movimentos traquinas ágeis
Sempre questionando quem é
És a doçura de um primeiro ano
De um amor imenso tamanho
Que não há outro no mundo
Com os teus deliciados ais
Um querer intenso profundo
De sentimentos tais
De sentires nunca iguais
De um amor que jamais
Desenraizará do fundo
Do coração dos teus pais

musa

quarta-feira, 17 de julho de 2013

PARA UM CISNE - Cisne Negro Pas de Deux


Na graciosidade
No sentir
Esvoaçante borboleta
Na sensualidade
No permitir
Esbelta forma da silhueta
Esplendorosa bailarina
Esmera-se na dança
Ballet da dançarina
Sintonia aliança
Salto impressionante
Cabriole excitante
Salto echappé
Eleva-se do chão
Leve delirante
Corta a emoção
Separa-se do pé
Suspensa sedução
Entrechat movimento
Pés cruzados no ar
Rodopia em suspensão
Qual brisa do vento
Assim a dançar
Em gran getés a flutuar
Quase pára o coração
Levemente o pas de chat entrelaçado
Traz a ilusão dos telhados
Vibra todo corpo arqueado
Nos pés contorcidos joelhos dobrados virados
A loucura da dança em pontas de pés
Sublimação do tour en l’air saltitante
Num ballet emocionante
Como as ondas nas marés
Há um mar dançante
Ofegante
Exuberante
Fulgurante
Nas asas do cisne a bailar
Em leveza elegante
Parece voar a dançar

musa

quarta-feira, 10 de julho de 2013

PALCO DAS ROSAS

       as rosas da Alice Queiroz

Fenecem as rosas a cada ida tua
Neste desassossego estranho
Como se de pétalas fosse a lua
Gravada no meu peito estanho

Na negra escuridão dos meus sentidos
Rosas esmaecidas secretas guardadas
A cada ida tua ficam os olhos perdidos
Tombam no firmamento pétalas de nadas

E é tão pouco o que me dás assim florido
Palco de rosas fazes do meu corpo roseiral
Desfolhas pétala a pétala o meu sentido

No olhar perfumas caule e folha em seda crua
A pele beijada na tua boca tão carnal
Quando me colhes flor orvalhada leda e nua

musa

terça-feira, 9 de julho de 2013

Dueto com ANTERO DE QUENTAL - CONTEMPLAÇÃO


CONTEMPLAÇÃO

Sonho de olhos abertos, caminhando
Não entre as formas já e as aparências,
Mas vendo a face imóvel das essências,
Entre ideias e espíritos pairando...

Que é o mundo ante mim? fumo ondeando,
Visões sem ser, fragmentos de existências...
Uma névoa de enganos e impotências
Sobre vácuo insondável rastejando...

E d'entre a névoa e a sombra universais
Só me chega um murmúrio, feito de ais...
É a queixa, o profundíssimo gemido

Das coisas, que procuram cegamente
Na sua noite e dolorosamente
Outra luz, outro fim só persentido...

Antero de Quental, in "Sonetos"

CONTEMPLAÇÃO

Sonho de olhos fechados de espera amando
Não com as mãos vazias de formas transparências
No olhar vendo a face azulada das hortênsias
Lá na bruma quebrada das ilhas pairando…

Que mundo trouxeste dentro de mim? A névoa evaporando,
Visões térreas sem o ser, fragmentos de mar essências…
Em odores de palavras e prazer no olhar luminescências
A luz da ilha afortunada se quebrando…

E dentre a bruma e o sonho e o universo
Trago-te de encanto onde te possa sentir
Mais do que o pranto a palavra o verso

Mais do que o poema em névoa contemplação
E assim de sonhos e poesia possa consentir
Amo ANTERO DE QUENTAL de paixão
musa

sexta-feira, 5 de julho de 2013

QUANDO SE AMA - Elisa Rodrigues (com Júlio Resende) - You don't know what love is


QUANDO SE AMA

TU
quando se ama?
como se sabe quando se ama?
como se sabe que não é outra coisa?
o teu conceito de amor é igual ao meu?
querer estar com é amor?
ter saudades de é amor?

EU
deve ser...

TU
deve ser... também não sabes?

Quando se ama tem-se um mundo dentro do olhar.
Amo-te porque preciso de pontuar as palavras que te digo, e quando te amo sei que há um ponto final na voz que por ti clama e proclama o mundo em palavras para ti…
Quando se ama a voz arrasta as reticências na luminosidade dos olhos cheios de amor e nesse clarão de felicidade soltam-se as tais palavras que nos dizem: os teus olhos brilham tanto… por que será…
Há luz e um infindável sentir escorrendo um manto de estrelas na cauda perfumada das palavras como se fossem beijos dados na emoção dos lábios derretidos como cera ardendo a chama da paixão.
E nos sinais de pontuação soltam-se borboletas rodopiando a pele de trémulas caricias em redor desse olhar luzindo poesia em pensamentos.
Quando se ama as palavras tomam corpo e na forma da alma incendeiam-se sentidos emoldurando de labaredas mescla emocional em dor, alegria, tristeza, pranto, euforia e sintonia carnal em pauta de sussurros permeando a pele da alma na utopia serenidade da ilusão.
Amor tem cavalos puxando as mãos e dos olhos em rédea solta se conduzem loucura e sonho na fogueira acesa do peito a trote sentimental.
Quando se ama não é nada disto. Amor não precisa de palavras. Amo-te porque o silêncio se aninha onde mais grita vontade e desejo de fundir no sangue a dureza do verbo e aplacar excitação ritmada da palpitante dança dos afetos no terreiro da alma escancarada ao amor.
Quando se ama é tudo isto. O amor exulta-se de declamações melodiosas encavalitadas em metáforas na esperança ardente de subir escadas dos sentidos e chegar onde o fogo arde sem ver. O amor compromete-se entrelinhas e nas reticências e nas palavras inventadas para assim o explicar sem precisar de explicações o amor vinga pelo sentir excitado e confuso, baralhado e angustiante, o amor serve as nobres causas do sentir e habita poros e cavidades, em fricção e cisalhamento o amor é sensação e paladar, é busca de alimento e sacia fome e sede.
Não sei o que é o amor. Mas tenho vontade de te amar.

musa

quinta-feira, 4 de julho de 2013

CIDADE ENTRE... para ti...

      (obrigada pela foto...)

Entre duas margens entre dois mundos
Escorrem sentidos em doce claridade
Há olhares cúmplices ousados profundos
Águas vertidas por entre dedos em sensualidade
E das bocas perdidas há entre olhares chamas acesas de paixão
Entre duas margens se deixares… há a doce sedução
Um sol a nascer morrendo na foz da cidade
Há entre nós um abraço um beijo e todo o desejo
E nas palavras há o tempo da ilusão
A marcar caminhos em sentir poente
Como um sol a deitar-se por entre margens
A tarde esfriada dolente da cidade em mim
Há nos dedos das mãos um beijo meigo quente
Por dentro do olhar luz em tatuagens
E muitos segredos por desvendar
Que o pensamento vê e sente
E deixa sonhar
E deixa de ter fim
O que mais ninguém lê assim

musa

quarta-feira, 3 de julho de 2013

CONFISSÃO A UM AMOR ANTIGO - quem me dera que estivesses aqui


CONFISSÃO A UM AMOR ANTIGO

Arrumo- me com o silêncio das lembranças... quero ficar bonita para o passado.
As memórias floriram sobre telhados vermelhos do burgo antigo como claraboias envidraçadas deixando passar a luz a uma escuridão adormecida e trouxeram versos emudecidos e aromas de violetas e rosas e melodias sangradas em palpitante serenata ao toque dos passos dos gatos errando pelas telhas em luzidia cumplicidade e ilusão.
Aprendi… a única certeza do que tenho são as palavras, as que sinto e as que já vivi. Tudo o resto é a pontuação que não uso.
A emoção sentida trouxe muitos instantes de choro e sonho e a fantasia repetida das histórias infantis na solidão de uma noite de leitura num enamoramento magico ao luar.
E sabes… das minhas lágrimas o tempo mata a sede de campos de palavras em humedecidas searas que dão o pão do sentir.
Tenho no pensamento um amor antigo que me dá o sustento do que escrevo e deixo em sementeira de poesia sentimental terra lavrada em sulcos de sentimento. O chão dos meus sentidos é agora grata recordação de uma primavera a acontecer.
Conheci alguém que despertou um tempo novo.
Não sei dizer de outras estações que já aconteceram nem predizer o que possa vir a acontecer nesta vagabundagem de prosa poética sobre a sensual vontade de viver cada hora no que os teus olhos calam em mim e quando me mostras que há o desejo a florir no vértice ternurento da tua boca proferindo palavras em silêncio absoluto que eu oiço perfumando o palato temperamental desse sentir a esmaecer o passado que agora renasce nos teus beijos e deixa doce sabor a vida. E sabes que eu estou viva e vivo em ti.
Obrigada por existires.

musa

segunda-feira, 1 de julho de 2013

DEDOS DESEJOS

as tuas mãos excitam-me
com esse azul firmamento
na ponta dos dedos
olhos de águia fitam-me
em desejo deslumbramento
escondendo segredos

em penhascos floridos
veias relevos
sulcos azulados
dedos perdidos
beijos dados
ponta a ponta
na palma da mão
provocando gemidos
doce afronta
doido tesão

azul excitação
unhas pintadas
mãos pequenas
louca sedução
mãos serenas
linha do coração
doce dizer
como quem ousa morder
dedos com dentes
doçura sem fim
mordes com prazer
até te renderes
e me surpreenderes
ao que por mim
sentes
...

musa