quarta-feira, 3 de abril de 2013

ÁGUAS DO SILÊNCIO


Ao Antonio,

Um dia falaste-me do silêncio com todas as coisas boas que havia para partilharmos, fizeste-me descobrir os sons abafados da respiração perto do umbral dos teus sentidos, e passei ao teu lado teias de sombras tricotadas de luz cintilando no sentir do teu carinho, como se fossem rosetas trabalhadas no vidro de mil cores tecidas de gestos soprados nas areias do pensamento e entre nós a arte silente de uma telepatia por descobrir. Sabes que nesses momentos há obreiros da ilusão construindo sonhos com asas para que um dia sejamos livres de voar nos sentimentos.
Aprendi contigo a ler nas sombras as vontades ocultas do verbo moldado no teu olhar mudo, e na quietude inconstante dos parágrafos repletos de reticências ensinaste-me a procurar a serenidade perpétua das entrelinhas manchadas de hesitações sem que me fizesse nua uma só vez na crueza das palavras alimentadas pela ilusão.
O tempo passa mas tu ficas com esse silêncio carregado atrás de mim esperando… e dizes-me tantas e tantas vezes, saberás tu esperar, saberei eu esperar-te, até que ganhes umas asas e eu perca as minhas e no teu abraço aberto de todas essas penas os dois sintamos a sublimação da espera traduzida de versos e emoções trancadas em sentimental viver.
Tenho saudades do rio que fazias do meu corpo frio sobre as pedras dos teus sonhos em nudez emotiva de águas de loucura escorrendo das tuas mãos.
Há tantos eternos sentidos enternecidos nas nossas palavras que não são minhas nem tuas e do silente sofrer que deixamos na escrita feita das nossas peles embebecidas de suor e saliva lavramos o tempo que nos faz amanhecido de madrugadas e noites em solitária memória e na distância das mãos apartadas pela vida.
musa

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